segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ENSAIO 03/2010

A SALVAÇÃO PELOS PEQUENOS EM STAR WARS

Fui um grande fã de Guerra nas Estrelas ou no inglês Star Wars. Não sou bom de inglês mas acho que Guerras Estelares também seria um bom título. De todos os filmes de ficção científica este foi meu favorito. Depois vim saber que esta película tinha por trás referências mitológicas e era  em si uma nova mitologia moderna.
Depois de muito tempo (décadas) vim saber também que o verdadeiro protagonista do filme, não era Luke ou Léia, mas sim o pai deles, Vader. Vim a saber na conclusão do filme, depois dos três episódios últimos, mas primeiros na ordem cronológica interna do filme, que a queda e regeneração moral de Anakin Skywalker  era o fio lógico que percorria toda a trama. Vim a saber também que assim como o filme Duna de Frank Herbert tinha como um de seus elementos fortes referências a cultura e religião árabe/islâmica, Star Wars fazia alusões aderentes a cultura  indiana, como a cremação dos cadáveres, e a religião Hindu/budista. (Onde então está a ficção científica em  homenagem ou simplesmente com elementos alusivos ao judaísmo, ou cristianismo, ou então a cultura judaico-cristã? Quem preencherá esta lacuna? C. S. Lewis esta mais para Ficção Fantástica. Veja aqui a diferença em FILOSOFIA DA FICÇÃO CIENTÍFICA).
 Por falar em religião  descobri também que este componente místico era o tempero que dava aquele “sabor” romântico que faltava a séria Jornada nas Estrelas, ou Star Trek, este muito cerebral, muito científico (na definição de Olavo de Carvalho – CIÊNCIA = “conhecimento experimental materialista” ), sem nada de metafísico ou espiritual como Jedis, a Força, “aquele que trará equilíbrio à Força” em Star Wars, ou Tempero/Especiaria/Condimento, “o adormecido deve despertar” em Duna. Esta assepsia de algum componente esotérico em Jornada, me fazia colocá-lo em segundo lugar na hierarquia de importância. Sem mística, sem componentes intuitivos/misteriosos um filme ou até mesmo a própria vida se torna tão delicioso como mastigar um pedaço de isopor com a forma de um queijo.
 Bem, tendo assistido incontáveis vezes os episódios de Star Wars, lido muito a respeito, inclusive um livro chamado a Ciência de Star Wars de Jeanne Cavelos, nunca vi ninguém falar de outro fio condutor, ou outra trama paralela que faz parte deste filme. Na verdade não é uma trama paralela propriamente dita, mas uma estratégia, uma válvula de escape, ou até mesmo uma lição de moral, que podem incluir esta franquia em uma fábula. Notei que este elemento adicional do filme acontece não somente nos antigos episódios, como nos últimos I, II e III, destacando a identidade estrutural dos novos com os velhos episódios. Dando a idéia de que todos os seis episódios são mesmo do mesmo filme. Parece até que com esta estratégia George Lucas quer nos transmitir uma mensagem. Mas observando melhor, este mecanismo ocorre em uma miríade de filmes além da ficção cientifica e talvez seja um instrumento cinematográfico de surpresa, de suspense.
Bem, sem mais delongas, o assunto de que trato aqui é o fato de nos filmes estelares de George Lucas, quando se instala o conflito entre antagonistas e protagonistas, e a situação começa a ameaçar seriamente a  Aliança Rebelde e as vezes vemos que a situação se torna terminal para Luke, Han, Leia e tutti quanti,eles repentina e surpreendentemente são salvos pelas criaturas menos importantes, pelos personagens coadjuvantes, pelos pequeninos. Vemos isto em todos os episódios, os velhos e os novos. Se isto foi consciente ou inconscientemente  eu não sei, mas está lá. Quando o poderoso Império Galáctico está prestes a destruir a Aliança, o escape é proporcionado por um personagem insignificante na narrativa.
O campeão de salvamento das situações é o pequeno faz-tudo, canivete-suíço, R2D2.
Em todos os episódios sua ação benigna em um detalhe, que se expande em ondas concêntricas e beneficia todo a Galáxia é simplesmente impressionante. Os republicanos deveriam colocar imensas estátuas do droidezinho por toda a Galáxia. E deveria ser homenageado  como o maior herói de Star Wars. Este robozinho, que se comunica por estalos e apitos, logo no episódio A Ameaça Fantasma, Star Wars I, entra em cena pela primeira vez já salvando a nave da Rainha Amidala, que por ter os escudos defletores danificados, estava prestes a ser destruída pela Federação do Comércio. A pequena lata mecânica é elogiada pelo Capitão Panaka(?) e a Rainha.
Esquecendo um pouco nosso heróizinho e lembrando dos micro-agentes salvadores  percebemos que quando os Jedis  Qui-gon e seu aprediz Obi-Wan descem a superfície da planeta Naboo são salvos da ameaça das máquinas da Federação pela ajuda semi-voluntária de Jar Jar Binks que os guia até a civilização subaquática dos Gungans, fazendo um link dos gungans com o restante da trama. Notamos também que mais a frente, após pousarem com a nave danificada em Tatoine só conseguem as peças para concertarem a nave e continuarem com sua missão após a entrada em cena de Anakin Skywalker que vence a corrida de pots, ganha as peças e a liberdade.

Um menino é a via de salvação para os poderosos Jedis. Quando os ridículos dróids do Vice-rei invadem o planeta Naboo, a ajuda para a Rainha e os Jedis vem dos “inferiores” Gungans. Mas sua ajuda é só um paliativo, quem salva tudo mesmo é o pequenino Anakin, que de dentro de uma nave destrói a estação espacial que controlava os dróides incapacitando todo o exército e dando a vitória para os Naboos em um único lance. Anakin vai no ponto-chave, sem essa ação no detalhe, o todo estaria comprometido. No episódio I, os maiores heróis, cujo pequeno ato na parte que se expande para o conjunto e salva toda a trama são R2 e Anakin Skywalker. Todas as demais batalhas, mesmo a magnifica luta de Qui-gon e Obi-wan contra o Sith com sabre de luz duplo, ganhando-se ou perdendo-se, falando em termos estratégicos, não teriam maiores consequências para a guerra.
No episódio II, quando a senadora Amidala está prestes a ser picada por vermes monstruosos é o pequeno R2 o primeiro a dar o alarme e tentar salvar a mesma eletrocutando alguns vermes. O dardo que o caçador de recompensas, Jango Fett usa para matar o transmorfo assassino, é a peça, o detalhe ínfimo sem o qual Obi-wan nunca teria descoberto o exército de Clones e assim no final ter podido salvar os Jedis acuados na arena de sacrifícios pelos pelotões do Conde Dukan. Sem a ajuda do cidadão comum, a criatura de quatro braços, dono da lanchonete, que era amiga de Obi-wan, isto não poderia ter acontecido. Alguém de fora de todo o conflito, com uma simples informação, dá o empurrãozinho que num crescendo proporciona toda uma nova dinâmica que no fim reverte em vitória para os mocinhos. E fiel a fábula George-luquiana é um pequeno padawan quem responde a pergunta essencial para a localização do planeta aquático onde os clones estão sendo produzidos (reproduzidos). Não sei se a cena foi feita com este propósito consciente, mas demonstra mais um vez o mote de que : A SALVAÇÃO VEM PELOS PEQUENINOS.
No episódio III, a Vingança do Sith, o elo de ligação dos episódios velhos e novos, vemos o mesmo tema se repetindo, desta vez numa situação similar ao episódio VI, O Retorno de Jedi. Mas antes um pouco de Starwarslogia. Os dois últimos episódios das duas fases, o III e o VI, apresentam algumas semelhanças. Na verdade inicialmente o Retorno de Jedi, seria A Vingança de Jedi, mas devido a polêmica da questão ética de um Jedi se vingar, o nome foi mudado. Os dois episódios são os mais sombrios, mais tenebrosos, densos emocionalmente. E expõem novamente R2 salvando a cena. Quando Anakin (proto-Vader) esta detido pelos guardas de Dukan, na nave em que Palpatine era supostamente refém, é R2 que ejetando de si o Sabre de luz para ser apanhado no ar por Anakin, salva a situação, numa cena semelhante a quando no  episódio VI, Luke e Han no poço do Sarlacc sob custódia de Jabba the Hut, prontos a serem devorados, são salvos pela ejeção inesperado do sabre de Luke, que a partir deste toque inicial, inverte toda a trama e destrói Jabba, o horrendo.
Em Uma Nova Esperança, episódio IV, quando nós, os mais velhos, vimos R2D2 pela primeira vez na vida, é ele o responsável, involuntariamente, é verdade, de guardar a mensagem que será o vínculo tênue entre Obi-wan e Luke com a Aliança Rebelde. A princesa Léia prisioneira de seu próprio pai (ele estava pertinho dela, não sentiu nada?) tinha colocado uma mensagem para Kenobi juntamente com os planos para a primeira Estrela da Morte no robô. R2 já entra no filme como um peão, mas com valor de um rei, que possibilita a dinâmica de todo o restante do enredo. Após a Mileniun Falcon se capturada pelo raio trator da estação da morte, é R2 que plugado ao sistema da Estrela da Morte descobre que a princesa é prisioneira ali e qual a sua localização onde estava aguardando execução. Quando na tentativa de salvar a princesa, Luke e Han estão presos dentro do compactador de lixo da Estação espacial  quem é o responsável pelo salvamento dos Heróis?  Sem a ajuda providencial do robozinho, o Jedi e o contrabandista teriam sido esmagados. A princesa não teria sido salva, os planos da Estrela da Morte não teriam ido parar nas mãos dos Rebeldes e a Estação espacial teria destruído o planeta base da Aliança. É ou não é o maior herói de Guerra nas Estrelas?
Em O império Contra-Ataca, episódio V, nosso herói tira uma licença de suas atividades. Licença entre “aspas” pois ele está ali sempre presente na trama. Mas não consigo me lembrar de nenhuma micro-ação sua que trará consequências gerais.  Escrevo de memória e no momento não tenho acesso a este episódio para assisti-lo com atenção. Mas me lembro que ele acompanha Luke até o planeta Dagobah como Astrodróide de navegação. E lá, é ele que informa Luke sobre a presença de Yoda. No começo do filme quando Luke está lá fora da base na tempestade gelada do “antártico” planeta Hoth, R2 fica de prontidão com seus sensores procurando traços de vida. Nada de consequências portentosas para a narrativa é claro. É ele também que com aquela sua ferramenta de plug, abre algumas portas, no meio do fogo cruzado dentro da cidade nas nuvens de Bespin.
Finalmente em O Retorno de Jedi, além da cena da ejeção do sabre para Luke, ele salva toda a Aliança Rebelde e a República quando abre a porta  da estação geradora do escudo direcionado  à Death Star, para a fração de tropa na lua de Endor. Os rebeldes desligam o gerador, que vulnerabiliza a estação que é atingida no coração por Lando Calrisian  pilotando a Falcon. Uma açãozinha que provoca uma reação em cadeia num crescendo afetando o macro.
Mas há neste episódio uma interferência benfazeja para a aliança por parte de criaturinhas outras também. Sem a ajuda dos Weoks, a fração de tropa rebelde não conseguiria escapar da rendição e desligar o gerador. O futuro da Galáxia ficou por algum  tempo nas mãos dos pequeninos.
Uma criaturinha que nem vida tem, que não é nem mesmo um antróide, sem nada de humanóide, na forma ou na linguagem, sem braços nem pernas para poder agir. Que foi cuspida pelo monstro de Dagobah, gosto ruim sem dúvida,  se mostra assim um símbolo de uma palava esquecida: lealdade. C3PO nada faz o filme inteiro a não ser reclamar, e em alguns casos traduzir. O que é uma repetição de um sinal em outro código, algo passivo. Nada agente ou própio de um sujeito.  Dizem que ele exerce na trama a função de bobo, mais R2 para aliviar as tensões da trama. Não acho R2 tão cômico assim. Bravo R2!

Todas estas cenas me fazem lembrar daquele adágio de que por causa de um prego, perdeu-se uma ferradura..... que perdeu-se uma guerra. E da influência do micro no macro. Me recorda aquela teoria de que se o nariz de Cleópatra fosse um pouquinho diferente, a história seria outra. Me faz rememorar o tiro dado em 1914 no Arquiduque Ferdinando, por um anarquista que desencadeou a grande guerra, depois conhecida por I Guerra Mundial. Me lembra também do argumento de um soldado no filme O Resgate do Soldado Ryan, onde ele diz que por ser um bom atirador, um sniper, bastaria uma oportunidade para ele colocar Hitler na sua linha de visada e todo aquele esforço extênuo de guerra seria desnecessário. E também daquela história da borboleta que produziu um furacão. Me lembra também do beijo de Judas Iscariotes que gerou numa reação em cadeia tudo o que nós bem sabemos. Me recorda do guru neurolinguista Lair Ribeiro que dizia que Deus está no detalhe, a diferença está no detalhe. Um pequeno reajuste ínfimo pode modificar toda uma trajetória. Me lembra também que após contemplar meu filho caçula por alguns meses, resolvi para de beber definitivamente, por querer lha dar um bom exemplo. É a força de um pequenino. Seja um pesamento, uma intuição, um gesto, um pequeno comentário. Para o bem ou para o mal. Não sei se este é um recurso técnico-cinematográfico ou se George Lucas quis passar algo mesmo.
Terminando, as Escrituras afirmam : “Não desprezeis o dia das coisa pequenas” (Zacarias 4:10)

-Providencie um polimento e um banho de óleo ao dróide!

ABSOLUTUM
Post Script:
Isso tudo que escrevi acima me lembrou de uma coisa no I Ching
deste hexagrama:

"O PODER DE DOMAR DO PEQUENO"

 O hexagrama apresenta o poder do pequeno, retendo e freando. Uma linha fraca ocupa a quarta posição, limitando assim todas as demais linhas fortes. Como imagem natural, representa o vendo, agindo com seu sopro para reter as nuvens, porém não tendo força suficiente para transformá-las em chuva. A configuração momentânea do forte sendo temporariamente contido pelo mais fraco é a tônica do hexagrama. (VEJA AQUI)
ABSOLUTUM  em 04 de Agosto de 2011.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ENSAIO 02/2010

A BASE "IMBECIL-COLETIVA" DA PIRÂMIDE.

Na mitologia grega o deus Vulcano rejeitado pelos seus divinos pais, foi recolhido pela bela Tetis, filha do Oceano. Durante um período viveu numa gruta profunda , ocupado em fabricar brincos, broches, colares, anéis e braceletes.  Este deus disforme e feio é também conhecido por ser entre o panteão, o mais laborioso e também o mais industrioso, por fabricar mimos para as deusas e outras armas para os deuses. Parece-me que este arquétipo de uma entidade trabalhadora (sua estátua tem um martelo de forja na mão), habitante de um mundo subterrâneo ou escondido, um ser feio e atarrancado permanece presente na cultura pelos reflexos de modelos que apresentam as mesmas caracterísitas com algumas variações. Uma tênue imagem atávica...
No conto a Branca de Neve vemos criaturas nanicas, que trabalham em minas subterrâneas, muito parecidas entre si, os famosos 07 anões. Zangado, Dunga e etc.
Na lenda de Papai Noel, os brinquedos que o bom velhinho distribui pelo mundo na noite de natal são feitos pelos seus ajudantes que são duendes.
Na filme a Fantástica Fábrica de Chocolate, nas duas versões, temos anõezinhos trabalhando arduamente no fabrico de guloseimas para as crianças. os Lumpas, inesquecíveis para quem assistiu a primeira versão.
No livro do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley somos apresentados a criaturas localizadas na base da pirâmide social, responsáveis pelos trabalhos braçais. Os Semi-aleijões Ypsilon-menos, dos grupos gêmeos Bokanowiski, imbecis, felizes e dedicados.
Na base da pirâmide social da civilização de 1984 no livro de George orwell Temos os proletas trabalhadores de uniformes padronizados.
Acho muito parecido estas descrições com os gabirus  nordestinos, principalmente quando alguns  emigram para cidades grandes afim de prestar serviços pesados na contrução civil  e outros.
 Na historinha do Lobo Mau e os três porquinhos percebemos que os suinos apresentam os mesmos traços de um grupo de baixinhos muito parecidos entre si, dedicados a tarefas manuais. Estes porem não se mostram nada imbecis.


