quinta-feira, 19 de julho de 2012

ENSAIO 06/2012

Cidade Mãe

Tenho uma hipótese de que tudo o que somos na vida, pelo resto dela, até a morte biológica, foi configurado na gestação e primeiros cinco anos de existência. Estes primeiros cinco anos plasmam um núcleo afetivo profundo, uma barisfera afeto-volitiva que permanecerá daí por diante sem muita mudança, a menos que entrem fatores exógenos para alterar isto. Por cima desta barisfera afetiva construimos nossa cognição, nossa intelecção, que será para sempre condicionada por ela. Podemos aprender xadrez ou karatê, inglês ou técnicas de construção civil (pedreiro), podemos até mesmo esquecer estas informações, desaprendê-las mas nossos desejos e temores mantêm-se inalterados como uma rocha submersa num lago  sob ondas cognitivas cambiantes. Todo conteúdo intelectivo é móvel, fugaz até. Uma pancada na cabeça e podemos perder anos de memórias. Nossas emoções são mais permanentes e em última análise são elas que definem nosso caráter, que moldam nossa moralidade. Que é a honestidade senão o amor  a verdade e o ódio a mentira numa escalaridade proporcional ao que é mais importante para nós,  ou  o mundo de pessoas ou o mundo de coisas? O que sentimos e o que gostamos é o que define o que somos, não  o que sabemos. Satanás sabe a Bíblia de cor e salteado.

Sherlock Holmes numa de suas investigações deduziu que uma certa família suspeita de ílicitos era pacata e serena por causa de seu cachorro de raça, que embora fosse de uma raça dada a agressividade era dócil como um cordeiro. Daí ele (com outros índicios evidentemente) buscou a solução em outra direção.  O afetos e volições são o que mais contam.

Há pessoas que passaram a infância na zona rural e outras na urbana. Isto inapelavelmente deixará traços. Tenho um amigo, cujos país são de origem rural, que gosta de zombar dos caipiras assim : -"Ele saiu do mato mas o mato não saiu dele".

Tive uma peculiar criação dos 0 aos 5 anos, a fase primordial da formação afetiva. Não passei este período nem no campo nem na cidade (plenamente). Foi viajando de cidade em cidade com paradas no máximo mensais.Vi então muitas cidades grandes. Mas depois com cinco anos estacionei definitivamente numa cidade pequena. Vim de uma cidade pequena e esta foi minha vida. Mas vislumbrei na primeira infância, de soslaio, grandes cidades que ficaram apenas na memória, acopladas com lembranças dos primeiros e ternos cuidados paternos. Então ficou gravado em mim o protótipo ou arquétipo de um lugar paradisíaco de idílio: Uma metrópole com luzes de néon, letreiros coloridos, gigantescas caixas  habitáveis que emitem luzes. Isto é uma particularidade minha, uma singularidade que aconteceu comigo e não espero ser compreendido nem generalizar. Ainda mais quando sabemos do alto índice de criminalidade e desmoralização nas grandes cidades. É claro que um cidadão metropolitano provavelmente irá  rir disto que eu estou escrevendo, mas lembre-se que um caipira ou mais ainda um índio se rirá do anelo citadino pela "volta à natureza", pela "restauração do paraíso", do mito do bom selvagem de Rousseau, do anseio pela  regressão uterina à Mamãezona Gaia. Tudo bobagem também.

O Paraíso espiritual não pode ser um jardin ecológico e nem uma estação espacial com paralelepípedos de plásticos habitáveis. Estes dois extremos são os limites da nossa imaginação que é formada por imagens, os fantasmas dos escolásticos, que vindos da objetividade, da corporalidade, não podem descrever um mundo de substâncias intelectuais, inespaciais, intemporais, não dimensionáveis, não quantificáveis nem mensuráveis. Então não ria do meu paraíso como uma cidade de luzes. Para que você medite sobre isso  veja só isto:
 No fim do túneo de luz final não haverá nem um jardin nem um bairro de prédios... são só simbólos para nossa mente limitada.

