terça-feira, 24 de novembro de 2015

Frase Portal

Algumas construções verbais, muitas frases, ditados, provérbios e etc, têm o poder de síntese silogística, de compactação de todo um mundo, de resumo esquemático de todo um universo, seja filosófico, religioso ou científico. Uma simples rima em um poema pode esconder ou abrigar uma verdade profunda: "Transforma-se o amador na coisa amada" - Nossa! Outras frases são como portais que nos abrem para realidades transimanentes ou são capazes de nos arrebatar momentaneamente para os umbrais do inexplicável.
Desde menino ouço uma expressão que nomeia uma região localizada no município de minha cidade. "Ribeirão de Areia". Sempre que ouvia alguém pronunciar o nome desta localidade, o simples enunciado da frase me fazia fantasiar sobre como seria esta zona rural, este tal de ribeirão de areia. Não era nem os componentes da nomeação separados, mas a forma como eles se juntaram. Um ribeirão por mais belo que seja é só um ribeirão. Mas um ribeirão feito de areia o que seria? O aumentativo ribeirão dando uma expansão fluidica ao material arenoso, e ao lembrar-me que estes micro-cristais que forma esta coisa que chamamos areia serem abundantes próximo às águas de todo mundo, criava em mim um arrebatamento poético que me faziam sonhar - já sonhei com este tal de ribeirão de areia,cavalgando celacantos e provocando turbulências em suas águas plácidas  como o mar de bronze no templo de Salomão - Sim acho magnifica esta denominação Ribeirão de Areia. A uns três dias atrás passei pela placa que dava entrada para a via vicinal que conduziria a esta localidade. Meu objetivo era outro, meu destino era outro,(TO-222) mas ao ver a placa com a "expressão mágica dourada" senti fugazmente o desejo de mudar meu curso, de colocar minha surrada XTZ em direção a este mundo encantado. Deixei para a próxima oportunidade. Mas um receio me acomete. Ao chegar neste lugar talvez uma chácara, um assentamento, ou outra coisa qualquer, talvez me decepcione e não seja, o lugar, tão fantástico assim como eu aspirava ficticiamente. Talvez sinta o mesmo que sentiu Aparecido Raimundo de Sousa neste seu texo : O Pingado. (Parece que o pingado foi plaginspirado de sai um pingado)
Embora eu seja católico, sob alguns aspectos, em determinados ângulos, de uma certa pesperctiva, sou simpatizante do budismo e incorporei algumas práticas budistas meditativas. Ao estudar este sistema religioso que se atem como o próprio Gautama Iluminado disse:  somente ao sofrimento e ao fim do sofrimento, noto que uma frase ocidental pode resumir todo o sistema budista e esta frase veio de alguém antiespiritual, antireligioso que curioso:


"A VIDA MAIS DOCE É NÃO PENSAR EM NADA"

Ela resume o objetivo do budismo que é o Nirvana, A VIDA MAIS DOCE, que somente poderia ser imortal, eterna, sublime; em sentido cristão, o paraíso, livre das armadilhas de Satanás, dos engodo dos apegos da carne ou das ilusões indutoras ao erro do mundo. A vida mais doce é a vida vitoriosa sobre os três inimigos da alma segundo a Bíblia: o mundo, o diabo e a carne. Ou segundo o Buda, livre da ira, da cobiça e da ilusão. "A vida mais doce É NÃO PENSAR EM NADA" Não pensar em nada seria a paralisação  do pensamento discursivo, binário, dialético, a sublimação do racional pelo intuitivo, a vida mais doce seria o não pensar mas sim o INTELIGIR. Apreender diretamente a verdade sem passar pelo maquinário silogistico racional. E este é o objetivo da meditação, que é a principal ponte para o Nirvana. Uma simples frasezinha que resume toda uma cultura religiosa.


" ...E FALAM A SÓS COM PANOS BRANCOS..."