Um desenho  animado que eu adorava quando criança era o de uns duendinhos (OU GNOMOS?) azuis habitantes das florestas, moradores de casas/cogumelos, os smurfs que se assemelham muito nas características e atividades aos outros mostrados acima.



Já escapando das similitudes dos grupos apresentados, porém não muito,  temos no filme de George Lukas, aqueles baixinhos de capuz escuros que negociam andróides pelos desertos, os Jawas, muito parecidos com duendes fabricantes de presentes. Os Ewoks também lembram de longe duendes como os smurfes, os 07 anões, os Lumpas.  Mas lembram mais precisamente os pigmeus das florestas africanas.
Nas mitologias de muitos povos e em entretenimentos da atualidade temos este tema recorrente de grupos gêmeos anões ,habitantes de cavernas ou profundas florestas, ligados a atividades laborais físicas.
Inspirado na Teoria das castas  de Olavo de Carvalho e enquadrando estes seres do universo fantástico nesta classificação, acho que estes seres sejam uma estereotipia ou  uma intuição do supraconsciente coletivo de muitos povos e civilizações da natureza mesma dos tipos mais baixos nas pirâmides sócio-economicas de seus respectivos povos. Uma forma não racional, mais intuitiva de verem o esquema social de que fazem parte. Trolls e gnomos, ligados a mundos subterrâneos, mineiros, ferreiros e forjadores, são os trabalhadores das castas mais baixas, os sudras, os serviçais, os proletários, os escravos. Estas criaturas imaginárias são, evanescentemente, uma auto-imagem caricatural que culturas tem de suas classes, castas ou estamentos, ainda que uma lembrança distante e inconsciente.

Elfos =Arianos
Elfos = arianos?
Que Trolls e Gnomos são uma representação de nossos proletários é comprovado pelos seus igualmente fantásticos irmãos superiores, mais sutis que são os elfos e fadas. Mais inteligentes, habitates de mundos "aéreos", copas de árvores e não cavernas e escuras florestas. De traços mais finos, mais longilíneos, mais arianos, mais espirituais, são os brâmanes e  os guerreiros. Mais rarefeitos, menos indênticos, não dedicados a meter a mão na massa.
Um grupinho anão de gêmeos estupidos, prontos a obedecer ordens é um tema recorrente em muitos filmes e desenhos animados. Estes são os Gabirus. (Não me leve a mal , sou quase um).
São um reflexo pálido, esmaecido, do deus Vulcano, um lascado (feio e malformado) expulso das elites, habitante de submundos, de guetos, sobrevivendo as custas de seu dedicado trabalho manual. Uma autoprojeção da sociedade em representação de suas proprias classes.
Não sou marxista e creio que sempre existirão, pois faz parte da própria estrutura da realidade que uns sejam mais belos, mais inteligentes, consequentemente mais ricos que  outros. Alguns desenvolverão doenças psicológicas que os levarão às drogas, ao alcoolismo, à mendicância , inevitavelmente é a pobreza. É uma lástima!
"No meio de vocês sempre haverão pobres, enquanto eu não estarei sempre com vocês"
(João 12:8)
 Mesmo assim podemos esperar medidas para que oportunidades sejam oferecidas para ascenções sociais, não da maioria é claro, não tivemos por oito anos um Troll-gabiru presidente?
 Independentemente  de opiniões adversas,  o metalurgico que virou sindicalista, que se tornou presidente de uma república  é autor de um feito memorável! Parabéns Senhor Presidente! 
ABSOLUTUM.

Obs: O filósofo Olavo de Carvalho se refere no livro O Imbecil Coletivo a uma falsa casta sacerdotal, Brahmane


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ENSAIO 01/2010

PSICOPOLÍTICA
Há muito venho observando que em crimes de ódio, crimes verdadeiramente de ódio e não em hiperbolismos politicamente corretos que hoje se atribui a um simples xingamento, existem duas modalidades, duas direções da "seta" da ação destruidora do autor do delito. Uma do conjunto para o elemento e outra do elemento para o conjunto. Por exemplo o crime do sul-coreano Cho Seung-hui é exemplo da parte que ataca o todo, o crime de um serial killer é um exemplo de um "todo" que ataca uma parte. Coloco entre aspas porque este "todo" significa uma introjeção psiquíca que o atacante padece. 
A um atacante, um franco-atirador chamamos assassino em massa, a um homicída que mata sequencialmente chamamos de obviamente serial killer. Percebi já há algum tempo que nestas duas modalidades de agressão existem algumas peculiaridades  que as diferenciam radicalmente, não só quanto ao fator matemático do número de vítimas,( o assassino em massa, procura destruir o maior número possível em uma menor duração de tempo, o psicopata clássico mata durante uma duração de tempo longa, apenas na maioria, uma vítima por vez.), mas também quanto as motivações individuais, os estados subjetivos do autor da façanha maligna, que percebi no dois casos serem antagônicas em um sentido "POLITICO", ou "ideológico."
Quero dizer aqui sentido político-ideológico não na direção cognitiva, racional, mas eminentemente emocional, passional. O assassino em massa tem motivações (motivações mesmo, de emoção) e não razões, que são em essência uma materialização de todo um discurso de ESQUERDA. No outro extremo o serial killer apresenta sentimentos no momento do ato ímpio que o coloca em sintonia com um discurso de DIREITA.
Vou explicar melhor mais a frente do que estou falando.
 Por isto então, baseados nestes significados políticos , tentaremos explicar metaforicamente uma ação causada por distúrbios psicológicos profundos(com componentes emocionais secretos é claro)  que causam estragos sociais e éticos consideráveis.
Denominei ao esquema de  classificação destes dois tipos de homicídas de PSICOPOLÍTICA, embora saiba que este termo já exista para designar  outros assuntos. A Psicopolítica como um mecanismo de classificação  de crimes de ódio apresenta os seguintes conceitos:
HOMICÍDIO PSICOPOLÍTICO.
Ato de matar pessoas por motivações de ódio extremo, já anterior a ação, de duração prolongada, cujo objeto de ódio não deu causa a ação, que devido as motivações PSICOSSOCIAIS do perpetrador se classificam em:
HOMICIDA DE DIREITA
É o serial Killer, o psicopata clássico, que sucumbiu aos vetores de forças sociais que agridem o indivíduo; ao jogo implicito de forças dentro de uma sociedade, que visa descriminar determinados individuos e premiar outros. O homicida de direita incorporou em sua psique o ódio a minorias, aos marginalizados, a parte defeituosa da sociedade, ele dá vazão as forças latentes na hierarquia social. Para comprovar minha tese bastar elencar as vitimas dos serial killers que são quase sempre esta parte frágil da sociedade. O dextro-homicida odeia o fraco, pois suas vítimas são mulheres, crianças, ou pessoas que portam alguma  peculiaridade  que a INDIVIDUALIZA, onde a morte desta vítima satisfaz alguma fantasia de poder do autor. O dextro-homicida psicologicamente simboliza a sociedade que se opõe ao indivíduo e desta forma se identifica com estruturas socais antigas como os espartanos que sacrificavam bebês defeituosos ou os nazistas que extermiram minorias e  elementos defeituosos da antiga alemanha. O dextro-homicida sucumbiu ao mecanismo do bode expiatório de que falou René Girard sobre a coletividade homicída e então, o mesmo, dá vazão de forma mais acentuada ao que existe de forma latente dentro do comunidade. Busque no Google ou outro mecanismo de busca pelo nome de psicopatas famosos  e trace o perfil de suas vítimas que na maioria se enquadrara no conjunto de pessoas problemáticas como homossexuais ou prostitutas, idosos e outros. Que os principais antagonistas de minorias (aparentemente)  sejam pessoas "à direita" do espectro politico engloba nosso dextro-homicida como um agente executor destas minorias em obediência as forças destrogênas
HOMICIDA DE ESQUERDA
O Sinistro-homicida será complementar e opositivamente então aquele que se vingará da agressão da comunidade/sociedade contra o indivíduo, sendo então sua ação o oposto da do dextro-homicida. Se este último aje, metaforicamente falando, de forma comprida e fina, ao longo do tempo, com uma vítima por vez, o dextro agirá de forma CURTA E GROSSA.
 Busque novamente no google sobre atentados em massa, incluindo o 11/09 e verá que o leitmotiv será a vingança contra a sociedade, o status quo, ou em casos de escala reduzida um maluco que se vinga da comunidade que o rejeitou, de uma empresa que na cabeça do pertubado seja a culpada pela sua falência socio-economica, ou de um escola que rejeitou um marginalizado. O sinistro-homicida é o bode expiatório vingador, quando o vetor agressivo vem da sociedade para este indivíduo, este ao invez de introjetar esta agressão , indentificar-se com as estruturas sociais e passá-la opressivamente para um mais fraco, volta-se contra toda a coletividade homicida. Geralmente em discusões ideologicas quando ocorre um crime os direitistas afirmam taxativamente que a culpa é quase toda do individuo, opositivamente os esquerdistas explicam que a responsabilidade pelo crime é da sociedade, o criminoso é absorvido como uma vítima da sociedade. Creio por intuição e não por estudo sistemático e atencioso que este quadro do forças é analógico a dinâmica, nas linhas causais, de homicidios praticados por assassinos em massa e assassinos seriais. Por dextro-homicidas que odeiam concentrada e individualmente e por sinistro-homicidas que odeiam expandida e coletivamente. Não tenho as qualificações nem tempo para examinar e estudar este assunto profundamente por isto levanto-o ensaísticamente sem provas para que alguem mais habilitado posso desvendá-lo com um estudo sistemático.
Gostaria de lembrar aqui que esta é uma classificação de motivos passionais, uma simplificação metodica, que não deve estravazar para o campo realmente político ou ideológico. Tomo os conceitos destas áreas e os usos como uma analogia de caráter psicológico apenas.
O Dextro-homicida se identifica com a sociedade agressora e ataca um individuo.
SOCIEDADE > INDIVIDUO
O Sinistro-homicida se identifica com o individo injustiçado pela sociedade e se vinga.
INDIVIDUO > SOCIEDADE
O filósofo Olavo de Carvalho diz que os criminosos em uma sociedade atualizam as tentências negativas que existem no coração do pacato cidadão  comum, uma forma dialética e longínqüa de possibilitar uma margem de manobra para que atenue o poder coercitivo da sociedade como um todo.
"Cada delinqüente, por definição, dá expressão física e manifesta às tendências malignas latentes na alma dos seres humanos em geral, inclusive os melhores deles. Nenhuma vítima de homicídio pode proclamar que o desejo de matar está totalmente ausente no seu coração
A diferença entre ela e o assassino não é de natureza, mas de proporção"

"Até um certo ponto, a inversão retórica é tolerável. Ela serve como um atenuante relativista da confiança que toda sociedade tem na sua própria bondade." (Inversão retorica e realidade invertida)


 Quando estas tendências negativas são atualizadas por um mecânico que estupra e mata meninos  ou por uma gangue alcoolizada que espanca e queima um mendigo ocorreu um dextro-homicídio, quando um demente vai a um cinema munido de uma pistola  e abre fogo em todas as direções sem discriminar ninguém, não está atacando um individuo e sim a sociedade e por isso ocorreu um sinistro-homicídio. Um homem-bomba é um sinistro-homicida. Jeffrey Dahmer que matava homossexuais, ou Jake, o estripador que matava prostitutas é o classico dextro-homicida.
É claro que este assunto está sendo abstraído idealmente e na dinâmica do mundo real às vezes os dois tipos estão fundidos como no caso de Hitler que exterminava "o judeu", "o cigano" ou o "homossexual" como um dextro e ao mesmo tempo como um sinistro-homicida atacava o sistema maior capitaneado pelos Estados Unidos. Ou como no caso de traficantes que queimam ônibus e aterrorizam a sociedade como um todo (sinistramente) ou vendendo drogas individualmente para crianças indefesas nas escolas(destramente).
Podemos dizer também , com respeito a Igreja,  dentro desta analogia, que a Inquisição obedecia a um comando dextro-homicida quando torturava e matava hereges individualmente, e a um comando sinistro-homicida  quando, nas cruzadas, saia para combater o mundo mal mouro.
E você? Odeia as partes ou o todo? Neste sentido em que estou falando, tem tendências sinistras ou destras?
Creio ter intuido algo digno de ser considerado atentamente.
ABSOLUTUM

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Sugestão: Se você se interessou por este ensaio veja este outro texto que faz uma espécie de reflexo invertido simétrico deste post:  HERÓIS DE ESQUERDA X HERÓIS DE DIREITA




Postando no corpo do texto mesmo:
Fernando...

Parece estar havendo problemas no sistema de comentário de seu blog. Tentei postar no PSICOPOLÍTICA o seguinte comentário:

Caro Ferando...
Excelente o texto, que dá início a possibilidades abrangentes de investigação.
Só contesto um único parágrafo, quase ao final, ao falar de Hitler, porque este não atacou um sistema capitaneado pelos EUA. Na verdade Hitler nunca teve intenção de atacá-los, mas sim apenas a Europa, e até o fim tentou uma trégua com as forças norte americanas para poder se concentrar contra os soviéticos. Acho que os nazistas ficam apenas no grupo dos Dextros.
Também não vejo os traficantes como "vendendo" drogas a inocentes. Eles as vendem a quem quiser, e puder, pagar. Além disso, incorporam em vários níveis um discurso de revolta contra a situação social, visto emergirem em geral de classes pobres. Creio que são basicamente Sinistros, tendo, por outro lado, uma "verve" comercial.
Atente para o fato dos dextro-homicidas serem sempre anônimos, e os sinistro sempre públicos, e veja que isso também pode ser relacionado a temas políticos mais abrangentes.
Sabemos claramente quem foram os revolucionários e os militantes de esquerda em geral, mas não quem foram exatamente os agentes da repressão.
E observando fóruns e brigas entre bandos de esquerdistas e direitistas, notem que os últimos lançam mão do anonimato com uma predominância muitíssimo maior.
Ou seja, mais um aponto para a sua análise, por o dextro, por encarnar uma representação da sociedade, se dilúi como indivíduo, agindo apenas como mais um instrumental do sistema. O sinistro, mais uma vez, afirma sua individualidade contra o sistema.
Mais uma vez, parabéns.
Marcus Valerio XR
www.xr.pro.br



Heróis de
ESQUERDA


X


Heróis de DIREITA

segunda-feira, 7 de junho de 2010

O ESPECTRO MORAL


O ESPECTRO MORAL

“Nunca é demais insistir que há mais diferenças hierárquicas entre os homens do que imagina a nossa vã sociologia.” Olavo de Carvalho

“... Quando os teus pés entrarem na cidade, a criança certamente morrerá. E todo o Israel deveras o lamentará e o enterrará, porque só este de Jeroboão entrará numa sepultura, visto que nele se achou algo de bom para com Jeová, o Deus de Israel, na casa de Jeroboão”. 1Reis 14:12, 13.