É o Céu? Não é Dubai.
Bespin

Já fui Testemunha de Jeová e aprendi com elas  uma visão do cristianismo (não compartilho mais) com dois escalões, duas ordens de cristãos. (O negócio é complicado e falso mas se você quiser saber mais veja aqui) Segundo Elas haverá uma grande multidão que ulteriormente ao Juízo Final (para elas Armagedon) morará em um paraíso para sempre.
Jerusalém de Cima
Elas tinham até mesmo um livro cujo título era "Poderá Viver Para Sempre no Paraíso na Terra". É uma mistura de Avatar com Adventistas. Os teólogos das T.Js jamais consideraram a possibilidade de a Terra torrar quando o sol virar uma gigante vermelha. Embora seja o que a propria Bíblia diz.(2Pedro 3:10). Segundo elas então, a humanidade criará um grande jardin terreal por todo o globo e viverá eternamente feliz. Mas há um outro grupo que não morará no paraíso. Segundo o entendimento das TJs um grupo de 144.000 cristãos e só esse tanto, irá morar no Céu. Na Jerusalém Celestial para governarem de lá a Terra restaurada.  Minha expectativa espiritual, como membro da grande multidão  era morar nesta "Pandora" pós-Armagedon aqui embaixo, mas me chamava a atenção a capital deste reino paradísiaco que desde o céu governaria a Terra. Nas ilustrações das publicações das TJs, especialmente no livro Revelação (ou Apocalipse) Seu Gradioso Clímax está Próximo  a Nova Jerusalém é apresentada como uma, advinhem... metrópole moderna! Sim é só prestar atenção, no cubo que o livro de Apocalipse expõe como a Cidade Santa. Lá dentro envolto pela redoma de cristal cúbica, os artistas dos jeovistas colocaram prédios de uma metrópole. E retorna a oposição campo-cidade.
Metropólis de Fritz Lang
Eu não sei com que intensão eles fizeram isto, se foi consciente ou não, ou se foi a imposição mesmo das descrições da Jerusalém Celestial no livro de Apocalipse(Apo 21: 9-27) mas a gravura dela, nos livros russelitas, se parece muito com algo de Ficção Científica  e lembra a teoria de que a Nova Cidade que desce dos céus seja um OVNI. Infelizmente não consegui achar na internet a gravura jeovista da Nova Jerusalem mas você pode conferir no livro citado e comprovar a semelhança da cidade com uma metrópole.

Se você pesquisar na internet poderá achar vários estudos sobre a Nova Jerusalém que desce dos Céus como noiva adornada para o Cordeiro. O curioso é a tendência do ilustradores de metropolizar a Cidade Santa. É curioso também a tendência ao  afastamento do Éden bucólico paradisíaco. Não entremos nos méritos da questão, só gostaria de frizar a oposição campo-cidade, natural-artificial. E a possibilidade de lugares finais com as duas características...


...bonito vídeo. Não era meu objetivo aqui me aprofundar na Jerusalém Celestial, mas o tema é literal e figurativamente arrebatador...


...magnífica, observe que a Nova Jerusalém é uma cidade moderna...

...veja também a futurística Cidade nas Nuvens de Bespin....


A Ficção criou muitas cidades: Atlântida, Eldorado, KRISHNAIAUAIA ou Cidade de Luz, Metropólis do Lang, etc.  Mas ninguém exagerou mais do que George Lucas que criou uma cidade que cobre toda a superfície de um planeta. O conceito de megalópole para ela é pouco. O planeta-cidade é Corruscant a capital do Império Galáctico.

Para ter uma idéia do que seria morar numa coisa desta magnitude veja este estudo aqui : Morar imaginariamente em Corruscant e ...




O mundo biológico orgânico é diferente das zonas urbanas onde a única coisa viva, pelo menos em escala macroscópica é o homem. Numa cidade tudo é morto. Tudo é artificial. As casas, os veiculos (excetuando-se os de tração animal), os objetos, utensílios em geral. A água e a energia. Somente os alimentos que penetram no perímetro urbano foram vivos, ou de origem animal ou vegetal. No sertão a própria moldura da paisagem é dada pela vegetação. Cachoeiras, morros, árvores, etc, dão a configuração visual deste ambiente. É o mundo vivo, orgânico, natural, a biota cibernética. 99,99% do material de uma cidade é de origem mineral a começar pelo concreto. Somente o combustível é de origem orgânica. Mas já estão dando um jeito nisto. A Nova Jerusalém é feita não de concreto mas de predras preciosas e de ouro.........
Nova Jerusalém ou Cenário de Flash Gordon?



Jerusalém Celestial ou estação espacial?











CONTINUA...

Um comentário:

Marcus Valerio XR disse...

Faltou citar o livro, e filme, NOSSO LAR.
Alguns comentaristas descreveram a retratação cinematográfico como uma mistura de Brasília com Krypton. E eu concordo.

Marcus Valerio XR
xr.pro.br