sexta-feira, 5 de junho de 2015

CACTUS´S FETICHE

Em nossa vida algumas coisas estão presentes desde quase o nosso início e não sabemos, não temos consciência disso. Como um pequeno filete de água que vai se avolumando e virando um córrego, depois um riacho e então um rio, que vai acompanhando nossa insignificante trajetória para os outros e nossa teodiceia pessoal para nós mesmos. Uma dessas coisas que percebi, que estavam agregadas desde o começo que me entendo por gente à minhas constelações psiquícas de preferências, desejos e temores entre inúmeras outras foi minha sútil e crescente atração amorosa pelo objeto vegetal que denominamos Cactus. Sempre gostei de cactos, mas antes eu mesmo, para mim mesmo não sabia disso. Foi então que gradualmente eu comecei a ter consciência de que tinha uma predileção por esta plantinha. Tenho inúmeros cactos plantados e sempre que vejo uma nova espécie recolho mudas para acrescentar a minha coleção. Já viajei alguns quilômetros em busca de uns mandacarus enormes em um local montanhoso e cheio de pedregulhos.(Espero que futuramente eles não me criem problemas com os vizinhos) Tenho mini cactus plantados em jarrinhos que adquiri aqui e ali. Tenho ao lado do computador um jarrinho com um belíssimo exemplar. Mas gostar desse negócio, saber que gostava e então começar a adquirir, incorporar ao meu ambiente pessoal foi um longo processo de adicionamento vital.  Não me importa as razões, os motivos, o porquê de eu gostar desta planta, que indubitavelmente não gosta de mim. Eu gosto porque gosto, assim como gosto de sorvete de chocolate ou erva-mate. Mas posso fazer uma pequena e miniaturizada anamnese de minha relação com o objeto em análise só para dar uma chacoalhada nas conexões neuronais, um brainstormingzinho. 


O próprio ambiente em que a planta vive me atrai. Lugares inóspitos, desabitados, desertificados, secos, rarefeitos em vida. O cactos é um habitante resistente, um sobrevivente, que vive sobre condições adversas. Não sou botânico, nem geólogo, nem nada, mas dedutiva-imaginativamente presumo que estas plantas estejam entre as primeiras no planeta que hora habitamos, que seja muito antiga. Ela aguenta muito sol, muito calor, absorve muita luz, subsiste com pouca água-chuva. Estes tais de Cactáceos desde cedo ativaram meus sensores de imersão no Samsara. Eles não tem folhas, tem espinhos, mas sem deixar de ter belíssimas e raras flores e frutos. (Escrevi algo sobre isto aqui: PITAIA). Agora, agorinha mesmo, neste exato átimo de segundo enquanto escrevo, prazerosamente posso direcionar os olhos e ver alí, logo fora, através da janela transparente de vidro, um cercado, uma estrutura de madeira contendo muitos jarrinhos dependurados ordeiramente que contém muitos cactuzinhos. Não estou em casa, estou na biblioteca.(Estou sem NET) Foi daqui mesmo que adquiri um dos jarrinhos do meu jardim. Ontem à noitinha ao fazer uma circunvolução em volta do sistema do Parque de Exposições Agropecuária de minha cidadela que está ativo e operante nesta época, vi na esquina, do outro lado da rua um bar ao estilo Wester. No cercado que envolve a área do "Saloon" colocaram aquelas velhas portas de folhas duplas (vai-e-vem) e dos dois lados, advinha? Dois colossais mandacarus enfeitando e dando um clima de velho oeste americano... 



Como já disse, não sou geólogo, nem botânico nem nada, mas acho, presumo, infiro que esta criaturinha verde seja mais abundante abaixo do trópico de Câncer e tenha maior incidência acima do trópico de Capricórnio (Cadê os outros signos? rá rá) Embora as grandes florestas tropicais estejam ciliando grandes rios o meu amiguinho vinga mais nos desertos longe de hidrocuidados.  A fórmula da equação é inexorável:


DESERTO = CACTUS

Quebre a primeira parte da equação em múltiplos tipos de desertos, esmigalhe com todo tipo de desolação concebível e do outro lado do sinal de igualdade teremos transmorfoseando-se e acompanhando a equalização uma pléiade de formatos anatômicos de cactus. Uma diversidade de belezas naturais. Desde miúdos e graúdos. 