                              O Fragmento textual acima está contido no códice sacrossanto dos judeus e cristãos e conta que Deus, Entidade Suprema, onisciente, ao ordenar a morte de toda a “ímpia” dinastia do Rei Jeroboão, por motivos religiosos e políticos, permitiu que somente um dos condenados pela fatwa, tivesse um enterro decente. Deus mandou matar alguns. Destes, só um foi enterrado. O ponto a ser destacado aqui é: Por que ele foi enterrado e os outros não? O texto responde: “nele tinha algo de bom”. Mesmo ele segundo o relato, fosse mal e morresse junto com os outros, havia uma nuança, um grauzinho a menos de maldade que os outros. Deus como se tivesse peneirado e visto isso. Morreu como maldito, mas tinha uma coisinha boa nele. E Deus o recompensou, permitindo que fosse enterrado. Dos malignos e ele era um, ele era o que estava mais perto de Deus relativamente em comparação aos outros condenados. Esta história acima visa demonstra um aspecto da realidade que aparentemente não é percebido pela maioria das pessoas, mesmo as mais religiosas quando se trata de julgar o caráter moral de outros. Quando declaram que alguém é mal, isto quase nunca é relativizado, graduado, nuançado, quando o outro é mal, é mal integralmente, quando é bom, idem. Mas geralmente quando se trata de julgarem a si mesmas moralmente aí é que as pessoas começam a atenuar suas ações e motivações, dizendo-se não tão más como se mostraram. O nome que damos a este procedimento binário inflexível no julgamento ético é MANIQUEISMO, de uma lado o bem absoluto e do outro o mal absoluto irreconciliáveis, não intercomunicáveis. Em lógica damos a este procedimento catalogante moral o nome de uma falácia que se chama exclusão do meio-termo, ou dicotomia falsa. Ou é uma coisa ou outra, ou oito ou oitenta como o povão gosta de falar. É considerado apenas os extremos opostos e ignorado entre eles um continuum de graus intermediários. Esta exclusão do meio-termo, esta dicotomia, geralmente quando se trata do mundo real poucas vezes se mostra correta, mesmo nas coisas que aparentemente são antagônicas, contrárias ou mesmo contraditórias. Ela se manifesta mais no mundo ideal platônico, nas ideias, nos conceitos, quase nunca em coisas ou fenômenos naturais, ou mesmo nos atos psíquicos. Por exemplo, se digo que a luz não se coaduna com as trevas, ou o dia com a noite não vamos nos esquecer que entre estes dois limites de luminosidade existe um meio termo sim! Que são nada mais que a aurora e o arrebol, o entardecer e o amanhecer, que gradualmente transforma uma coisa na outra e vice-versa. Na verdade são nestas horas, nesta penumbra indistinta entre dois limites que temos as mais belas visões do dia, quando o sol se põe ou quando o sol nasce, nos proporcionando deleites poéticos. Então devemos nos lembra que entre o preto e o branco existe o cinza e que até mesmo este cinza é tonalizado pelos graus de preto e branco, o dia amanhece aos poucos e lentamente a escuridão vai regredindo e a luz do dia vai aumentando progressivamente. Já pensou se as transformações diuturnas fossem digitais, binárias? É dia e de repente fica tudo claro de uma vez, como quando nós ascendemos uma lâmpada num quarto escuro? Só numa ficção das mais alucinadas não é mesmo? Claro que até neste fenômeno claro/escuro interrompido pela lâmpada elétrica existe um percurso da luz tomando as trevas paulatinamente, existe todo um trajeto que a luminosidade percorre até atingir nosso sistema visual, mas na pratica não percebemos isto, e a coisa se mostra instantânea. Acontece que é justamente assim que as pessoas julgam moralmente as outras, digitalmente, binariamente. Elas parecem não se dar conta que entre um assaltante de bancos que mata ou intimida, um ladrão de carteiras(punguista) que não põe em risco a vida do outro e um estelionatário que usa de conversa diversionista para me iludir e me fazer dar voluntariamente meu dinheiro a ele, não há graduação moral entre eles. O mesmo valendo para as pessoas que chamamos de boas, as pessoas não percebem que existem graus de bondade. Quem é melhor o Batman ou o Super-homem, o Superman ou o Homem-aranha? No caso da primeira comparação quase todos dirão que o Superman pois ele é mais perfeito, mais santo que o Batman, pois o Superman nunca matou niguém, nunca mente, não usa máscara, não tem um passado obscuro, não é um justiceiro como o Homem-morcego. Ora os dois são bons, são super-heróis, mas indubitavelmente o Kriptoniano tem uma alma mais pura, uma ação mais correta que Batman que nós últimos filmes tem se mostrado preso em dilemas morais terríveis provocado pelo Curinga, que também se mostrou menos mal por ser mais doido devido a traumas angustiantes. Perceberam o ponto que quero atingir? E o Homem-aranha? O aracnídeo seria mais ou menos um meio-termo entre os dois outros super-heróis mencionados. Ele só prende, é um jovem doce, mas teve problemas de identidade, provou um pouco do mal com aquele gosma negra do espaço, usa máscara, é mais obscuro, embora não tenha um visual tão agressivo quanto Batman, até mesmo usa as cores do Superman, vive brigando com seus ex-amigos que se tornam seus super-inimigos, embora não seja de todo culpado. Homem-aranha é um intermediário entre o Batman e o Superman. Este último é de uma perfeição moral de aço. Embora digam que ele seja um símbolo da América, com as cores de sua bandeira, eu particularmente o acho mais um Jesus Cristo, um homem perfeito idealmente. Afinal o Capitão América já é a encarnação do símbolo americano. Saindo dos quadrinhos para a vida real o que quero exemplificar com isto tudo é que existe uma escala moral, uma graduação ou gradação que foi mencionada por Platão, Por Dante, por Maomé, pela Bíblia e outras tradições, que é tão evidente que só mesmo as narrativas fabulosas de Bandidos e mocinhos, de bruxas e princesas poderiam nós condicionar a deixar de lado uma constatação intuitiva do mundo real para darmos lugar a uma idealização estanque de dois compartimentos morais separados. Ora, até mesmo entre o céu e o inferno inventaram um purgatório. Não querendo entrar profundamento nas causas deste maniqueismo moral, podemos comentar superficialmente que a cultura em geral, bem como as religiões, ou uma interpretação errada da religião tem sua parcela de contribuição desta exclusão do meio termo moral, mais açabarcar agora esta causa demandaria muito esforço. Se eu fosse um teólogo eu poderia dizer que como as divindades estavam apercebidas de que o homem não entenderia mesmo, na sua atual condição de evolução espiritual este conceito gradualista, jogou as leis morais grosso modo, nunca classificação abrangente, tosca, para depois ir afinando, sofisticando sua compreensão moral. Mas não sou teólogo, não diria isto. O presente escrito visará demonstrar ensaisticamente que não só existe esta gradação, como existe todo um ESPECTRO MORAL, é até mesmo uma hierarquia moral para o bem ou para o mal. O próprio conceito de grau, já subtende níveis, e níveis, uma hierarquia. Platão disse que entre o quente e o frio existe o morno, esta média, esta mediocridade ética é o que vamos explicitar aqui, procurando preencher o abismo ontológico que separa um santo de um criminoso com as graduações entre eles. Bem, se eu fosse um teólogo eu diria que Cristo vomitaria de sua boca esta mornidão, mas eu não sou teólogo, não diria isto, diria que se ele cospe o morno, o médio, porque não cospe uma dos extremos desagradáveis? Ou o quente ou o frio? Não era disto aqui a que Ele se referia, não vem ao caso aqui. Então resumindo: Entre a dicotomia bem e mal existe um termo médio, como entre o grande e o pequeno existe o médio. Este conceito usado classificatoriamente para julgar moralmente as pessoas nós mostrará que elas são boas, más e intermédias. Para demonstrar que existe uma percepção deste esquema gradualista de níveis morais vamos fazer um apanhado histórico de grandes homens espirituais do passado que o mencionaram de passagem ainda que não se detivessem num aprofundamento deste tema ético. Quem leu a obra de Dante a Divina Comedia percebera que mesmo no Inferno, um local de tormento eterno e aflições hediondas existe toda uma graduação, uma hierarquização em níveis quanto a classificação dos pecadores, o mesmo acontece com o purgatório e o céu. A imagem gráfica que se destaca do inferno de Dante é um cone cuja parte mais fina em direção ao centro do inferno vai se afunilando conforme os pecados vão se agravando. Nos primeiros círculos do inferno de Dante que é onde estão os condenados por incontinência, podemos perceber que tanto o número de almas, quanto a região onde estão e maior que no centro do inferno, no último circulo que tanto é menor quanto tem menos pecadores mais graves, os que pecaram por malicia não por incontinência ou bestialidade...
 

INFERNO
 
                                   Esta imagem de um cone invertido pode ser transposta para a de uma piramide invertida. As hierarquias são geralmente representadas por uma piramide e e o que acontece aqui, apenas que a piramide está de cabeça para baixo, onde que, quanto mais o pecado vai aumentando em grau, vai diminuindo o numero das almas pecadoras...
 

PURGATÓRIO

                                    Que os mundos do além de Alighiere não podem ser entendidos apenas no sentido literal mas também como símbolos ou representação de algo mais, foi dito por ele mesmo: “ O sentido desta obra não e simples; ao contrario ela e polissensa, pois outro e o sentido literal, outro aquele das coisas significadas.”
 

                                    Se observarmos a montanha do purgatório dantesca podemos notar que ela é o oposto simétrico do poço do inferno dantesca, poderíamos até num exercício de imaginação, arrancarmos a montanha e jogarmos dentro do poço. Ela se encaixaria com precisão, como um cone numa cava cônica. Este simbolismo, esta topografia imaginária representa dados matemáticos-geométricos de uma realidade moral que envolve as almas humanas, não num mundo do além, mas no mundo dos vivos. Interpreto que estes dois simbolismos do purgatório e do inferno representam uma tosca, porém realmente verdadeira classificação moral, uma hierarquia moral. Se pegarmos a pirâmide invertida do inferno e juntarmos à pirâmide regular do purgatório teremos um octaedro, ou visto de uma perspectiva chapada, se juntarmos os dois triângulos angariaremos uma losângo, onde numa ponta superior teremos os santos e numa ponta inferior os iníquos, e entre estes uma maioria escalonada nas suas respectivas posições dentro do losango, sendo que a imensa maioria das almas, das pessoas estarão no meio moral, que é a parte de maior área da figura.
 

Juntando inferno e purgatório.

                                 Poderia fazer um gráfico, mas aqui não há recursos, mas espero que o leitor tenha entendido. Quanto ao céu de Dante pode ser descartado pois apresenta perfeição, e por isto é uma ideal, e não representa o mundo real, seria um referência para as almas na ponta inferior e superior e demais almas no octaedro ou losângo ético. Assim como os economistas e sociólogos trabalham com pirâmides sócio-econômicas, com classes sociais, assim como na hierarquia militar existe uma pirâmide que a representa distribuindo os graus de poder de comando, diminuindo em número e aumentando em poder, assim como no reino animal existe uma cadeia alimentar exemplificada por uma pirâmide onde no topo, temos respectivamente no mar, terra e ar, o tubarão, o leão e a águia como menores em número mas poderosos em poder como predadores supremos dos herbívoros imensamente mais numerosos, assim como em todo sistema social que existe por mais simples que seja, a figura da pirâmide hierárquica se destaca, para ... este octaedro hierárquico como medidor de valoração de santidade/impiedade.
 
                           Por que esta hierarquia é diferente das outras, porque esta figura peculiar e não uma pirâmide? Porque é uma medida estatística cuja base em número é igual ao topo em número, como disse Platão no Fédon: “...Se procedesse com juízo, notaria que bem poucos homens são absolutamente bons ou maus, e que inúmeros são os que se encontram entre esses extremos”. E então poderíamos perguntar junto com o interlocutor de Sócrates: Que queres dizer? “-Que se dá aqui o mesmo que se dá a propósito das coisas pequeniníssimas e grandíssimas – respondeu Sócrates -Achas que pode haver coisa mais rara do que um homem enormemente grande ou extraordinariamente pequeno? E isso vale também para o cão, como para qualquer outra coisa. E não te parece também que é muito difícil encontrar-se um ser rapidíssimo e uma vagarosíssimo, assim como um belíssimo e um feiíssimo, ou um alvo e outro muito negro? Acaso não notastes por ti mesmo como são raros em todas essas coisas os pontos extremos, ao passo que os termos médios são muito mais numerosos? - De fato. -De modo que se fosse feito um concurso de maldade, não te parece também que apenas uns poucos seriam premiados ?” Na hierarquia social muitos são milionários, a maioria é pobre, embora se fosse levar esta hierarquia as últimas consequências os muito miseráveis não são mais do que os muito pobres. Na hierarquia moral muitos são pios, a maioria é mediana e outra minoria extrema é ímpia, dando assim a forma do LOSANGO ÉTICO.
 
                          Michel de Montaigne, um filósofo que me é mais acessível, afirmou no seu ensaio Da embriaguez que: “...não levar em consideração a escala de gravidade dos pecados, confundindo-os, é por certo perigoso, pois disso tirarão vantagem os assassinos, os traidores e os tiranos. Não é justo que sua consciência se alivie com a ideia de que fulano é preguiçoso, lascivo ou pouco assíduo a missa. Todos tem tendência para agravar o pecado de outrem e atenuar o próprio. E não raro até as próprias pessoas encarregadas de os esclarecer os classifica mal, a meu ver.” Isto é o que acontece quando se deixa de lado o meio-termo moral, um dos extremos, os ímpios, colocarão todos os pecadorezinhos menores do seu lado, aliviarão sua consciência de crimes enormes justificando-se por causa de pequeniníssimas transgressões disciplinares dos outros. No entender de Montaigne nós classificamos mal as pessoas moralmente. Isto se deve, moralmente, a dicotomia falsa, exclusão do meio-termo ou maniqueismo. Que uma relativização moral é usada para classificar as almas humanas está implícita em grandes tradições religiosas, por exemplo, no Islam, onde Mohamed no Corão diz que: “Há distintos graus (de graça e de condenação), aos olhos de Deus, porque Deus, bem vê tudo quanto fazem”.
 
                      Resta sabermos porque esta visão não se difundiu tanto quanto deveria.

 
                     
  Voltando a Dante, que a ambientação do além não poderia ser considerada como literal, e que a posição das almas nos vários círculos topográficos era na verdade uma classificação hierárquica é explicitado no final do livro, na terceira parte, sob o subtítulo de Céu. É dito a ele por sua amada Beatriz que: “...as almas que viste nesta esfera a ela não estão circunscritas; mas o estarem aqui indica A GRADAÇÃO DE SUA BEATITUDE. Este é o modo de fazer com que teu entendimento penetre tais coisas, pois o ser humano aceita pelos sentidos antes de fazê-lo pelo espirito.” Mais claro impossível: todo o inferno, purgatório e paraíso são representações imagéticas para que Dante possa compreender pelos sentidos o que seria dificílimo compreender apenas pela razão. Um estuprador e um santo podem estar num mesmo local geográfico aqui na terra, mas espiritualmente estarão em esferas morais distintas.


Céu e inferno são metáforas de níveis morais.
 
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Continuará, um dia...
 
ABSOLUTUM





segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Z I G O T O


 Tributo a Orwell, Huxley, Bradbury e a todos os distopistas e autonomeados engenheiros sociais.   
“Evoluímos, assim, para uma sociedade onde não haverá mais a diferença entre adultos e crianças, pois todos serão menores de idade; onde já não haverá pais e filhos — somente a multidão inumerável dos órfãos de todas as idades, reunidos num imenso colégio interno sob a tutela do Estado bedel, cada um com um luzente crachá de “cidadão”... Niveladas todas as diferenças, cada ser humano torna-se uma unidade abstrata e amorfa, o "cidadão", nem homem nem mulher, nem criança nem adulto, nem jovem nem velho, cuja soma compõe a massa atomística dos protegidos do Estado  – Olavo de Carvalho, em O Jardim das Aflições.
"...Vivem num mundo particular, restrito, e tão limitado quanto um Ovo, de couraça indestrutível a qualquer forma de evidência ou argumento...Quem quiser entretanto, pode sair de seu ovo, e descobrir um Universo muitíssimo maior, de bilhões de anos-luz de distância, com um futuro ilimitado pela frente, e abrindo as asas da mente, voar pelos ares do conhecimento e das possibilidades." Marcus Valério XR

ZIGOTO

 INOCÊNCIA, CONTROLE RÍGIDO.


                                  Depois da morte, para onde vamos? Cessa nossa consciência? Está é a grande questão, maior até do que saber se Deus existe ou não, se não existiremos indefinidamente, que nos serve Deus? Só ele terá consciência eterna, para nós será indiferente. A grande questão é a IMORTALIDADE.

                                  Estava passeando tranqüilamente pela praça da Igreja matriz observando os pombos branquinhos sendo alimentados pelas pessoas solícitas, via estudantes passando vindos do colégio com destino as suas casas, automóveis contornando a praça em sentido anti-horário, pássaros na copa das árvores decanas. Resolvi sentar-me para descansar, comprei um saco de pipoca doce, com gosto do maná no deserto. Um senhor vestido de terno creme e gravata amarela com sua bengala de madeira, aparentando uns 80 anos, sentou-se ao meu lado com uma certa dificuldade, naquela trêmula movimentação da maioria dos anciãos. Seus cabelos grisalhos seu olhar singelo transmitiam paz e respeito. Imaginei-me quando tivesse aquela idade, e me chegassem as cãs. Passou pela minha mente como um flash à idéia de morrer jovem, antes de chegar a um estado trôpego como aquele. De que vale a “longura de dias” se nosso fim é em fadiga, cansaço e dores? Fiz um comentário sobre uns jovens que passavam com seus piercings e tatuagens e ele me disse que do lugar de onde vinha realmente não tinha isto de piercing, mas que tinha muito jovem isso sim, tinha muito... Então ele passou a relembrar seu passado e contar a sua história...

