segunda-feira, 27 de abril de 2015

ANUINDO GOSTOSAMENTE

O Campineiro... chamemo-lo assim. Não chamam Aristóteles de o Estagirita por causa da cidade onde nasceu? E não apelidam São Tomás de Aquino (rogai por nós) de Aquinatense porque sua família era proprietária de uma região neste condado? O Campineiro... chamemo-lo assim então para homenagear este BRASILEIRO cuja busca filosófica assintoticamente vai tangenciando Estagira e Aquino, metaforicamente falando.  O Campineiro chamemo-lo assim... para também evitar de digitar seu nome neste blog e ativar os sensores de drones patrulheiros cujos mecanismos internos impulsionados pela malícia, burrice invencível ou mesmo a loucura possam ser ativados à simples menção de seu nome e venham pertubar uma anônimo inofensivo com enormes basucas e mísseis carregados e abastecidos com toneladas de percolados ou joguem sobre esta pagininha irrisória quilolitros de chorume. Sou apenas um alevino de peixe piloto na cata de migalhas  que posso alcançar por todos os meios que este tubarão intelectual que menciono deixa escapar. Chamemo-lo O Campineiro então... para o homenagear e concomitantemente, covardemente, manter uma certa distância. 

O Campineiro usa muitas expressões de linguagem, fórmulas verbais, figuras e etc. Sem mencionar as expressões latinas e a coprolalia defensiva-punitiva-corretiva mimetizando uma Síndrome de Tourette que em parte já esta esclarecida. É... faz sentido. Uma dessas expressões que detectei é um advérbio de modo que ele gosta de usar associado a verbos que expressam uma anuência, aceitação,  concordância, aquiescência, assentimento, consentimento e etc. A idéia que a expressão passa é a de uma entrega lascíva, se deixar levar pelo prazer. Li muito esta fórmula verbal em seus textos. Então, lendo os textos de um entre alguns de seus gurus que ele mesmo indicou, pude constatar a fonte desta expressão.



Renê Guenon a usava de vez enquando e provavelmente foi com ele que o Campineiro a adquiriu. Sendo este cacoete estilístico um possível indicador do peso de Renê Guenon no seu filosofema. Mas falar ou escrever é uma coisa, pensar, ou melhor, inteligir é outra e talvez eu esteja exagerando, deduzindo da forma a matéria, do continente o conteúdo. Mas só quero compartilhar com você esta curiosidade literária. Esta expressão que o Campineiro usa era muito usada por Renê Guenon.  Advirto. Não estou refutando, nem sequer tocando na filosofia do Campineiro, só recortei um quadradinho, um tijolo do edifício de seu, não digo nem filosofia, mas estilo de escrever e expor as idéias.




Vejamos:


" ...seria muito difícil fazer compreender esta diferença a matemáticos que se imaginam gostosamente que toda sua ciência não é nem deve ser nada mais que uma «construção do espírito humano" (Renê Guenon - Calculo Infinitesimal




"Ciertamente, si la erudición consintiera en atenerse al rango de auxiliar que debe corresponderle normalmente, no encontraríamos nada más que decir a su respecto, puesto que por eso mismo dejaría de ser peligrosa, y puesto que entonces podría tener alguna utilidad;
así pues, en estos límites, reconoceríamos gustosamente su valor relativo. " ( Renê Guenon - Oriente y Ocidente)


"Es curioso constatar cuán rápidamente llegan a extenderse y a imponerse algunas ideas, por poco que respondan, evidentemente, a las tendencias generales de un medio y de una época; ese es el caso de estas ideas de «civilización» y de «progreso», que tantas gentes creen gustosamente universales y necesarias, aunque, en realidad, son de invención completamente reciente, y aunque, hoy día todavía, las tres cuartas partes de la humanidad al menos persisten en ignorarlas o en no tenerlas en cuenta para nada." (idem)



"Así, nós mismo decimos gustosamente que existen «civilizaciones» múltiples y diversas. (idem)



"y los racionalistas actuales lo hacen quizás más gustosamente que sus predecesores" (idem)



"que la humildad se acompaña gustosamente de un cierto género de orgullo..." (Idem)





"Para designar cosas de este género, empleamos gustosamente la palabra «pseudoreligión» " (Idem)


"toman los efectos por las causas, y creen gustosamente que lo que no ven no existe (Idem)

"...porque llevan nombres orientales, se les cree gustosamente
y, como faltan los términos de comparación..." (Idem)

"...y lo haremos tanto más gustosamente cuanto que eso puede ser una excelente ocasión 
para precisar nuestro pensamiento sobre algunos puntos." (Idem).