Falar a sós com panos brancos foi uma coisa que sempre gostei de fazer. Esta frase aparentemente enigmática veio de um relato que foi feito por um indigena sulamericano da época da vinda dos espanhóis para a América pela primeira vez. (Não achei mais o livro nem lembro o título, tentei colocar a frase aspada no google mais não localizei-a ) Eu não sei se era um inca, um asteca, maia ou outro qualquer, mas  a frase resume uma impressão de um povo ágrafo a cerca de um ato que os recém aportados praticavam. Imagine a cena: um soldado chega e entrega um pano branco para o capitão do navio aportado. Ele pega o pano olha e parece que existe alguma coisa no pano que lhe diz alguma coisa, que lhe transmite uma informação, que lhe fala, e a partir daquilo ele toma alguma decisão prática. Foi isto que o indigena que nunca tinha visto PAPEL( chamou de pano) nem a LEITURA (chamou de falar a sós) apreendeu no fenômeno, pois apesar de estar tendo uma recepção de informação não estamos vendo o transmissor e como mesmo assim a pessoa está se comunicando o negócio fica realmente como um FALAR A SÓS. Pôxa vida como isto é poéticamente maravilhoso. E como é bom falar a só com panos brancos! Caso o negócio se desse hoje, ele diria : " E falam a sós com caixinhas luminosas e todos eles têm uma e parece que eles gostam mais de falar a sós e querem mais bem a estas caixinhas do que uns aos outros. " - sabe de nada inocente!


" Nós ossos que aqui estamos, vossos ossos esperamos, nós já fomos quem tu és, tu serás quem nós somos!"


Eu li esta frase escrita, não com sangue e fezes, mas com um pedaço de alvenaria, na parede de uma tumba ao passar por um cemitério. O que me impressionou além da brutalizante realidade da mensagem, e o impacto emocional de relembrar um fato inescapável, foi o português corretíssimo das orações. Quem será que teria escrito isto? De todas as frases, esta eu não precisei anotar em lugar nenhum no espaço. Guardo ela na memória tentando esquecer o fato que salienta, mesmo nós arduamente tentando esquecê-lo. Esta frase que li uma única vez ficou gravada a ferro e fogo em minha mente. Mas o escritor desta frase não foi o seu autor. Como achei ela assim, meio que muito erudita resolvi pesquisá-la no google. E não é que encontrei:

Uma verdadeira frase-portal, escrita na entrada de uma capela em Portugal, A Capela dos Ossos que, pasmem, foi contruida em parte com ossos. Com uma ligeira modificaçãozinha a frase que eu li no cemitério brasileiro não tinha o PELOS, era: nós ossos que aqui estamos vossos ossos esperamos, achando eu esta última construção mais direta e soando melhor. No portal da Capela não há a segunda parte da frase: nós já fomos quem tu és, tu serás quem nós somos.
Não sei se esta frase que abriga uma reciprocidade de status biontológico cronológica foi acrescentada pelo escritor na tuba nacional ou se deve fazer parte de uma inscrição maior em algum outro lugar na capela portuguesa. Caso não seja, o poeta que concluiu a sentença é genial (Ou poetisa - como parece que a letra era feminina talvez fosse uma jovem darkizinha bebendo com os amigos em noitadas góticas).




"Não existe mão fraca, existem poucas mãos"

Sendo esta frase  aparentemente um estímulo a solidariedade e ao trabalho em equipe, tipo assim :A união faz a força, ela é quase da autoria deste blogueiro que neste momento está a digitar. Digo quase de minha autoria porque não a criei de verdade eu sonhei com ela. Eu não lembro e talvez nunca mais lembrarei o contexto do sonho, mas ao acordar grafei no caderninho o ditado (e há outras mas não sei por onde anda aquele caderno de anotações). Este provérbio genonírico (gerado por um sonho rá rá rá inventei a frase agora nem vou rebatê-la ao google pra saber se ela já existe)coloca a situação numa oposição de mão fraca (singular) com poucas mãos. (plural negativo). A sentença é toda inviezada, retorcida. EXISTE - poucas mãos - NÃO EXISTE- mãos fraca, ou seja, o fato de não existir uma mão fraca se deve ao fato do número das mãos serem reduzidos. Quer dizer: é pelo acumulo de mãos que potencialmente, virtualmente pode ocorrer e que de fato existe em potência, que uma mão singular, isolada, não existe, ou não deveria existir. O núcleo da mensagem nas retorcidas lógicas das sentenças não está no objeto mencionado: mãos, mas em seu simbolismo, o que as mãos podem fazer quando agem em sinergia, cooperação. Com o aumento cumulativo (isto é uma redundância?) quatitativo de elementos e com a harmonia qualitativa cresce o poder de ação dos entes. Não existe fraqueza, existe desunião. Será que isto foi criado pelo meu cêrebro mesmo, independente de minha volição?