                                      Incrustado no meio da selva amazônica dizia o senhor, existira certa vez a “terra-do-nunca” de localização geográfica imprecisa, com camuflagem holográfica que despistaria os aviões que sobrevoassem a mata dando a eles a impressão de só haver vegetação no local, escondendo todo um país sob um enorme escudo baseado no laser e íons que cobria como um manto de ilusão um país chamado Zigoto, que diferentemente de todos os outros países do planeta terra, estava uns 03 séculos à frente de seu tempo em tecnologia e ciência, embora não o estivesse em ética e política. Um certo dia um pequeno avião, sofreu uma avaria e despencou do ar, vindo a cair sobre Zigoto, em uma área despovoada, quando a aeronave rompeu a placenta diversionista que encobria o país, ainda deu tempo de os pilotos virem a cidade e se assustarem antes de ficarem inconscientes no sono eterno. O único sobrevivente deste acidente aéreo foi uma criança de colo, um bebezinho rosado, que aos berros ensandecedores, chorava sobre os corpos de seus pais mortos. Faleceram os dois pilotos e os pais do garoto. Dali e meia hora, um carro pequeno multicolorido com a velha cruz vermelha e o giroflex rodando com pneus pequenos e borrachudos, parou seguido de enormes seres mecânicos, grandes robôs de combate, chamados de Guardiões-gigantes. Do carro saíram três crianças apressadas que vestidas de branco inspecionaram os corpos e ao localizarem o garotinho sobrevivente, o colocaram numa espécie da caixa plástica transparente alcochoada com uma almofada translúcida de cor néon, cheia de buraquinhos como aquelas caixas de se colocar animais de dondocas. As três crianças vestidas todas de branco com mascaras plásticas cobrindo os rostos e luvas também plásticas levaram o contêiner com o bebê e o colocaram na ambulância exótica que partiu lentamente girando as luzes fulgurantes, a seguir os enormes seres metálicos de estatura de uns dois metros e meio, com aspecto das armaduras dos cavaleiros medievais, ou gladiadores romanos apontaram as mãos para a nave sinistrada e sobre o antebraço dos autômatos deslizou uma protuberância saliente com um orifício no meio. Era uma arma de ataque, um lança chamas, do orifício saiu fogo fortíssimo como uma "coluna horizontal" azul-alaranjada, deixaram a aeronave para trás, acabando-se em cinza, juntamente com os corpos em processo de carbonização. A cena durou apenas uns quarentas minutos não foi testemunhada por ninguém exceto por alguém que estava diretamente envolvido com aqueles procedimentos. Mais tarde esta criança resgatada recebeu o nome de Ernu, foi condicionada, treinada, adestrada, foi adaptada a sociedade que ali vivia, um micro-país isolado e desconhecido do resto do mundo. O nome do país era Zigoto, a capital do país Khimera. Zigoto é o mesmo que Ovo, de um ovo pode sair alguma coisa, uma criatura ou apenas um odor insuportável, algo bom ou algo mal, algo positivo ou negativo, Zigoto também é o óvulo, que significa ovo pequeno, o óvulo começa como algo ínfimo e se transforma em algo grande como um rinoceronte, um hipopótamo, um elefante ou uma baleia, ou como animais amazônicos como Pacas e Cutias, Manatis e Sucuris. Khimera o nome da capital deste país lembrava ilusão. E assim este menino cresceu nos anos seguintes dentro deste estranho reino encantado, num lugar improvável para uma civilização tão avançada. Ernu contava então já com seus 10 anos, era um menino claro, dos cabelos pretos, olhar vivo, vestia seu macacão branco com o emblema que para nós poderia significar a cruz vermelha. Ernu era o que para nós seria um enfermeiro. Ele mancava um pouco da perna esquerda, graças a um acidente de patinação, nas grandes pistas artificias de Milânia. Ganhou mais uma cicatriz, fora as que tinha nas costas devido ao acidente aéreo. Er, forma carinhosa como chamavam-no, embora se comporta-se como os demais Zigoteses pensava diferente, sempre achando que havia algo de errado com aquele lugar. Era um rebelde nato, não importava em qual sociedade tivesse nascido, ainda mais em um mundo certinho como aquele. Ele estudava na biblioteca publica estadual geral de Khimera e descobria algumas coisas da biologia que o deixavam suspeito sobre alguns procedimentos nacionais. Não havia as matérias História, geografia, sociologia, apenas biologia e instruções para a produção na sociedade. A biologia visava assombrar com descrições de animais terríveis. Mais do que tudo, ele sentia diferente, ele não tinha as reações emocionais e reflexos como os outros mesmo tendo recebido o treinamento comportamental que as crianças Zigotenses recebiam desde tenra idade, ele se achava meio deslocado. Como um estranho no ninho, ou um antropólogo em Marte. Mas ainda assim, na aparência e comportamento superficial ele se integrava perfeitamente aquela sociedade, mesmo sem saber que seu comportamento era observado com mais atenção por entidades que ele não conhecia, mas que precisavam dele, muito. Ele passeava por Khimera no meio de sua população formada de meninos e meninas de no máximo 12 anos. Todo o país não tinha nenhuma pessoa com mais de 12 anos. Era uma paródia infantil da nossa sociedade. A diferença era mais artística e cultural, os veículos eram multicoloridos, os prédios pluricoloridos, a arquitetura mais compacta, as ruas mais estreitas, os prédios mais baixos, como uma cidade de imitação, mas que pulsava e funcionava como uma cidade normal. Na nossa civilização ocidental e por extensão em quase toda a nossa Terra, os padrões multicoloridos são atribuídos a crianças, mulheres, homossexuais e povos tribais. Os padrões monocromáticos são atribuídos aos adultos, aos poderosos e as coisas mais antigas. O Rosa, o laranja, o vermelho, o amarelo, bolinhas, florinhas, estrelinhas e coisas deste tipo forravam os edifícios de Zigoto, todos os padrões infantis, como nas nossas creches, jardins de infância e colégios. Exceto um único edifício no centro de Khimera, esta era a tonalidade de Zigoto. As crianças todas sem exceção usavam macacões de varias cores, que cobriam todo o corpo, inclusive com um colarinho que aconchegava todo o pescoço, semelhantes aos macacões de nossos pilotos de fórmula um, a diferença nas cores dos macacões diferenciava as diferentes profissões ali. Macacões brancos, enfermeiros, pretos, burocratas, marrons, mecânicos, etc. Havia também o nome pessoal numa tarjeta sobre o peito direito, a maneira dos militares, um pequeno símbolo no ombro esquerdo indicava a procedência ou cidade de origem e outro sua idade, os mais velhos eram responsáveis pelos mais novos hierarquicamente, quanto mais velho mais responsabilidade e comando sobre os mais novos, isto era obedecido instintivamente. Não se vestiam individualisticamente, como nas sociedades livres, eram roupas coletivas e padronizadas, que visavam despersonalizar, coletivizar pensamentos, sentimentos, reações, emoções. Apesar do padrão multicor, a moda na forma e desenho, não era assim. Mas apesar desta uniformidade não eram sérios, agiam como crianças na maior parte das vezes, brincavam muito, trabalhavam umas 04 horas por dia apenas. O restante era dedicado a atividades recreativas. Moravam em unidades coloniais, dormiam em beliches, a maneira dos internatos, dos presídios, dos quartéis, dos hospitais, hospícios, monastérios, enfim, se vestiam coletivamente e moravam coletivamente, sem possibilidade de ficarem sozinhos por muito tempo, e desenvolverem pensamentos independentes. Na hora de comerem pegavam suas bandejas e esperavam numa fila pacientemente a comida ser servida pelas máquinas. Sobre toda urbe, havia enormes telões que passavam desenhos animados, videoclipes, espetáculos diversos durante todo o período do dia em que estavam acordados. As crianças ficavam com os olhos grudados nas telas e telões daquela forma que quem tem filhos sabe como eles ficam assistindo ou jogando vídeo-games, ou teclando com os amigos, embora esta ultima opção não seja tão passiva como as duas primeiras. As incríveis historias que se desenrolavam nos monitores eram confeccionadas no ministério da informação, cujo coordenador era Gombu, um do governantes daquele pais. Não existia família como conhecíamos, não havia nem mesmo o conceito de pai ou mãe ou irmão ou qualquer outro laço consangüíneo, ninguém era parente de ninguém em Zigoto, na havia filhos ou netos, sobrinhos, nem mesmo cunhados. Só os velhos amigos de sempre. Mas para compensar isto, não havia solidão, pois tudo era grupal, havia clubes de peteca, associações de tiro ao pato-plastico, sindicatos de colecionadores de piadas, cooperativas de corredores, sociedades esportivas, cientificas, recreativas, e tutti quanti. Zigoto era uma sociedade sem o que tradicionalmente se chama de célula, a família, mantida coesa pelo socialismo total, onde todos eram iguais perante o Estado-soberano. Um Estado que nem mesmo era compreendido pela população, cujos governantes, eram os misteriosos Senadores, meninos de cabelos grisalhos e falar pomposo, que só apareciam numa tela, a maneira do Grande Irmão Orweliano. Os zigotense as vezes os achavam metidos e antipáticos, mas estavam condicionados a obedecê-los. Não havia mortes por doenças, não havia fome, não havia crime graves, era a sociedade perfeita, um projeto de engenharia social de uma maestria sobre-humana. Havia igualdade, mas não havia a liberdade de cada um ser como quisese, teriam que ser como todos, se fundindo e se diluindo no grupo, na orda, no rebanho, pois no fundo era isso o que Zigoto era, uma fazenda de humanos, mantidos bem tratados para fins macabros. Mas havia um zigotense que tinha umas interrogações sobre o status quo, o sistema, ou como se diz ao sul da Floresta amazônica, sobre isto tudo que está ai. Na unidade de moradia em que Ernu habitava havia algumas pessoas que eram mais próximas dele. Na ala feminina do complexo tinha uma garota chamada Wenlu, por quem ele sentia uma enorme alegria quando estava perto, e uma grande falta quando longe. A propinqüidade enternece. Na hora do almoço Ernu pegou sua bandeja e foi sentar-se perto de Wenlu:
 - Benigna manhã, Wenlu!
- Benigna! - Como foi o serviço na Enfermaria hoje!
 - Foi bom, pintei vários braços engessados de canetinhas hidrocor, tirei pressão, medi altura, pesei, e encaminhei para o serviço especializado de acordo com o diagnóstico do computador-medico. E Você lindão, o que fez hoje?
- A mesma coisa. Um fazendeiro cortou o dedo, mas está passando bem, logo logo ele vai para a Ciranda e ganha outro dedo novinho! Mas estou pesando uma coisa! Você tem 11 anos, ano que vem você vai para a cerimônia da Ciranda, não vou mais te ver, a não ser como uma nova criança de nome Wenlu que nem vai se parecer com você.
- Sim e continuaremos amigos e poderei brincar como quando era criança, e daqui a dois anos, vc vai ser reciclado e seremos dois bebezinhos, uhhh! Que bonitinho meu Ernu bebê - e apertou a bochecha dele com força.
- Sei não, acho isto estranho! Nunca entendi isto, porque a gente não continua crescendo depois dos 12, somando 13, 14, 15, sei lá, o que aconteceria se não existisse o reciclo? Se somos diferentes com 1 ano e agora com 10, como seria com 20, se continuarmos a crescer como ficaremos? - Sei não, mas deixa de ser bobo Ernu, e assim que as coisas funcionam, é a roda do destino, como falou o Senador na tele-tela. Pra que se preocupar? Hoje à tarde eu gostaria que a gente fosse jogar tropo-ranger !
- Ótimo! Legal! Benigna tarde vai ser esta! Você preencheu o formulário de requisição de outro capacete? – sempre que uma coisa quebrava as crianças tinham que informar ao Pai-estado para receberem outra peça.

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Em zigoto quando a criança completava 12 anos, era enviada para o prédio do conselho, no centro da capital Khimera, lá numa pomposa cerimônia ela descia num pequeno elevador para o subsolo do prédio e segundo a tradição seria transmutada em energia que formaria o corpo de uma nova criancinha, como uma espécie de mini-reencarnaçao artificial, a justificativa para isso não era dada razoavelmente, mas diziam que era preciso renovar as coisas para a sociedade continuar funcionando para o bem de todos e tal. Com 12 anos o zigotenses se despedia de seus amigos, se encaminhava ao prédio do conselho, prédio este que se destacava da arquitetura padrão de zigoto. O conselho era uma enorme pirâmide negra, de metal verde-escuro, fosco, que ficava exatamente no centro de Khimera, tinha quatro lados, separados por um sulco de um metro que ia do topo a base, às vezes emitia luzes difusas. O zigotense que estava habilitado para a reciclagem se apresentava na idade estipulada, como no nosso mundo, um jovem de 18 anos se apresenta ao exército. De lá ela nunca mais voltava. Pouco tempo depois uma criança com o mesmo nome era incluído nos berçários estatais, vindo do ministério da reprodução artificial, o local de onde os zigotenses entravam no mundo. Não havia sexo em Zigoto, nem mesmo namoro, esta faceta de relacionamento era inexistente, os relacionamentos eram só de amizade, nenhum zigotense compreenderia um menino e uma menina ficando sozinhos a maior parte do tempo, separados dos demais, seriam considerados egoístas e esquisitos, a reprodução se dava por “proveta”, mas aos Zigotenses o conselho dos Anciãos (título nobre dos governantes), lhes ensinava que as crianças novas que vinham eram aquelas mesmas que iam para a cerimônia da Ciranda. Num movimento circular, as pessoas completavam 12 anos e voltavam com um mês. De fato a população de Zigoto não aumentava nem diminuía permanecia em torno de seus 200.000, espalhados pelas 40 cidades fora a capital Khimera, nos distritos e zonas rurais, pelas fazendas estatais e adjacências. Os limites externos eram vigiados pelas grandes maquinas humanóides chamadas os Guardiões-gigantes, que proibiam que ultrapassassem os limites da grande mata, como chamavam a Floresta. Os senadores pregavam para os zigotenses que fora da orla de zigoto só havia animais selvagens como onças-pintadas, sucuris, jacarés enormes, e toda forma de perigo, por isso não era autorizado aos nacionais ultrapassarem as barreiras. Aqui se vê que no fundo o país era uma grande prisão. Não havia muita necessidade do policiamento, pois os habitantes de Zigoto não sentiam mesmo vontade de se aventurar para além da zona permitida, obedeciam sempre aos Senadores. Este conselho de Anciãos era formado por 12 crianças que nunca eram vistas pessoalmente, apareciam na telas, visores, painéis televisivos gigantescos, falando em rede a nação zigotense. Duas diferenças separavam os senadores dos zigotenses comuns. Os senadores tinham os cabelos compridos e brancos, e falavam de forma mais erudita, mais precisa, num idioma formal, com um certo pedantismo. Mas descontados estes dois diferenciais eram exatamente como os demais zigotenses. Outra diferença era que há muitos anos, os mesmos senadores se mostravam nos telões, sendo que aparentemente não passavam na cerimônia da Ciranda. No país as crianças mais velhas cuidavam das mais novas com o apoio da tecnologia avançada, na verdade a alimentação era automatizada, as roupas eram dadas lavadas por andróides, tudo é informatizado, tudo funciona controlado por computadores, automatizados, eletrônicos, assim compensando a baixa faixa etária de seus moradores precoces. As fazendas também são automatizadas todas as plantações são cuidadas por computadores, e autômatos. As vacas são ordenhadas mecanicamente as frutas são colhidas pelas máquinas às crianças cuidam apenas das tarefas mais repetitivas como apertar os botões, tarefas simples, puxar alavancas, pisar em pedais. Assim vivia Ernu em sua ligeira vida. Quando disse que Ernu era enfermeiro, isto não queria dizer que ele tinha conhecimentos de enfermagem, ele só repetia as tarefas símias que os computadores ordenavam, era apenas uma ferramenta biológica para manipular coisas no mundo, quem fazia tudo eram os programas médicos. As crianças faziam as funções que chipanzés e orangotangos realizariam sem problemas. Assim também era para as demais profissões na sociedade. Até mesmo a policia comportamental zigotense, formada por meninos e meninas uniformizados como policiais-mirins, só obedecia aos grandes Guardiões-gigantes. Atuando em pequenas briguinhas sem importância.(Não havia nenhuma profissão especializada de fato, conhecimento ficava armazenado em computadores como, por exemplo, o computador central de medicina a quem recorriam todos os auxiliares de enfermagem, o computador central de mecânica a que recorriam os auxiliares de mecânicos , etc.) explica-se: devido a “baixa expectativa de vida” não se tinha como treinar profissões se estudava apenas coisas elementares em dois anos nas escolas públicas o resto as máquinas cuidavam. Embora se parecesse uma versão infantil de nossa sociedade com seus carros reduzidos para se adaptarem aos corpos das crianças, de longe, era uma réplica perfeita de nosso mundo no final do século XX, exceto pela faixa etária.