Foi pela leitura repetida que reconheci no Campineiro  a recorrência mencionada, agora, para facilitar posso usar o mecanismo de busca de seu site e ao digitar GOSTOSAMENTE  aparecerá 25 resultados.  (Não falemos dos livros, palestras e etc.)
Fiquemos só com alguns exemplos:


"...onde o arbítrio de tiranetes reina gostosamente longe de toda fiscalização pública." (A Ditadura Minimalista)


"que, ao falar de seus desafetos ideológicos, não se permita gostosamente aplicar-lhes o tratamento Lenin-Peters" (Veneno Santo).

"Não é de espantar que, longe de fugir das ideologias revolucionárias, essa corrente se deixasse gostosamente contaminar por elas..." (Qual é o problema)

" E fazem isso sem nenhuma unidade doutrinal, antes curtindo gostosamente a nebulosidade e a indefinição cuja fecundidade estratégica e ..." (O Dever que Nos Espera)

E por aí vai:

"Se deixou cair gostosamente..."


"Aderissem gostosamente"


"Por have-la praticado gostosamente"


"...À penetração extrangeira no campo econômico e se abre gostosamente" (Credo).


"E se gaba de ter metido gostosamente o bedelho..."


"...permitem-se gostosamente todas as mentira"


"Pode-se entregar gostosamente a auto-adoração"


"Armando-se de prevenções contra os EUA e abrindo-se gostosamente aos detonadores..."


"...que orientavam a sua economia e entregar-se, gostosamente, às abomináveis delícias do livre mercado."


Acho que já chega, já deu para sacar, não é mesmo? Eu não vejo nada de errado em se deixar gostosamente levar pelo uso de uma expressão de assentimento prazeroso ou mesmo copiar o estilo de Renê Guenon. Não estou julgado ninguém nem a filosofia de ninguém, não sou capaz. Estou apenas registrando gostosamente uma curiosidade que detectei no estilo do mestre. E ele tem razão, ele sempre tem razão...



Mas acho que ele já respondeu diagonalmente este post num texto de 2010, o que o cara fez foi parecido com o que eu fiz com os textos dele embora por outros motivos:


Mea Culpa



Recebi outro dia mais um rosário de queixas contra a minha pessoa e os meus escritos, onde o remetente acreditara encontrar provas inequívocas da minha maldade, prepotência e demoníaca soberba, além de uma infinidade de erros lógicos, factuais, morais e gramaticais que, se comprovados, bastariam para fazer de mim um forte candidato a ministro da Cultura do governo Dilma Roussef.

Como em geral acontece nesse gênero de mensagens, porém, os erros que o sujeito me imputava eram apenas aparências de erro nascidas de uma leitura mal feita, se não de uma percepção estruturalmente deformada, o efeito mais geral e permanente daquilo que no Brasil se chama, por motivos insondáveis, “educação”. Só para dar um exemplo, o cidadão se dera o trabalho de revirar o Google para saber quantas vezes eu repetira tal ou qual termo técnico, expressão latina ou alusão literária e daí concluir, por um salto lógico imensurável, que eu não tinha o direito de acusar os esquerdistas de escreverem todos da mesma maneira, com cacoetes de linguagem que os identificam à distância. Em suma, ele confundia aquele conjunto de cacoetes personalizados, que assinala a presença de um estilo, com a perfeita falta de estilo que se observa na repetição coletiva de cacoetes uniformes. Felizmente, o signatário estava tão brabo comigo que prometia não ler nenhuma resposta que eu lhe enviasse, o que me eximia de tentar destrinchar uma por uma – como se isto fosse possível! -- as suas prodigiosas confusões mentais. Gratíssimo por essa gentileza, contentei-me em enviar-lhe o breve conselho de que parasse de se masturbar diante da minha imagem, e dei o caso por encerrado.

No entanto, depois, refletindo mais longamente, descobri por baixo dos erros aparentes denunciados pela criatura alguns vícios reais da minha escrita, que dão margem a equívocos sem fim quando caem ante os olhos de leitores ineptos ou maliciosos, sem contar os ineptos e maliciosos.

