segunda-feira, 13 de junho de 2016

Ainda que eu ande pelo VALE da ESTRANHEZA eu não temerei mal algum...

Pessoalmente acho bonito e poético quando lugares reais são denominados por estados subjetivos, emoções e etc. Embora nomes como "Mato Verde", "Povoado Sangue", "Quebra-Vara"," Cachorro de Cócoras" , "Chácara Água Fria" ou região da "Água Amarela" sejam nomes interessantes e sugestivos (denominações de locais em meu entorno pessoal), os nomes de Lagoa da Confusão,Vila do Sossego, Bar Encontro dos Amigos ou Boteco Fim de Tarde, por mesclar o objetivo com o subjetivo traz um "Q" a mais, transmitem uma força sugestiva maior. É assim: Mato Verde (um ser mais uma qualidade perceptiva-COR), Povoado Sangue (um assentamento mais um componente dos corpos biológicos -não sei o que aconteceu lá para ter este nome). Quebra-Vara, rá-rá-rá, sem comentários, mudaram o nome deste local que fica na BR-153 próximo a Wanderlândia-TO para Povoado Floresta. Tá de sacanagem? Quebra-Vara? Um verbo+substantivo comum. Agora pense num local denominado Cachorro de Cócoras! (substantivo comum+verbo). Remediaram o mico e rebatizaram oficialmente a localidade como Carmolândia-TO. Do mesmo jeito que cambiaram o nome de uma cidadezinha próxima a este tal de Quebra-Vara, cujo nome era Sucuiuzinho (sucuri pequena) para Araçulândia. Ex-Sucuiuzinholândia. Sim, todos os locais acima são denominações de coisas objetivas com coisas objetivas mesmo. Cores, coisas, ações, etc. Como falei acima, a coisa fica mais interessante e bonita quando se junta o OBJETIVO+SUBJETIVO, ou se nomeia coisas do mundo conjuntamente com coisas de dentro da ALMA. MUNDO+ALMA. Uma Lagoa da Confusão (confusão na cabeça ou de pessoas?) ou uma Vila do Sossego ou Recanto da Paz são muito mais interessantes.
Saindo da particularidade,  da singularidade, de minhas idiosincrasias espaciais, pulemos para um local mencionado mundialmente: VALE DA SOMBRA DA MORTE. Todos se referem a este "local" metaforica, alegorica e simbolicamente, mas, e eu não sei nada sobre isto, o cara afirma neste texto aqui que o Rei Davi se refere no Salmo 23:4 a um lugar de verdade. Que este vale denominado assim era um local físico, e não uma situação ou estado subjetivo, inicialmente.
Mesmo assim, conforme for, este tal de Vale da Sombra da Morte (mencionado em Isaías e em Jó também) é mesmo muito tenebroso, macabro, sinistro, assustador e... o que mais? Diríamos ESTRANHO? Também. Não entremos nos méritos da questão sobre o que seria ou significaria este tal de Vale. Pesquise no Google aí. Mas esta expressão é muito poderosa literária, poética e psicologicamente. Um VALE geralmente também pode ficar no sopé de uma elevação topográfica, o que pode lhe ocasionar uma penumbra, uma faixa umbralina. Um vale é associado a um local perigoso. SOMBRA remete a escuridão, breu, trevas, ignorância e perigo. MORTE. Falar o que mais ainda sobre o pior inimigo, o "último inimigo", a acabativa final? Juntou-se então as três palavras e criou-se uma expressão poderosamente clássica... Embora na verdade vale+sombra+morte não sejam coisas subjetivas mas 1)um relevo, um 2)fenomeno luminoso e um 2)estado de disrupção orgânica total.
Não sou teólogo, nem nada destas coisas, mas minha interpretação pessoal do versículo é que os que estão neste vale não morreram ainda, mas estão em perigo de morrer, não estão  sob o controle da morte, mas estão na iminência de morrer, não é o vale da morte, mas o vale da SOMBRA da morte. A morte ainda não chegou, só a sua sombra...Esta analogia pode ser usada para tudo, em todas as situações em que corremos perigo. Ao diagnosticar-se um câncer, num bairro com altos índices de criminalidade, num teatro de operações bélicas, numa depressão profunda e grave com riscos suicidas poteciais e etc. Em todo caso o ponto principal em que o versículo bíblico quer chegar é que a pessoa que anda por este vale não deve temer nada pois Alguém está ao lado do caminhante e ele não deve temer este vale.
Este alguém com seu poder consolaria o peregrino nesta travessia...converse com o Padre ou o Pastor sobre isto... Mas este VALE DA SOMBRA DA MORTE e as coisas que são associadas e ele me lembra de um outro vale que também é usado como símile de outras coisas. E este vale também está muito associado à morte. O vale em questão é o famoso VALE DA ESTRANHEZA. Poupe-me o trabalho de digitar e busque no google as várias explicações sobre o que seja esta tal de vale da estranheza. Este vale denomina uma reação que as pessoas têm com relação a algo que começa a parecer muito humano, mas todos percebem que não é humano. O conceito de Vale da Estranheza foi criado por um japonês da rôbotica e é muito usado em filmes e na estética de andróides. Uma coisa muito curiosa sobre este vale é que o maior índice de desaprovação, de estranhamento das pessoas é com respeito aos mortos e os semi-mortos, os zumbis.

O medo que temos de cadáveres e zumbis é que eles se parecem com humanos mas não são humanos. Tem a figura humana, mas não a forma humana. Forma neste caso, numa nomenclatura escolástica antiga e arcáica significaria FÓRMULA, lei de proporcionalidade intrínseca, como diria Mario Ferreira dos Santos. Uma prótese, um cadáver e um zumbi são os entes que estão no fundo, bem no fundo do vale da estranheza, conforme podemos ver no gráfico acima que gerou o nome do conceito. Ao se remover o algoritmo autocinético, a alma que enformava e animava um corpo humano as pessoas passam a rejeitar e temer aquele aglomerado físico que ainda parecendo humano não é mais componente do humano. Este assunto é profundo e mereceria também toda uma postagem própria mas recomendo fortemente que pesquise o assunto. O vale da estranheza explica porque filmes como O Expresso Polar, Beowolf e Tintin sofreram muitas críticas e rejeições. Explica também o temor que algumas pessoas tem de bonecas e porque alguns filmes de terror apresentam bonecas no roteiro. Explica o amplo sucesso de zumbis nos filmes e o medo que as pessoas tem de zumbis. Explica a rejeição e o assombro que algumas pessoas sentem com relação a andróides que ao ficarem parecendo humanos ficam cada vez mais parecendo cadáveres. Andróides-bonecos-zumbis-cadáveres-próteses-atores artificialmente, digitalmente criados, todos eles tem a figura humana, mas não a forma (fórmula vivente ativa) e estes objetos são fortemente refugados por quase todos pois lembram nossa própria mortalidade, lembram de doenças, deficiências, anormalidade, o mal e etc.
No fundo do Vale da Estranheza está a sombra da morte que paira sobre todos os mortais.



Algum antídoto?



Absolutum