CAPITULO 02


                                                              Um telão enorme no alto de um edifício estatal (todos eram estatais) que tinha uma espécie de Shop Center (onde não se vendia, se solicitava através de um formulário) ficou todo prateado, interrompendo um filme sobre um super-herói. Quando os telões ficavam prateados e uma música imponente começava a tocar, todos os zigotenses miravam os mesmos, pois um dos senadores falaria a nação em cadeia de mídias. Uma garota bonita e séria, com olhos quase prateados e cabelos brancos como lã, apareceu nos monitores, era a senadora Jezu:

-Benigna noite minhas crianças cidadãs de Zigoto, terra harmoniosa de felicidade perene - falou num tom diferente dos demais cidadãos - hoje milhares de cidadãos zigotenses se apresentaram para seu dever cívico perante o Estado, na cerimônia da Ciranda. Nós do Corpo Governante (os doze anciãos) agradecemos por isso! Façam sempre isto e farão muito contente, nós o vosso escravo fiel e discreto que damos a vocês o alimento no seu tempo apropriado. Desde muito tempo a ordem das coisas tem sido esta e é dado o privilégio aos cidadãos retornarem como bebês e repetirem de novo todas as brincadeiras que já não são mais permitidas aos mais velhos fazerem. Porem temos notado de uns tempos para cá que alguns cidadãos não se apresentaram no tempo certo! Alguns se atrasaram semanas e por isso tivemos que ir atrás, intimá-los a comparecerem. Houve um caso em que um zigotense sumiu por completo! O primeiro em toda a Historia de Zigoto! Há rumores de que algumas crianças estão resistindo a se apresentarem à cerimônia! Por isso todos deverão assim que puderem se apresentar as Escolas de Doutrina da Vida, onde aprenderão os benefícios da cerimônia da Ciranda! Lembrem-se sempre que nós cuidamos de vocês, quem poderia amar mais vocês do que nós o Corpo Governante, compareçam no dia certo a Ciranda, não se aventurem para fora da zona permitida e assim demonstrarão que nós amam, obedecendo a nossa Organização visível. Para a felicidade de todos, abençoada seja Zigoto! Benigna noite, minhas crianças!- O telão ficou prateado e depois apagou, na seqüência voltaram às transmissões normais, e um herói destruía um monstro horrível com um jato de energia.


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                                            Em um setor de Metrinian, uma pequena cidade ao norte da capital, os Guardiões-gigantes foram acionados, juntamente com a Policia-infante, um dos telões tinha sido danificado por uma pedrada e perto havia uma pichação: DIREITO DE CRESCER! Pelo visto ventos revolucionários começavam a soprar sobe o país.


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                                       Os Guardiões-gigantes imensos seres de metal, começaram a marchar pela rua marginal ao rio Crizamon, atrás e a frente iam dois pelotões de crianças uniformizadas como os escoteiros, os balilas ou bandeirantes. Segundo estimativas da central de informação 09 membros da sociedade estavam em débito com a cerimônia da Ciranda. Cidadãos, 0-18/Ramu, 0-123/Fernu, 0-75/Attu, O4-485/Ventu, 1-76/Alu, 34-09/Trinu, 88-89/Escu, 00-128/Abru, 78-23/Jevu, de vários distritos do país. Destes todos foram encontrados com excessão de um. Foram “convidados” a se apresentarem na grande pirâmide negra-azulada, para a cerimônia de praze. Um foi na viatura-médica, provavelmente resistira e fora drogado.

                                           Em zigoto diferentemente de todo país ou povo da Terra, não havia História como conhecemos, nunca se explicavam como se formou zigoto, o que acontecera antes, quando a senadora em declaração ao país falou de Historia, eles entenderam como acontecimentos de 05 anos atrás ou historia do dia-à-dia. Não havia religião em zigoto, exceto a roda cíclica da Ciranda, não havia mitologia, deuses, heróis de guerra, fundadores, mártires. A historia de zigoto era como a linha do tempo no oriente, circular, um eterno retorno que durava 12 anos apenas, para todos a vida era restrita a este período, que se repetia indefinidamente numa década perpetua. Não havia a linha reta do tempo dos ocidentais. Não havia nem mesmo futuro, a Ciranda era o futuro, o ministério da reprodução era o começo. O sistema era simples e sem complexidade. As crianças viviam presas num limbo de infância perpetua, brincavam e brincavam e depois, começavam tudo de novo mais novas. Este era o mundo dos zigotenses, ralo, raso, limitado e achatado, um presente-perpetuo, sem retrospectiva, sem perspectiva. O sonho de muita gente, que sente saudades de sua infância perdida e daria tudo para retornar. Bom... Era isso que a ideologia zigotense pregava! E era este o clima psicológico do país.


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                                          Ernu e Lanu estavam vestidos com capacetes, ombreiras, tornozeleiras, cotoveleiras e botas fortes, com impulsionadores biomecânicos, que dava ao salto uns 50% a mais de impulso:

-Bloqueia esta Wenlu! – Gritou saltando no ar e batendo na bola com uma grossa luva de couro sintético, na cratera quadrada do outro lado da parede a menina se ajoelhou e recebeu a bola com as mãos unidas fazendo a bola duríssima ricochetear batendo em cima dos dois antebraços unidos:
 -Ciranda me salve! Toma essa! -Gritou Wenlu arfante. A bola subiu do cubículo escavado na rocha e sobrevoou a parede que servia de rede. Ernu subiu, ia cortar com força arremessando a bola para o quadrado de Wenlu mais no instante em que o braço ia à metade do caminho, ele torceu um pouco a rotação do braço e arremessou a bola para fora do buraco de propósito. Escolheu perder pra agradar a menina. Mas gritou hipocritamente: Caraca! Que droga! – a bola bateu fora do cubículo no chão reto. Depois do jogo os dois tiravam os equipamentos e riam exaltados:
 -Que jogo hein! Radical sua defesa Wen!
-Obrigada Ernu, nos jogos de integração nacional quero ser sua parceira, ai nos vamos detonar o time de Zirina! Vai ser meu último jogo antes da Ciranda, quero ganhar uma medalha! – Ernu desfez o sorriso gradualmente, tentou esboçar outro, previu que não teria a presença dela por muito tempo:
- Você ficou sabendo que um menino de Zirina fugiu da Ciranda?-perguntou Ernu friamente
-Sim, por que será? -Sei lá eu! Eu também queria descobrir! –na verdade ele sentia que o motivo era simples, ele sentia como o fugitivo, ele mesmo não fora feito para a cerimônia e estava disposto a impedir Wenlu de se apresentar a ela. Problemas para a ordem de Zigoto.


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                      Os sensores óticos do Guardião-gigante Z-17, especializado em monitoramento de pichações (uns dos poucos crimes considerados mais graves) percorria o bairro sossegadamente, examinava as enormes estátuas de personagens de desenhos animados no meio da praça, volteava nos letreiros de hotéis de estadia temporária do estado, o atalaia vistoriava passarelas condomínios coletivos, alamedas a esta altura da noite despovoadas... Ali na frente umas espécies de creche coletiva, crianças de 01 a 05 anos eram cuidadas por andróides e crianças de 10 anos. Durante toda à noite ouviam uma gravação baixíssima com a doutrinação do conselho do Corpo Governante:
“Brincar é arte, a Ciranda faz parte, não há coisa melhor do que ir para a Ciranda!”
 Assim desde cedo se criava o condicionamento para aceitar a Ciranda. Músicas de ninar se misturava a ideologia pavloviana, adoçando o sono dos impúberes inocentes. Mesmo antes já eram manipuladas geneticamente para se eliminar todo traço de agressividade, ou de características rebeldes. Eram controlados na subjetividade e objetividade, dentro e fora, na mente e no mundo. Era Orwell e Huxley. Assim anos após ano elas aprendiam que: Brincar é arte, a Ciranda faz parte! Nunca um zigotense, diferentemente de nós, fora da orla da grande mata, vira um velho ou mesmo um adolescente. Não existiam palavras para idoso, adolescente, adulto, a palavra velho era usada para objetos. Não havia os conceitos, pois não havia o que designar com eles. Quando uma criança morria de acidente, o corpo era levado para a enfermaria e lá davam sumiço nele, diziam que tinha ido para a Ciranda, mesmo sem ter completado a idade. A capital de Zigoto, a grande Khimera era uma grande metropoli-mirim, brilhava como o aspecto de ouro e de pedras preciosas pelo multicolorido das janelas dos prédios... As cores predominantes eram o rosa, vermelho, laranja, pink, amarelo. Quem em sã consciência poderia achar que crianças conseguiriam construir algo como aquilo?


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           Antes de ir para o Hospital Geral da capital Khimera, Ernu deu um beijo no rosto de Wenlu que se retraiu assustada puxando o rosto para trás. Não disse nada mostrou uma expressão de extranhamento que aos poucos foi se desfazendo dando lugar a um brilho apagado no olhar:
 -Por que fez isto?
-Sei lá! – disse Ernu sorrindo. Teu rosto puxou meus lábios.
-Faz de novo! -Smack! - Beijou Ernu em Wenlu.
-Tchau! Estrelinha! – disse Wenlu, cheirou sua estrela branca na munhequeira preta na mão. Ernu entrou no carro compacto com mais 03 meninos de macacão branco e se dirigiu ao serviço de 04 horas. No trajeto percorria mentalmente um plano que vinha elaborando há tempo. Como fugir de Khimera e Zigoto levando Wenlu, não queria vê-la tornada em bebê. No alge de seus 11 anos, via-se defronte de um problema insolúvel, olhou para uma das grandes estatuas de um Urso de colarinho e gravata no meio da praça e pensou: O que acontece se não existir a Ciranda? Como seria uma pessoa com 17 anos? Existem pessoas fora da orla da grande mata? Lembrou da enorme sucuri que vira num documentaria no Ministério da Vida e um frio passou pela sua jovem espinha... Este ano daqui a alguns meses Wen iria para a Ciranda e ano que vem era a vez dele. Sabia que os bebês que retornavam não lembravam da vida passada. E se não fossem os mesmos? Um zigotense um pouco gordinho do que a média patinava sobre rodas nos pés, aquilo lhe dava uma aparência de taque de guerra, olhou para Ernu inflou a bochecha e estocou o dedo indicador na mesma, fazendo um barulho, ernu de dentro da carro sorriu e fez o mesmo inflando e estocando a bochecha com os indicadores varias vezes. O veículo semicoletivo dobrou a rua chegando ao destino o Hospital Geral de Khimera, um enorme embuste, pois não havia doença no país, apenas acidentes menores. Ernu entrou através da porta automática do prédio de medicina, sua função era obedecer aos comandos das vozes metálicas que saiam dos autofalantes nas paredes auxiliando os acidentados que chegavam de várias partes. Os gessos para as fraturas eram rosas, vermelhos, amarelos, com estrelinhas, florinhas, ele mesmo pintava depois que os robôs cuidavam da parte séria. Olhou pela janela e viu os enormes vigilantes de ferro, os grades robôs que mantinham a ordem em Zigoto. Ernu sempre se perguntava por que tão grandes máquinas se tudo era tão ordeiro neste país, e só as crianças pequenas davam um pouco de trabalho, mas para isto se tinham as babás mais velhas. Leu uma vez na enciclopédia central que as Guardiões-gigantes são equipados com lanternas de faizeres, armas tazers que dão choques, geléias escorregadias, e espumas grudentas que endurecem ao contacto com o ar e imobilizam o inimigo. Alguns Guardiões-gigantes podem esguichar um óleo antitração que impossibilitam qualquer pessoa parar em pé acima dele. Também tem dispositivos lanças foguetes que lançam uma teia semelhante à das aranhas, espray de gás de pimenta, gás lacrimogêneo. Um Guardião valia por uma tropa de choque. Pensou que as criaturas que habitavam zigoto mereciam tanto cuidado, caso de ataque de monstros ou algo parecido. Mas contra que inimigos tantas armas? Percebia que os outros não se preocupavam com as presença exagerada dos Guardiões-gigantes e da policia-mirim num lugar tão quieto como aquele pais. Os Guardiões vigiavam, mas será que puniriam? Quando chegou no alojamento chamou Wenlu e alguns amigos e foram ao cinema ver as ultimas novidades em cómedias e aventuras. No dia seguinte enquanto ia buscar uma caixa de medicamento na central de abastecimento medico uma explosão perto roubou sua atenção. Uma enorme estátua de um personagem em forma de crocodilo tinha sido explodida num atentado, e virado milhares de pedaços:
-Vejam o jacaré Dilermando foi destruído!!! Gritaram transeuntes.
-Por que alguém faria aquilo com uma estatua? Ainda mais daquele personagem querido? - No pedestal da estátua foi deixado uma inscrição: ABAIXO A CIRANDA! VIVA A LIBERDADE! Ernu não entendeu o conceito de liberdade, mas a primeira parte da oração mexeu com ele, era como se o próprio Ernu tivesse escrito! Ernu pegou a caixa de medicamentos, sacudiu o pó do macacão branco e da cabeça, ficou olhando atônito para todos os lados. Ernu, se refazendo do susto viu no meio da fumaça, do cheiro de queimado e das ações dos Guardião-gigantes bombeiros apoiados por bombeiros-mirins um veiculo tipo militar, um jepee , ocupado por uns sujeitos estranhos, vestidos com roupas não convencionais, com faixas amarradas na cabeça, com uma enorme haste saindo do carro com uma bandeira vermelha com o desenho de um rato segurado uma marreta. Houve outra explosão ao longe, mas não deu pra identificar o carro, só a fumaça e a movimentação de um outro veiculo que sumiu em direção a mata. Ernu, pequeno, tremeu de medo diante de seu primeiro atentado terrorista da história, sem vítimas, a não ser um jacaré de pedra, uma representação de uma ilusão. Mas que o deixou assustado deixou, e uma grande multidão. Mas no fundo o deixou com um misto de satisfação e esperança, curiosidade e gratidão. Logo a paz retornou, só ficando no local a equipe de limpeza.