"Se metade da boiada estourou segura a metade que sobrou"


Creiam-me, este provérbio acima aparentemente me foi revelado num quase-sonho, "semi-sonho". Como podemos ver acima e se você já viu uma boiada passanda, percebemos uma certa ordem no fluxo dos bovinos, mantida apenas por poucos vaqueiros. Num estouro da boiada os elementos do conjunto entram num processo de entropia desordenado (redundância?) É um deus-nos-acuda, uma bagaceira, e depois os vaqueiros precisam de um esforço danado para realinharem os bois.  A mensagem do provérbio embora possa ser usada em infindáveis aspectos é mas precisamente um aconselhamento afetivo, emocional, para que possamos nos apegar, manter, segurar o que temos de bom na vida, os valores, princípios, ou mesmo até, coisas materiais mesmo. Quem sofre uma grande decepção se entrega de vez: -Sou um lascado e vou f... com tudo! -Eu não tenho nada a perder mesmo!(frase esta que me faz refugar imediatamente o autor dela e manter uma certa distância) Mas devemos nos lembrar do copo metade cheio lembra? Segurar o que nos resta. Se perdeu metade da boiada  tente segurar a outra metade. Tenha equilibrio, parcimônia, equaniminidade, se perdeu metade, um terço ou mesmo um quarto, lute pela outra metade, os dois terços ou mesmo os três quartos restantes. Se metade da boiada estourou segure a metade que sobrou.

"Os novos vieram dos velhos e os velhos vieram dos novos."

Eu tinha uma vizinha, uma senhora idosa (já falecida) que era um encanto de pessoa. cuidava das plantinhas em seu tipo um jardin na frente da casa e muitas outras no quintal. Ela lembrava muito o Yoda de Star Wars, no porte físico e jeito de falar, embora não fosse verde. Ela emitia muitos provérbios, ditados que aprendera em sua longa jornada. Entre eles havia o destacado acima. Os novos vieram dos velhos e os velhos vieram dos novos. Na linguagem dela: Os novo vei dos véi e os véi vei dos novo. O que ela queria dizer é que há um círculo. Não, na verdade uma onda biológica, gráfica. Onde pelo desenvolvimento natural dos seres vivos, e os seres humanos incluidos, evidentemente, aqueles seres que entram na existência (os antigos diriam - no ser) inexoravelmente devem provir dos antigos. Os NOVOS vêm dos VELHOS.  Em reflexo conceitual, numa cadeia cronológica, quase da mesma forma, as criaturas degeneradas foram aquelas que apareceram em novidade na existência. OS VELHOS vieram dos NOVOS. Ou seja, os velhos são os novos que ficaram... Os novos vieram dos velhos por geração e os velhos vieram dos novos por degeneração. Ela tinha muitos outros provérbios sapienciais, como por exemplo: Viva o Bucho e morra o Luxo (Colocar a prioridade nas necessidades fisiológicos antes dos adereços vaidosos). O POUCO com DEUS é MUITO, mas o MUITO sem DEUS é NADA. (Uma migalha somada ao infinito é maior que uma montanha somada a um planeta.). Com respeito a problemas conjugais no século passado "machista": Ruim com Ele (o marido), pior sem ele. (Com respeito a este provérbio tenho minhas dúvidas). Que Deus a tenha Dona  (Maria Santana ) Santa. 

"Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo"


Este é o objetivo da vida. E tudo o mais só faz sentido subordinado, emoldurado, temperado com isto. Esta frase-portal é um mandamento, uma ordem. Um comando. Amar é amar, Deus é Deus, o próximo é o próximo, si mesmo é si mesmo, todas as coisas são todas as coisas. Mais do que uma frase é uma fórmula onde cada elemento precisa ser explicitado, entendido e obedecido. Devo amar a Deus mais do que a mim mesmo e mais do que ao meu próximo. Com amor absoluto porque é isto que Ele merece. Não devo amar meu próximo mais do que a mim mesmo. (humildade masoquista) ou menos do que a mim mesmo (orgulho-sadismo), mas numa equalização, amar ao outro como me amo. Esta é toda a lei e os profetas, esta é toda a Bíblia. Esta é a fórmula, esta é a equação.


As frases-portais são infindáveis e abrem universos, mas por hora fiquemos por aqui mesmo.

ABSOLUTUM