O mais letal desses vícios é cortejar os leitores em geral, e os mais burros em especial, mediante uma falsa impressão de simplicidade e clareza, buscada com as mais lindas intenções didáticas mas que, no fim das contas, induz o primeiro recém-chegado a crer que tudo compreendeu à primeira vista – senão a imaginar que apreendeu o conjunto inteiro do meu pensamento pela leitura de algumas amostras casuais --, e a reagir de pronto mediante alguma opinião fácil, já imunizada no berço contra aquela exigente confrontação de hipóteses que é a única via para se chegar à verdade, tanto na interpretação dos fatos quanto das palavras.

A clareza, dizia Ortega y Gasset, é a cortesia do filósofo. Iludido por essa promessa barata de fazer de mim um tipinho simpático aos olhos do mundo, acabei por esquecer que “cortesia” vem da mesma raiz de “cortejar” e “cortesão”, e que o conselho do grande prosador espanhol ameaçava jogar-me, das alturas espirituais em que eu acreditava mover-me, ao fundo do mais abjeto e imperdoável puxa-saquismo literário: a prática de um estilo tão sedutoramente claro e límpido que faz o leitor imbecil sentir-se inteligente ao ponto de querer puxar discussão comigo antes de ter tido sequer o vago e fugaz impulso de discutir consigo mesmo. Esse efeito é inevitável desde o momento em que se adote aquele estilo, pois a coisa mais impossível para o imbecil é discutir consigo mesmo, em voz baixa, sem o apoio de um interlocutor de carne e osso: defrontado com alguma afirmação que lhe soe estranha ou desconfortável, esse tipo de leitor não resistirá à comichão de impor à força as funções de interlocutor real, e não simplesmente mental, ao infeliz autor daquilo que acaba de ler. É assim que acabo me transformando, para toda uma categoria de leitores – mais numerosa no Brasil do que em qualquer outra parte do mundo --, naquilo que em psicoterapia se chama ego auxiliar, uma boa alma encarregada de completar no mundo físico, para maior clareza, os pensamentos que o paciente, por si, não tem energia bastante para pensar por inteiro nem coragem bastante para admitir que os pensou. Contando comigo para o desempenho desse trabalhoso ofício no seu teatrinho mental, o cidadão me envia então os mais toscos e informes pensamentos semipensados, forçando-me a acabar de pensá-los e a compreendê-lo, portanto, melhor do que ele próprio se compreendeu.

Ao contrário, porém, do que acontece nas psicoterapias propriamente ditas, onde o sujeito sabe que foi lá para que o ajudem a pensar em voz alta, os remetentes dessas deformidades não têm a menor idéia de que estão me pedindo socorro terapêutico. Em vez disso, enviam-me aqueles rabiscos de pensamentos possíveis como se não fossem apenas materiais brutos para uma possível elaboração interior e sim idéias já maduras e firmes, claras e bem definidas, prontas a ser discutidas, provadas ou refutadas. Pior ainda, quanto mais intenso o seu desconforto interior, quanto mais agitada a sua confusão de imagens e sensações, quanto mais aguda a sua impossibilidade de pensar, tanto mais o desgraçado interpreta esses sentimentos como se fossem expressões formais de uma discordância intelectual, e tanto mais ousado e desafiador é o tom em que me escreve. O sentimento que essas mensagens me infundem é de uma comicidade triste, pirandelliana, onde o deslocamento radical entre as palavras ditas e a situação psicológica de onde emergem, ou, dito de outro modo, entre consciência e realidade, raia a loucura pura e simples sem chegar a ser loucura em sentido clínico, detendo-se naquele perigoso meio-termo que é a loucura socialmente legitimada como normalidade.



A culpa, reconheço, é minha. Se eu escrevesse de maneira complicada e obscura, se eu pelo menos me abstivesse de usar certos truques pedagógicos para despertar a intuição no leitor, nem o mais presunçoso dos imbecis julgaria me compreender: todos se recolheriam àquele silêncio humilde que, a longo prazo, pode ser propício a um esforço de meditação. Mas também não posso me acusar além da medida justa. Se infundo nos imbecis uma confusão de sentimentos, provocando situações que acabam por ser incômodas para mim mesmo, o fato é que não fui eu quem povoou dessas criaturas esta parte do mundo, nem lhes ordenei que crescessem e se multiplicassem. Isto é mérito exclusivo do establishment educacional, ou dele em cumplicidade com a mídia, os políticos e os “formadores de opinião” em geral. 
(Fonte original)



Despeço-me gostosamente...

ABSOLUTUM