 CAPÍTULO 03

                                    Em todos os monitores de todos os televisores e afins do país apareceu o rosto da Senadora Jezu, a bonita menina, culta e de maneiras comedidas e linguajar diferente. A senadora em rede nacional lhes disse:
-Caros amigos Zigotenses, camaradas! A Estátua de Dilermando, e um prédio foram atacados por perigosos terroristas subversivos, que se autodenominam Ratos, zigotenses extraviados ao longo de uma década, que para vossa proteção, não vos tínhamos informado, Ratos estes, cujos objetivos desconhecemos. Um Guardião-gigante foi desfalcado de nossa carga da fazenda estatal, capturado por estes desertores e armas foram levadas! Não sabemos como conseguiram paralisar o Guardião. A paz reinou durante muito tempo, mas esta ameaça exógena nos obriga a tomar medidas duras. Nunca na história deste país ou desde sempre, nenhum cidadão zigotense falou ou ouviu falar em agressão em prédios públicos nem em inscrições fazendo reivindicações contra nossos costumes ancestrais! Declaramos os terroristas que se denominam Ratos inimigos públicos e que se algum cidadão zigotense souber algo ou o paradeiro de algum menino foragido que os entregue aos Guardiões-gigantes, para as devidas providencias! Quanto à cerimônia da Ciranda, é uma cerimônia necessária para a manutenção da vida e da felicidade em Zigoto. Até agora os terroristas não feriram ninguém mais isto pode acontecer. Nem dêem ouvidos as palavras deles! São apóstatas e vieram para espancar seus irmãos. – a tela ficou prateada deixando boquiaberto toda Zigoto. Ernu ficou pensando enquanto se dirigia para casa sobre o significado de tudo aquilo, nunca virá nada parecido. Lembrou-se de Wenlu, pensou que se conseguisse levar ela até estes tais de Ratos, ela estaria salva da Ciranda. A cerimônia da Ciranda era uma ocasião especial na vida do zigotense, quando ele completava seu pleno período de idade, se arrumava todo, bem bonitinho, como se fosse a um batizado, se despedia de seus amigos e era escoltado por policiais mirins até a cúpula dos Senadores, pela primeira vez na vida ele entrava naquela pirâmide um privilégio único na vida, ao adentrar na cerimônia oficial ele se apresentava no centro de um circulo formado por sacerdotes-pedomórficos vestidos de preto, os iogues-comissários, no chão, havia uma espécie de círculo sulcando o chão de metal, onde o menino ficava no meio, cantavam canções patrióticas ao som de marchas grandiosas enquanto a plataforma circular descia ao subsolo, levando gradualmente a criança que nunca mais era vista.


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      Quando Ernu se deitou no seu beliche seu amigo de baixo indagou:
 -Cara, o atentado foi perto do Hospital, você viu?
-Vi sim, Tregu!
-Você viu quem era eles, eram conhecidos?
 -Não, eram desconhecidos, alguns eram maiores do que nós, não sabia que tinham pessoas daquele tamanho, tinha um que era quase do tamanho de um Guardião, eu mesmo vi, todos gritavam e parece que estavam bem motivados, bem revoltados, por que será?
-Quem sabe? Acho que devemos sempre acatar os conselhos dos senadores principais e não nos preocupar -mos com estes tais de ratazanas e se os virmos devemos denunciá-los às autoridades!
 - Ernu se calou, não faria isto, já se sentia um Rato. Por alguns dias as coisas voltaram a rotina em Zigoto. Mas nas semanas seguintes outros ataques se sucederam, bombas em prédios, praças e logradouros públicos, mas aparentemente não feriram niguem. Sempre respondido pela pronta ação dos onipresentes Guardiões e posteriormente pela polícia zigotense. Ataque e retirada, ataque e retirada, a velha tática de guerrilha, como a cobra no caminho do búfalo. Nosso pequeno Ernu e sua Wenlu, juntamente com zigoto acompanharam o desenrolar dos eventos destas forças de ataque contra as estruturas da capital Khimera e outras cidades. Mas nenhum cidadão, nem mesmo Wenlu ficou tão intrigado quanto Ernu. Nas semanas que se seguiram os ataques rápidos e as retiradas continuaram, armas dos Guardiões-gigantes, mantimentos, veículos foram roubados. Como sempre o conselho emitia uma declaração dizendo que estava tudo sobre controlo e que capturariam os rebeldes. Na cabeça de Ernu aquela profunda interrogação se avolumou e se intensificou por causa destes dissidentes. Corriam uns boatos de que havia entre os atacantes uma pessoa diferente que tinha mais de 12 anos e que não tinha passado pela Ciranda, diziam que era o líder dos Ratos, e que tinha 30 anos! Esta informação destruiu milênios de doutrinação do Corpo Governante, a dúvida fez sua morada nas mentes infantis de Zigoto, como não podiam explicar isso, o Corpo Governante fez o que toda ditadura no universo faz, censuraram o assunto, foi criminalizado a mensão a tal pessoa de 30 anos, sob pena de exclusão, das demais, em câmaras de isolamento. Mas o primeiro mito da história de zigoto tomou forma. Existia uma pessoa que era adulta. Que tinha mais idade que os zigotenses. Com o passar do tempo o mito foi criando forma e detalhes, era um adulto indígena, por isso foi chamado de Líder Cobre, por causa da coloração da pele, vivia fora dos limites urbanos de Zigoto e dentro da grande mata, que havia muitos da idade dele. A nova ideologia que conflitaria com a de zigoto tinha sido formada, a justificativa para a Ciranda tinha sido eliminada pela base. Com o passar do tempo as resistências à cerimônia da Ciranda foram se intensificando, já mais ninguém queria ir voluntariamente, os Guardiões-gigantes levavam os zigotenses a força, nas malhas das redes de contenção.

CAPÍTULO 04

                                   No dia 60 do mês sideral do Corpo Governante, chegou a vez de Wenlu se apresentar à cerimônia, Ernu propôs fugirem, após longas admoestações e súplicas ela aceitou, durante o expediente de serviço fora das chamadas e do toque de recolher, esconderam-se em um bosque a uns 10 km ao noroeste da cidade, por toda a noite Guardiões-gigante vasculharam as redondezas, capturando dissidentes recalcitrantes, e os levando para a pirâmide negra. Wenlu e Ernu agora rebeldes foram escapando as varreduras, mas por quanto tempo? Dentro em breve antes de perderem o controle total o Corpo Governante formado pelos 12 senadores radicalizou. O senador de segurança, agora de guerra, Erodu determinou:
-A partir de agora, todo ato de desobediência contra as autoridades de Zigoto será punido com morte instantânea por raio laser,  fogo ou serra circular! Em poucos dias depois de dezenas de mortes de crianças a situação ficou controlada. O império do terror se instalou, todos obedeciam pelo medo de morte rápida, já não levavam para a Ciranda, em caso de fuga, eliminavam no local. Todos voltaram a paz da trincheira. Ernu carregava Wenlu ora no colo, ora apoiada pelos ombros, estavam a muitos quilometros do rio Guzio:
 -Força Wen!
-Eu não agüento mais Ernu, vamos parar um pouco para descansar!
-Sim, mais fica sem se mexer, um Guardião-gigante pode passar por perto e detectar nosso movimento ou calor!
 -Faz horas que estamos andando Ernu! Para onde iremos?
-Precisamos chegar ao Líder Cobre, vamos incorporar a sua guerrilha! - Os dois estavam maltrapilhos, roupas esfarrapadas, cansados, abatidos, com fome, a uns dois dias não comiam a não ser folhas verdes e bebiam água do rio. Seu medo era enorme, os guardiões não os levariam prisioneiros caso os encontrasse, os destruiriam sem piedade. A perna de Ernu doía, era a do acidente de patinação, ele que mancava ligeiramente, agora andava como um pato. Ficaram imóveis deitados sobre a sombra de uma grande árvore ate pegarem no sono. Ernu sonhou crescendo, crescendo, dois metros, três metros, dez metros, sonhou pegando na pirâmide negra e jogando-a no Grande Rio-mar que existia ao sul. Fora de Zigoto.
-Kimu, aqui! Dois refugiados!  - Gritou um menino negrinho com uma faixa na cabeça e uma arma em bandoleira nas costas.
-Chame o Rato I - disse outro perto. Ernu se espantou e levantou depressa, Kimu apontou a arma para ele.
-Quieto somos Ratos, vocês devem estar feridos e famintos, vamos leva-los ao acampamento, mas primeiro vamos verificar se não tem rastreadores...
 -Rato I, aqui é explorador Mucura!
-Na escuta Mucura !
 -Temos 02 refugiados pedimos transporte para leva-los ao acampamento.
-Positivo, estamos enviado o pelotão Catita na sua coordenada! Rato I desligando!

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        Ernu estava dentro de um jipe camuflado se encaminhando para algum lugar, qualquer cidadão zigotense a esta altura, trataria de fugir com medo de repressão de zigoto, mas Ernu estava feliz. Durante duas horas e meia o jipe adentrou mata. Em certos trechos não se via nem mesmo a estrada, a passagem era apenas para os pneus, o resto era mato fechado. Wenlu se aconchegou em Ernu admirando o azulado do céu que perspassava atravéz da copa das  árvores. Após uma longa jornada que para Wenlu pareceu uma eternidade chegaram ao acampamento. As tendas eram de lona, papelão, plástico, mato mesmo, uma cidadezinha improvisada. Ernu viu meninos de 13, 14, 15, 18 anos, e teve confirmação de suas conjecturas. Era um acampamento militar, formado por uns 400 guerrilheiros de muitas idades, a maioria entre 13 e 20 anos. Vestiam-se de roupas de cores diferentes, usavam enfeites, adereços. Faixas, penachos, bonés, capacetes, uma mixórdia de estilos. Ernu assombrou-se com a barba de alguns, os pelos nos queixos que ele nunca tinha visto, a alta estatura, os ombros largos fortes, a voz mais rouca, os seios em algumas moças, os quadris largos. Ernu e sua amiga foram levados para a enfermaria:
 -Veja Wenlu, estes são os adultos!
-Olha aqueles montes nos seios daquela menina! – Foram atendidos, tomaram banho alimentaram-se e ficaram repousando. A comida era péssima, arroz, e peixe frito com alguns legumes. Eles mesmos cultivavam, às vezes conseguiam expropriar mantimentos em Zigoto. No dia seguinte pela manhã iriam falar com o Cobre. De dentro da uma cabana emergiu a figura de um homem forte, plenamente adulto, talvez o mais velho da região de Zigoto, 30 e poucos anos completos, cabelos compridos, musculoso, vestido de roupas verdes, com platinas sobre os ombros, era aquele que chamavam Líder Cobre. O oficial superior ao avistar o comandante ordenou a um pelotão que passava marchando em treinamento que todos batessem continência:
-Pelotão! Sentido! Apresentar armas!
Quando o comandante adentrou a enfermaria todos levantaram-se , exceto Wenlu e Ernu:
 -Atenção! Gritou o oficial - médico de 18 anos.
 -Podem ficar a vontade! Disse o selvagem, e todos se voltaram para  suas atividades. Ernu ficou olhando fixamente para ele. Ele estendeu a mão, se cumprimentaram:
- Então cada vez mais crianças estão desertando!?
- Eu nunca quis participar da Ciranda! -  Protestou Ernu.
-Aquilo é uma coisa sem explicação, nossos rapazes nunca descobriram o que fazem levando os meninos para dentro do templo do conselho, os que vão nunca mais retornam!
-É, e não acredito nesse papo de reencarnação! – protestou Ernu
-Nem nós, nem nós! Temos que tomar aquele local invadir e descobrir o que se passa lá! Amanhã me procurem em minha cabana, suspeito que devem querer explicações sobre isto tudo aqui!- Cobre retira-se seguido por dois capitães. No dia seguinte, Wenlu, Ernu e alguns guerrilheiros estavam na frente de Cobre que atrás de uma mesa os esperava há minutos:
-Boa tarde! Vou contar minha historia mais uma vez. Há muitos anos atrás, quando tinha uns 20 anos estava caçando mais três guerreiros de minha tribo, mata adentro longe de minha aldeia quando houvi um grande pássaro de metal caindo, as pessoas do mundo exterior o chamam aeroplano outras avião. Separei-me dos outros peguei meu arco e flecha e segui até o local onde caíra o monstro. Fiquei na espreita atrás dos arbustos o vi caído fumaçando, no meu entender todos lá dentro estava morto. Qual não foi minha surpresa quando vi enormes monstros de metal, como homens-deuses gigantes, aproximando-se do avião. Uma viatura chegou com alguns enfermeiros e de dentro do avião levaram uma criança que sobrevivera ela tinha esta marca nas costas. E mostrou um circulo cortando por uma cruz. Ernu reconheceu a marca, era uma cicatriz que tinha nas costas desde pequeno:
 -Quer dizer então que eu sai deste avião, que eu sou de fora de Zigoto?
-Isso mesmo! Você não nasceu, ou melhor, não foi gerado em Zigoto. Mas minha historia não é sobre você, embora nossos destinos fossem entrelaçados neste dia. Quando tentei voltar, havia uma barreira de energia que me impedia de retornar a rota da aldeia. Fiquei preso no seu mundo. O avião ao cair tinha temporariamente desativado o campo de força em volta de Zigoto, o que me permitiu entrar. Mas logo a força foi restabelecida e me vi prisioneiro de um mundo de crianças. Fiquei morando nas redondezas de uma pequena cidade de Zigoto, vivia de caça, pesca e roubo de mantimentos, tal qual um rato urbano, aos poucos fui entendendo o funcionamento do sistema, então ouvindo as história compreendi que havia uma grande injustiça aqui. Ao poucos fui me aproximando de alguns zigotenses da zona rural, fui explicando que este negócio de Ciranda era bobagem que eles podiam crescer como eu, falei sobre o mundo todo lá fora, sobre o Brasil, sobre as cidades de adultos e crianças, sobre pais e filhos, sobre parentes, sexo, morte, liberdade. Gradualmente fomos montando esta resistência, com as adesões de zigotenses, os mais velhos aqui foram os primeiros, Tilu, Zimu, Faru, Yupu nossa hierarquia e baseada na idade
 -Então podemos viver até quantos anos? Tem fim a vida?- indagou Wenlu curiosa e assustada
– Se não voltamos a ser bebês, continuamos a crescer até quando? Ainda Wenlu.
-Bem, podemos viver muitos anos, 60, 70, 80, 90, algumas pessoas já houvi falar, chegam aos 100 anos. Um caçador de minha antiga tribo que depois virou pajé atingiu 108 anos!
 -Legal Cobre! Err... Senhor Cobre – exultou Ernu.
 -Nestes mais de 10 anos em que sou hóspede de Zigoto, aprendi muito observando vocês. Do que sei, quem manda neste país, são pessoas muito inteligentes, a tecnologia aqui de Zigoto é muita avançada para a maioria, se não, todos os outros paises da Terra! Então Cobre continuou contando tudo que sabia sobre o mundo fora da orla da grande mata, os Estados, cidades brasileiras, os outros países, continentes, planetas. Tudo o que o selvagem semiculto poderia saber. Krinpeuê (capivara grande) esse era seu nome verdadeiro, tinha cuidado da maioria das pessoas ali, era como um grande pai, muito respeitado, sábio. Era o novo Pajé. Ninguém melhor do que um mateiro para ensinar um exército de guerrilheiros. Os meninos o honravam como um herói. Havia entre eles uma simbiose, tanto as crianças, os adolescentes e alguns jovens adultos precisavam de sua liderança para escapar da Ciranda, ou até mesmo revolucionar Zigoto e assumir o comando, como também Cobre precisava dos Ratos para sair de sua prisão que já durava 12 anos.

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                        Em Zigoto a ordem estava mantida, a ordem da ditadura, a ordem em que um poder superior, totalitário mantêm todos sobre controle, em silêncio e resignados. Todos continuavam suas vidas como se as coisas estivem normais, como se aquilo fosse o certo. Fosse a revolta que tivessem, ou as esperanças ou sonhos que tivessem, estavam restritos aos seus cérebros. A pirâmide negra estava onde sempre esteve, semelhante a uma montanha escura, que às vezes emitia flashes rápidos e misteriosos. Mas embora na aparência as coisas tinham voltado a normalidade, nos substratos subterrâneos das consciências o desequilíbrio se avolumava.

 Assim Ernu e Wenlu passaram a ser Ratos, foram batizados numa missão de saque.