Esta coisa verde e bela é para ser vista e não tocada, senão teria pelos felpudos como o Floquinho o cão do Cebolinha:

Mas ela foi  uma grande fonte de ajuda nos sertões nordetisnos nacionais. Meu velho pai-paraibano (80 years old) disse que quando menino já chegou a comer xique-xique cozinhado. 


Mas antes de terminar estas inscrições vamos dar um pulo no futuro e depois outro para o passado e então finalizamos no presente.


FUTURO

Como o mandacarú é um ser vivo resistente acho que no caso de terraformação de futuros planetas (e marte primo) as primeiras plantas grandes que talvez devam ser plantadas sejam cactus. Imagine aquelas belas paisagens de cânios marcianos adornadas com nosso fetiche.

 Conforme a equação deserto=cactus, viaje na maionese...
Paisagens marcianas
Hum... alguma coisa tá faltando nestes desertos...

Mas a lua precisa ser terraformada antes... imagine... Cactus lunares. Se bem que... parece que o sol é pouco lá.


PASSADO

Mas esta antiga forma de vida me lembra de algo mais, talvez seja este um dos motivos de ela me atrair, ou eu ser atraído por ela. O motivo é que ela enfeitava algumas das paisagens onde aconteceram feitos memoráveis e emocionalmente convulsionantes. Refiro-me precisamente as regiões onde Deus revelou com mais intensidade a sua personalidade. O Deus abraâmico (judeu-islâmico-cristão), o amigo de Abraão é uma pessoa (pessoa absoluta e não pedaços fragmentados como nós) e ele escolheu se revelar exatamente em regiões desoladas. O meu Senhor é o Deus dos desertos e nos desertos tem cactus e os cactus me lembram dos desertos e os desertos me recordam de meu Amo. O círculo formado pelo raio de ação do Eterno no Temporal, também se torna tipo que perene, imortal e cada objeto que esteve próximo e adjacente ao único "local" onde minha alma irá repousar ( Salmo 61:2) é turbinado como energéticos diluídos na água da vida que brota do trono do Altíssimo. E por isto minha alma clama e anseia tateando como um polvo com seus tentáculos em busca de sua fonte e não conseguindo, por que não sou santo e nem morri, ela importuna e então por isto mesmo os objetos que já tiveram algum tipo de pertinência com o Sujeito supremo, atrai minha alma... Lembra do local em que você conheceu sua esposa/namorada/etc. Por causa dela aquela ambiência adquire uma carga afetiva tremenda. Agora avalie o Amado que fez tua amada! Embora ele tenha tocado o deserto no passado e não agora, os ecos e verberações disto duram até hoje...


E meus sensores, sonares, radares, etc estarão de prontidão vasculhando ou o exterior ou principalmente o interior para qualquer detecção de um sinal seu, até  que a vida santa seja vivida e tudo seja Paz...
Monte Sinai



PRESENTE

Que tal?
Sul de Israel


Cacto mais frequente na minha região de Cerrado onde aqui as pessoas o chamam de Palma.

Outro dia eu falo sobre meu peixinho Beta em seu aquário....

Absolutum


Observação: Eu pessoalmente considero a palavra FETICHE e o que ela designa uma coisa nojenta. Freudianamente doentia, teologicamente pecaminosa, psicologicamente anormal. Um fetiche é como um ídolo, é uma carnalização, ou tentativa disto, de se atingir algo espiritual por meios materiais. Qualquer fetiche é um corte abstrativo e posteriormente recarregado afetivamente de uma parcela que cresce como um cancer tentando englobar o todo. Tem coisa mais asquerosa do que um cara ficar beijando pés? ou outras partes intensificadas e apartadas do todo, ou objetos imantados de afeto total em detrimento da totalidade? Argh... Só usei o título CACTÚS´S FETICHE como um recurso literário extremo para chamar a atenção. Tipo assim, exagerei, mais ou menos como quando alguém diz, sou tarado nisto... "Exagerar é mentir " como dizia Joaquim Manoel de Macedo no Livro nacional a Luneta Mágica.

Um comentário:

Scivolant disse...

A palavra "fetiche" nem sempre teve a conotação sexual. Originalmente queria dizer "artificial, fictício", conforme sua origem latina. Posteriormente, através do francês, significou "feitiço" e era um objeto material ao qual se atribuiam poderes mágicos ou sobrenaturais, positivos ou negativos. Inicialmente este conceito foi usado pelos portugueses para referir-se aos objetos empregados nos cultos religiosos dos negros da África ocidental, só no século XIX é que começou a ter esse sentido sexual.