 O sol estava próximo ao horizonte, Wenlu lavou o rosto no rio, prendeu o cabelo num coque, e colocou o boné verde, puxou um pouco sobre os olhos. Levantou pegou a arma e o cantil abastecido, e começou a andar em direção ao acampamento. Os pássaros faziam uma orquestra, uma melodia agradável, aquele ambiente mágico a fez esquecer dos últimos acontecimentos de um ano atrás. Os raios do sol declinavam e penetravam obliquamente nas frestas formadas pela vegetação, Ela patrulhava uma área determinada, estava num posto de sentinela avançada-móvel, estava sozinha, mas tinha o rádio, caso na sua varredura peitasse com um soldado de zigoto, ou pior, um terrível Guardião-gigante. O mato roçava em seu braço causando coceiras, arranhava sua pele delicada, deixando marcas avermelhadas, ela transpirava um pouco, ficava ofegante quando tinha que subir um morro. Tinha aprendido que na mata fechada, quando se encontra um riacho ou córrego seco, encontra-se uma estrada natural, é só seguir por ela tranqüilo, sem apanhar da galhada e dos cipós. O leito seco de um riacho é uma via natural, como se fosse feita pelo homem. Ela sentou um pouco num grande galho caído no leito seco do riacho:
- Central Rato, aqui soldada Wenlu!
- Nada falou do outro lado
– Central, é Wenlu! Na terceira vez, do meio dos chiados veio a voz metálica:
- Soldada Wenlu, aqui é Central! Como vai as coisas por aí princesa?
 -Chefe, tudo tranqüilo! Tá perto de acabar meu turno e peço permissão para ir retornando devagar para o acampamento! Se eu tiver que fazer varredura, só faço se for com vassoura no terreiro da base!
 -Ehehe, pode ir retornando da varredura garota, você só está escalada de novo daqui a dois dias!
Enquanto caminhava no meio do mato, em direção a perigosa e arriscada fogueira que estava sendo acessa no acampamento pensou em sua vida, imaginou-se pela primeira vez adulta, pela primeira vez tinha um horizonte, um futuro, seu sonho agora não era voltar a ser um bebê começar tudo de novo, mas prosseguir se desenvolvendo e explorando suas potencialidades. Lembrou de Ernu, lembrou de que poderia formar uma família com ele, se ele a quisesse para esposa, lembrou de que poderia ter filhos...
-Oi Ernu!
-Oi! Demorou no seu turno...
-Estava contemplando a natureza e me esqueci do tempo, você me deve meia hora...

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                   O Javali andava lentamente no meio do mato, o menino o espreitava no alto da árvore, tinha uns 15 anos, o menino, em outras árvores havia outras pessoas. O porcão do mato se aproximou do córrego, eram umas cinco horas da manhã, os caçadores esperavam no alto das árvores desde por volta de uma hora, bebendo o cauim e mascando folhas de coca. O animal bebia... O terror estava de emboscada. Mas não eram os Ratos. A poucos centímetros, aproximava-se deslizante e lentamente, um animal sem patas, sem membro algum, um réptil ofídico, sem veneno, um grande, com uns 7,30 metros. Os ratos não haviam conseguido ver o predador devido à água escura. O animal serpentiforme começou a se enrodilhar preparando o bote. Sucuiuiú ou sucuri, a anaconda, animal característico da selva tropical, é um animal de movimentação e metabolismo extremamente lento, por ser réptil é pecilotermica, seu corpo tende a ficar na temperatura parecida ao ambiente, ela não pode se dar ao luxo de ações vigorosas e perder constantemente calor, até mesmo sua digestão dura dias ou mesmo semanas. Mas existe um momento de exceção, a hora do bote. Na hora do bote a anaconda age destoando de sua maneira usual de se comportar. Nessa hora, como um míssil, sua cabeça é disparada pelo feixe de molas musculares que ela cria se enrolando e contraindo. Assim num movimento ágil e agressivo ela abocanha a cabeça da vítima visada e com suas presas fixa o animal. Assim ela faz com o Javali, para espanto dos Ratos! O animal recua do córrego e meio aos gritos dos meninos, a boca da sucuri permanece presa à cabeça do porcão, ela ondula o corpo, trazendo o resto de si para próximo do animal e o envolve no seu conhecido “abraço”:
- Heita! – grita Leomu
- Nosso almoço, bandida! Brinca Carmu.
 - Monitor o que faremos? -Indaga Rutu ao mais velho.
- Disparem, hoje comeremos porcão assado e frito em óleo de sucuri! – fala Yupu.
 Do alto das árvores vários disparos de laseres e flechas colocam a cobra e o mamífero imóveis. No enclave dos Ratos no país de Zigoto (como a base americana em Cuba), emboram tenham uma agricultura, ela não é suficiente para o número de Ratos. A floresta dificulta o plantio, o solo é pobre. Por isso devido a baixa fertilidade da terra os Ratos tem que se virar caçando e pescando para compensar e por isso comem qualquer coisa que respira, com a excessão de ratos e camundongos por serem o animal-tótem deles. Além da agricultura insuficiente, caça e pesca, a outra forma de os ratos obterem alimentos e o saque e pilhagem de fazendas e comboio de cargas de Zigoto. Atividades estas que quase sempre causam baixas, pela intervenção dos Guardiões-gigantes. Ratos neste caso é um nome apropriado para representá-los, vivendo das sobra do sistema e surrupiando de emboscada. Ratos, rato é o nome popular de um animal roedor, os roedores, da ordem dos Rodentia são por volta de quarenta por cento da classe dos mamíferos ou Mammalia , os roedores se apresentam com mais de duas mil espécies , são uma grande maioria dos animais do mundo. Estão presentes no meio semi-aquatico como as Capivaras , em árvores como as mucuras, em regiões desérticas e nos grandes centros urbanos. Muitos são onívoros e comem de tudo, como os ratos propriamente ditos.
 Os humanos fora da orla da grande mata parecem gostar especialmente destes animais, pois os caracterizam como personagens de historinhas como o Mickey Mouse, o Topo Gigio, Jerry (de Tom e Jerry), gostam de coelhos e cobaias, mas chamam de ratos aos políticos corruptos e aos ladrões, mostrando uma faceta negativa destes animais, mas eu os defendo e afirmo que eles roubam, os animais, para sobreviverem. Uma característica é universal nos roedores e esta característica é o que os nomeia, a sua dentição altamente especializada para roer. Outra característica marcante é sua alta velocidade de reprodução, simbolizada nos coelhos e mesmo nos ratos. Deixados sem inimigos naturais, os roedores tomariam conta do planeta rapidamente. O povo que em Zigoto escolheu um animal roedor para ser seu tótem ia neste rumo.

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                           Krinpeuê era forte, vigoroso e corajoso, seu corpo fora esculpido pela resistência aos elementos da natureza, pelo sol, pelo vento, pela água, ele era superior ao tempo, o tempo, a temperatura, nem uma adversidade atmosférica o afetava profundamente, era forjado como um pedaço de cobre no fogo, como se fosse uma estatua de Hércules ou Sansão. Sua cor era um ponto intermediário entre o negro e o branco, num cinza ligeiramente avermelhado, fora criado até os 07 anos sem contacto com a civilização ocidental, desta idade em diante, gradualmente foi se aculturando, aprendeu o melhor dos dois mundo. Era uma pessoa que podia ser o interprete entre civilizações, a ponte, era um híbrido, uma intersecção cultural, só ele tinha um ponto de vista equilibrado, pois sua idiosincrasia era bífida. Filho das florestas selvagens brasileiras, criado na civilização brasileira, vivia seus dias atuais em um outro mundo, que não pertencia aos anteriores, um mundo tecnológico diferente dos mundos onde já tinha vivido.

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                         Era uma tarde ensolarada na zona rural de Zigoto, nas margens do rio Lontra, nome este dado por haver muitas lontras nestas águas, Cobre e seus oficiais de primeiro escalão estavam pescando com arpões, arco e flechas e poucas armas de feixes de energia, roubadas dos soldados-zumbis. Andavam lentamente, sobre um lençol finíssimo de areia com água na altura dos joelhos. Aquele era o limite externo mais extremo da base Rato, dali para frente a barreira de energia do campo de força dos anciãos não os permitia ir mais longe. Do outro lado da margem do rio não havia mais o domínio dos imortais. O sol brilhava com todo o seu esplendor naquela tarde gloriosa, os raios batiam na água e refletiam em tonalidades douradas e prateadas, quando um dos pescadores mergulha e se ergue das águas, parece como uma pessoa vestida de um manto liquido de gotas de ouro e prata reluzentes, que se forma por um breve instante numa imagem magnífica, Krimpeuê olha para a mulher com um olhar de reprovação:
-Não mergulhe de barriga quando a água for escura, cunhantaí! – diz isto com um tom solene com o arco armado, concentrado em um ponto distante uns dois metros sob as águas, como que vendo o invisível.
-por que não líder? –pergunta a jovem desconcertada, com as águas batendo nos joelhos passando as mãos nos longos cabelos negros e sorrindo.
 -Uma arraia pode ferir você na barriga, mantenha-se onde houver areia branca, evite estas locas escuras!  - Diz o índio.
De longe perdidos na imensidão das águas sobre as areias brancas, os ratos parecem pontinhos pretos. Ernu que vinha atrás de Cobre uns 10 metros alveja um peixe e vem correndo atrás do aborigena mostrar:
-Veja Krimp, que peixe estranho! – o peixe era um linguado de águas doce
– como se chama este peixe??
 -Este, Ernu, é um vira-folha, uma criatura tosca, uma aberração da natureza! – mais a frente um tucuxí ao saltar de dentro da linha d´água choca-se contra o vidro invisível da cúpula do Corpo Governante e cai na água aos guinchos. Cobre alveja um peixe chamado Piau, ergue a flecha comemorando e coloca-o em um contêiner de palha de côco trançada, chamado de jacá, (em outros locais tapiti), uma mulher ruiva é quem transporta o contêiner, uma garota quase seminua, com uma tanga de plástico cinza. Ao erguer a seta com o peixe se debatendo Cobre diz sorrindo:
 -Co yvy ore retama! – todos sorriem e ficam batendo os dentes incisivos inferior nos superiores. Com o passar das horas os cofos ou jacás vão se enchendo. Cobre ordena que partam. Antes disse chega um menino pequeno correndo de dentro da floresta, é um estafeta, um taifeiro raso, um lobinho inapto, mas mesmo assim digno de confiança por lhe entregarem um cilindro pequeno e comprido. Cobre pega a vareta metálica e a segura apontando para a lámina d´água. Um raio de luz parte do cilindro e projeta na lâmina um circulo, com uma imagem dentro. Era um relatorio do Alferes Giru, informado as baixas e as vitórias em uma das zonas avançadas de Zigoto. Krimpeuê coloca o arco de lado, e ordena:
- Partamos! Os Anciãos devem estar planejado mais uma das suas!

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                          Com o passar do tempo Cobre foi se fortalecendo, os adolescentes foram se desenvolvendo, Ernu e Wenlu já tinham 17 e 18 anos, a guerrilha se tornou altamente disciplinada, muitos por tentativa e erro, foram aprendendo a manipular tecnologias, conseguiram capturas mais alguns Guardiões-gigantes com armadilhas rústicas, estudaram os Guardiões-gigantes, descobriram seus pontos fracos. Infriltaram espiões em Khimera. Descobriram que a maior parte da energia que mantinha Zigoto funcionando realmente vinha da pirâmide escura. Do lado de zigoto os policias mirins foram transformados em exército oficial, foram dispensados da cerimônia da Ciranda, o Conselho precisava de guerreiros especializados para combater a nova ameaça. Assim foi se formada uma camada pequena de adultos guerreiros. Tanto em Zigoto coma na Base-Rato. Os adultos em zigoto foram transformados em zumbis sonâmbulos por um processo misterioso pelos anciãos, os tornando não muito diferentes dos Guardiões. Todos sabiam que a Ciranda era um embuste, obedeciam somente pelo medo. O Corpo Governante concluiu que era hora de mudar a estratégia. a Ciranda continuou imperativo, mas não se justificava mais, comandava-se, do lado dos zigotenses, só o silencio. Gradualmente foi se criando um outro país em Zigoto, um enclave guerreiro formado pelos ratos, trincheiras, concertinas improvisadas, paliçadas, já não se escondiam mais dos Guardiões-gigantes, seu poder foi crescendo, o QG dos ratos se transformou num local inacessível e perigoso. Tanto os zigotenses militares (mais velhos) e civis, sabiam, como os Ratos e o Líder Cobreado, que mais cedo ou mais tarde haveria um enfrentamento direto.

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                              CAPÍTULO 05

                              O menino neste dia completara 12 anos, sentia-se condenado, deprimido. Seu nome era Magtu, ele estava apertando os botões que controlavam um sistema de irrigação de hortaliças, no painel havia uma representação de toda a grande horta, na área que a tabela afirmava que era o dia de irrigação ele apertava todas neste dia. É claro que os computadores poderiam fazer isto sozinhos, mas isto era uma desculpa, uma forma de entreter as crianças, para que suas velozes vidinhas tivessem sentido. Ele olhava a prancheta holográfica, verificava a zona a ser irrigada e apertava nas teclas correspondentes. Plantação de cenouras e cheiro-verde, irrigar dias 17, 19, 21. Teclas correspondentes apertadas. Enquanto ele fazia isto, o que ele temia naquele dia se aproximava dele. Dois Guardiões-gigantes esperavam lá fora no portal da fazenda. Um de um lado, outro de outro. Um policial apontou para Magtu. Ele gelou. Passos de coturnos em sua direção:
- Cidadão 348/Magtu!
- Sim senhor!
- De acordo com o sistema de identificação de Khimera hoje o senhor completa 12 anos exatos, e conforme a lei de Khimera deverá se apresentar à sede do Corpo Governante, para a Cerimônia da Ciranda. O senhor vem conosco por bem ou teremos que usar a força como fizemos com outros hoje, ou mesmo executá-lo no local por violação grave da lei dos Senadores?
- Vou por bem com os senhores! Mas saibam que lá fora da grande mata, existe... Tap!! Uma bofetada na boca e Magtu silencia. Ele entra na viatura, os Guardiões-gigantes a seguem. Mesmo aterrorizado, Magtu sente uma ínfima satisfação, iria entrar na pirâmide, satisfaria uma curiosidade de uma década. O carro para, ele desce, é escoltado de um lado e de outro por 10 soldados. Entra na pirâmide. Ela não se parece com nenhum prédio de Zigoto, Ele percorre um corredor luminoso azul-fluorencente, de cor um pouco parecido com a luz negra das baladas, sua pele se mostra azulada, ele protege os olhos com o braço. Os vinte soldados continua marchando mecanicamente de um lado e de outro. No final do corredor ele entra num grande salão redondo e escuro, com uns 10 metros de diâmetro, próximo a parede circular há dezenas de meninos vestidos de negro. No meio da sala um círculo desenhado no chão, sulcado. Com um símbolo alienígena desenhado. Sobre ele, ordenam que fique. Ele se posta sobre o círculo. Dois meninos encapuzados se aproximam. Ele chega a olhar bem no rosto dos meninos, os meninos não tem íris nos olhos, seus olhos são completamente prateados, sem pupila. São zumbis, um deles diz com uma voz mole e fraca:
- Cidadão Magtu, neste glorioso dia você tem a honra de...
- Esta parte pode pular iogue-comissário! - Proclama uma voz como uma trombeta, era o Senador Neru. O círculo era uma plataforma e começa a descer no solo. Rapidamente uma nuvem de gás verde envolve o menino, ele desmaia. Quando a plataforma termina a descida, zumbis adultos no subsolo de Khimera que nunca viram a luz do dia e de olhos prateados despem o menino. Dois colocam Magtu num esquife, parecido com um sarcófago de vidro ou caixão transparente cheio de um liquido visguento, maquinas introduzem sondas nas narinas, boca, agulhas enormes puncionam as veias principais da pobre criança, o liquido começa a congelar, solidificar, o menino é colocado em estado de animação suspensa, uma cobertura transparente cobre a cápsula, ela começa a se movimentar sobre um trilho que levará a um depósito com milhões de esquifes diáfanos como aquele, contendo meninos e meninas hibernando, como caixas plásticas translúcidas de bonecos e bonecas muitas delas existindo já por centenas de anos. No sub-solo de Khimera, existem mais do que sobre o solo de toda Zigoto. A mitologia da Ciranda era uma fraude sinistra, ninguém voltava, as pobres crianças eram aprisionadas num sono profundo, como agora era a vez de Magtu que pelo vidro diáfano, mostrava o rosto cianótico, como um defunto. Um zumbi branco-azulado. O contêiner tinha um símbolo estranho, um símbolo mais antigo que planetas, de uma historia fantástica, ficava acima do vidro que mostrava o rosto. TB051, era o número que estava incrustado no lado do esquife. Os olhos do morto vivo estavam abertos, mas não piscavam, não mexiam, não viam nada. Era um estado proporcionado por uma criogenia avançadíssima, que reduzia a quase zero a velocidade de metabolismo, dado ao individuo uma vida quase eterna, num profundo sono. De alguma forma os seres que criaram esse processo conseguiram o feito de o sangue não congelar, mesmo que o corpo esteja a muitos graus abaixo de zero. Células da pele humana cultivadas em cinetina, um hormônio vegetal que fazia parte do liquido “amniótico” do casulo, não apresentam as alterações normais associadas ao envelhecimento. A melatonina também retardava a degeneração celular. Realmente havia muito mais ali do que podíamos ver, uma tecnologia que aparentemente não era humana. A criatura ali aprisionada não estava com seus processos orgânicos congelados, ou precisamente estacionados, mas reduzidos a um infinitesimal e lentíssimo processo, inferior mesmo ao dos vegetais. O ser ali enclausurado era alimentado por líquidos que vinham do exterior introduzidos em seu corpo já prontos para serem absorvidos pelo sangue. Uma substância também era retirado dele, e era esta substância que motivava ou estava por trás de toda a estrutura de Zigoto, era sobre esta substância que se mantinha o estatus ontológico do país. Como Magtu, havia milhões aprisionados em contêineres. Era por causa da energia dos corpos que estavam ali presos? Como em Matrix? Aparentemente não. Pois mesmo que a energia de Zigoto viesse em parte da pirâmide, havia usinas termonucleares, duas pequenas usinas hidroelétricas, algumas eólicas, e painéis solares. O corpo governante não precisava de energia, no meio da floresta amazônica havia em abundancia de várias fontes, inclusive animal e vegetal. Mesmo a pirâmide parecia funcionar por um processo alienígena. Não, não haviam queimado o céu, a terra era verde e viva. Era por outros propósitos que o meninos ali estavam, aprisionados naquele limbo de hibernação.

CAPITULO 06


                                   Então chegou o dia em que Ernu solicitou a Cobre permissão para se casar com Wenlu. A cerimônia se deu conforme as tradições indígenas que o nativo guardava na memória. Como a cultura Zigotense era vazia e rala, de fato era o Estado mais laico que já houve na face da terra, mais até que a URSS, cobre teve que tirar da memória e da imaginação, da cultura de seus ancestrais, todos os ritos, usos e costumes, como uma espécie de Moisés criou e promulgou leis do nada. Para um povo sem passado, sem tradição, sem Deus, sem família, sem propriedade. Os Ratos eram uma “tabula rasa” e o Líder moldou eles ao seu bel-prazer. Não diferente dos Senadores, embora no índio houve-se uma grande afetividade pelos meninos. A Base-Rato era então uma mescla de novo e velho, de tecnologia e magia, de laser e armas de fogo, com tacapes, lanças e flechas. Num nível arquétipo a historia dos Ratos era como a historia de um antigo povo terráqueo, não irei dizer seu nome por ser evidente, os Ratos, zigotenses oprimidos, querem ir embora de Zigoto, o governante coletivo (Corpo Governante), endureceu seu coração e não quer deixar os ratos irem embora, um zigotense Ernu, que na verdade não era zigotense, mas alienígena luta contra Zigoto pelo seu povo, Cobre neste caso tenta libertar os Ratos e lhes promulga leis e tradições que não haviam em Zigoto. Só falta a hora do êxodo chegar, pois a praga dos ratos estava para se abater sobre Zigoto.
Na noite após o casamento de Ernu e Wenlu, os dois conversavam a sós no alto da plataforma construída na árvore, observando a lua cheia e as estrelas:
 -Lembra Wenlu – perguntou Ernu – quando a gente era criança e eu te falava que achava estranha a cerimônia da Ciranda?
-Sim e eu dizia que as coisas eram daquela forma mesmo e que o Corpo Governante tinha sempre razão e sabiam o que era melhor para gente, e cuidavam da gente! Como eu estava errada! Mas fazer o que? Eu era uma criança!
 -Sim, mas depois, naquela época você acreditou em mim, e nós fugimos, se não tivesse acreditado com certeza teríamos entrado na pirâmide dos malditos e sumido sabe-se lá para onde!
-Fico me perguntando, como será este mundo novo fora do campo de força que Cobre tanto louva? Será que lá haverá liberdade realmente? Será que lá os governantes estarão interessados nos direitos de seus cidadãos?
-O que eu sei Wenlu, é que nosso mundo era pequeno, nosso horizonte muito estreito, nos não sabíamos de nada, nós não tínhamos noção nem mesmo que nosso corpo iria ficar desse jeito, não sabíamos o que era família, o que era o amor! – então ele abraça a jovem e a beija.
- Por que fez isto? – diz ela sorrindo com ironia e retraindo a cabeça.
- Não sei – diz ele sorrindo e beijando em seus lábios, e com a boca ainda unida a dela diz – Grande Cobre nosso Líder, que viva para sempre! - Que viva para sempre em nós!  - Uma coisa e ser uma criança num mudo de adultos outra e ser uma criança num mundo de crianças, uma criança num mundo de adultos saberá que será adulta um dia, seu futuro é quase certo, a vida é mais suave, mais compreensiva, embora os adultos mentirão para elas, falaram de papai Noel e cegonhas, pelo menos terão um ilusão para acreditar e embora seja melhor a verdade que a ilusão, é melhor a ilusão ou o mito-poético do que absolutamente nada, como era o caso dos Ratos e ainda é no caso dos ainda em Zigoto. O vácuo espiritual deixado pelos Anciãos governantes não deixava nem mesmo elementos para se fantasiar, era uma amputação imaginativa, não iludiam as crianças, não as embalavam, não havia reino encantado, era uma mutilação espiritual, a única ilusão era a historia da Ciranda... Até aparecer Cobre com sua terra prometida.

CAPÍTULO 07

                                  Geograficamente Zigoto ficava na mais profunda e inacessível localização na Grande floresta tropical da Amazônia, que só tinha par com a floresta tropical Africana. Devido à camuflagem holo-íonica, nenhuma aeronave exógena a tinha visto ou detectado. No geral, nem o SIVAM, nem garimpeiros, narcotraficantes, Farcs, paramilitares, indígenas (exceto Cobre), exploradores econômicos ou científicos, haviam detectado a sua existência. Mesmo se isto tivesse acontecido, o que nunca teremos como saber, os Guardiões-gigantes estavam a posto para impedir de a notícia chegar ao mundo exterior. Em 1422 um frade de uma expedição penetrou como Krinpeuê no território de Zigoto, antes de os Guardiões-gigantes detectarem sua presença, ele chegou a ver uma cidade e seus habitantes. Gaspar de Carvajal era seu nome.
Com uns 10 minutos em que ele estava observando aquele povo neotênico mágico, uma destruidora (serra-circular) passa roçando o seu peito, causando um corte profundo, mas não fatal, era um Guardião-gigante que impressionantemente errara o alvo, devia ser fadiga, no metal.
Fugindo e sangrando sendo alvo de redes de contenção, projeteis diversos, ele consegue escapar e depois de dois dias desaparecido chega novamente à expedição medieval.
O capitão Orellana ouve de Carvajal em seu leito de convalescença o relatório do que tinha se passado com ele e a causa de seus ferimentos e infecção prostrante: -Um povo mágico, grandes guerreiros! grande cidade, virgens, virgens sem seios.... Os que ouviram entenderam que Carvajal havia visto uma tribo de grandes guerreiras. Quando ele disse que “não tinham seios’ estava se referindo as meninas de zigoto, os guerreiros eram os Guardiões-gigantes, que ele fundiu numa só coisa no delírio.
 Assim surgiu a lenda das Amazonas, um vacilo do Guardião-gigante e falha dos Anciãos imortais, que deu nome a floresta e ao estado brasileiro do Amazonas – Amazós significa sem seios. Que segundo ficou na lenda, eram as mulheres guerreiras que amputavam o seio direito para facilitar o manejo do arco, e não seres que ainda não tinham entrado na puberdade e desenvolvido os mazós. Historicamente, na época medieval a uns 1000 anos, a nave negra em forma piramidal pousou no local mais apropriado para seus planos gerontológicos, os Conselhereiros auxiliados pela sua maquinaria, capturaram humanos e começaram a cloná-los, aos poucos foram desenvolvendo aquela civilização postiça. Por mil anos dentro do campo de força em volta de Zigoto, tanto os cidadãos de Zigoto não sabiam do resto do mundo, como o resto do mundo não sabia de Zigoto. Fora o frade medieval que criou o mito das Amazonas, até hoje, só Ernu, vindo de fora e encaixado pelo Corpo Governante, e Cobre aprisionado na mesma época foram os únicos forasteiros a terem contacto com Zigoto. O frade não causou problemas, criou um mito apenas, o menino era um bebê, e bebês era o que os Imortais queriam. Agora Krinpeuê foi o único elemento que desequilibrou Zigoto, foi o selvagem que trouxe a “desarmonia’. Do ponto de vista dos Governantes. Realmente os anciãos ungidos de sabedoria milenar, não contavam com este elemento.


CAPITULO 07

                                    Um Guardião-gigante de 2 metros e meio, tinha saído alguns quilometros da zona urbana de Khimera-03, uma cidade pequena de industria química, estava próximo a um estreito formado por dois morros, enquanto dava seus passos mecânicos, um menino de uns 09 anos o atinge com uma pedrada de baladeira (estilingue) num mecanismo alienígena que  ficava na cabeça. Krash! Isto visava colocar o robô of-line dos outros, para não chamar reforços. A velha tática de isolar para destruir, praticada intuitivamente. O Guardião-gigante olha para cima do morro e dispara setas metálicas na direção do menino, ele começa a correr por sobre o morro, mas infelizmente travado no alvo do Guardião-gigante, o cursor no visor da maquina mantêm-se enquadrando a criança, quando ele está próximo a disparar o laser fatal um garoto de uns 15 anos atira com uma arma de pólvora e projétil de chumbo em sua direção, o tiro atinge a lataria do Guardião-gigante que se volta imediatamente na direção do rapaz. Do coice do tiro o rapaz cai, e levanta–se imediatamente, o garoto começa a correr, na direção mata adentro, o andróide corre com seus possantes passos. Do antebraço abre-se um compartimento que lança as destruidoras, as serras que saem cortando mato, antes de atingir o adolescente nas costas que cai inerme. Antes de o Guardião-gigante esmagar o crânio do menino com a pata metálica, outro garoto aparece com uma funda e atinge o autômato, nova perseguição, mas desta vez o Guardião-gigante some terra adentro, cai numa armadilha camuflada, um buraco de 03 metros, dezenas de meninos aparecem do meio do mato jogando pesadas pedras e paus sobre o Guardião-gigante:
 -Isso é por Viru e Rotu!  - Diz um
-Essa é pela Nitu, cara-de-lata!  - Diz outro.
-Pare! Parem!  - Grita um sub-monitor de 20 anos – não danifiquem muito o Guardião, deixem a CPU intacta, precisamos descobrir se tem como reformatá-la para fazer algum ficar do nosso lado!
 -Monitor! Titu morreu sendo isca!
-Informem o Comandante!

 Adolfo Bioy Casares, um escritor Argentino, descreveu numa de suas obras uma guerra de ficção em que jovens atacam e eliminam idosos pelas ruas por acharem eles inúteis. De certa forma, num certo nível, era isto que acontecia em Zigoto, porem, neste caso o motivo era a liberdade!


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                  Todos os dias às 09:00 da manhã e às 03:00 da tarde, a rádio clandestina Rato entrava em operação. Ela operava na freqüência sonora de 17 Quilohertz, um som extremamente agudo que só as crianças e novos-adolescentes podiam ouvir. Esta freqüência não é percebida pela maioria das pessoas com mais de 29 anos. A Presbiacusia é o nome que se dá a esta perda gradativa de audição que começa com a menos percepção dos sons mais alto do espectro sonoro:

 -Cidadãos de Zigoto, aqui é Comandante Cobre! Nessa freqüência somente a maioria jovem de Zigoto pode me ouvi. Eu sou o líder dos Ratos, eu já vi o que há fora da orla da grande mata, lá fora há um mundo mais antigo e maior que este. Onde vivemos muitos anos, onde nos tornamos adultos, formamos famílias e temos filhos. Se você sonha com liberdade como nós sonhamos, se pensa como nos pensamos, se sente o que nos sentimos. Esteja atendo. Dentro em breve atacaremos Khimera, e queremos que vocês nos ajudem. Sejam uma quinta coluna dentro de Zigoto, sabotem o que puderem, abram os portões, destranquem as fechaduras, deixem os caminhos abertos para entramos. E incorporem na nossa retarguarda quando atacarmos. Os Anciãos transformaram muitos de vocês em zubis-soldados adultos de olhos prateados. Infelizmente teremos que destruí-los junto com os Guardiões. Infelizmente também, uma parcela grande de crianças não querem crescer, ainda acreditam que é melhor voltar a ser crianças na Ciranda. Realmente acreditam no que nem os Senadores mais falam. O Conselho tem recompensado estes meninos com privilégios na sociedade zigotense o que tem levado muitos a aderirem a sua velha ideologia da Ciranda. Estes Cirandaistas, nacionalistas e apoiadores da estrutura reacionária de Zigoto, infelizmente, também devem ser eliminados, se não desistirem de apoiar o Conselho. Não é hora para conservadorismo, não podemos conservar as estrutura arcaicas de Zigoto. Pela vida Adulta e pela Liberdade! RATOS! - Assim termina o transmissão.


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                             A distribuição dos oponentes em Zigoto ficou da seguinte forma: De um lado havia os Senadores ou Anciãos, assim chamados não por serem idosos, aparentemente, mas como um título honorífico. Os Guardiões-gigantes, andróides de combate, uma força que no passado vigiava os Zigotenses e hoje os punias. O conselho tinha transformado uma parte de zigotenses em escravos-zubis, reconhecidos por alem de serem adultos, pelos olhos totalmente prateados. De fato toda a policia-mirim tinha sido dispensado da Ciranda e se zumbizado, formando uma casta de adultos mantidos vivos somente para trucidar crianças. Infelizmente uma boa parte de zigotenses conscientes apoiava o conselho, e estavam dispostos a lutar até o fim, para que as coisas continuassem como estavam, estes eram os Cirandaístas. O Corpo governante injetava nas vítimas que formariam o exército zumbi um líquido tecnológico, que tinha a capacidade de transmitir informação, e que podia controlar a mente da pessoa. Este líquido é semelhante a um plasma incolor e visguento, que como fibras óticas pode transmitir imagens, textos, sons e controle. Este líquido é chamado (H 2 I) Hidro-Infotec, e exercia as funções de disquetes, dvds, hardwares atrasados de nossa ciência. Um cubo de Hidro-informaçao solidificado pode conter toda a informação digitalizada de nosso mundo. A maior parte da linfa de um zumbi era de Hidrotec.

CAPITULO 08

                                   Era próximo de meio dia, numa zona distinta, intermediaria entre Rato e Zigoto, que era intricada como uma pele de leopardo, uma patrulha de 15 ratos estava almoçando, com os apretechos e armamentos pousados no chão era um pelotão de nome Patrulha Cutia, pois os Ratos costumavam chamar suas divisões por nomes de roedores, como Paca, castor, gambá, catita , etc :
-....exclamou um soldado zumbi! Do meio do mato saltou um adulto fardado atingindo com um rifle de laser, um menino, os outros lavantaram-se de supetão e foram surpreendidos por uma saraivada de tiros de todas as direções, alguns escaparam e foram dispersos no meio do mato. Lilu, uma garotinha, correu mata adentro ferida num disparo no ombro exausta e ofegante, um soldado inimigo a perseguia, ela caiu, ele pulou sobre ela, ela se desvencilhou dele e começou a se rastejar, ele pegou em seu tornozelo, dominou-a, puxou uma arma perfuro-cortante, e ergueu para atingi-la, ela gritou:

 Fenu! Fenu, sou eu Lilu! Lembra de mim, você cuidou de mim na creche coletiva! – O guerreiro estancou o movimento, ficou ameaçando e recuando com a adaga, seus olhos foram ficando normais, o prateado começou a sumir sua pupila negra apareceu, a menina sorriu e ficou batendo os dentes incisivos inferiores e superiores imitando um roedor, o militar retribuiu o sorriso, por pouco tempo, colocou as mãos na cabeça e gritou:
Foge Lilu! Foge agora! Vai!  - A menina saiu correndo mata adentro, o soldado ficou se contorcendo no chão com as mãos na cabeça, o domínio dos senadores retornava, ele se ergue com os olhos prateados:
 - Matar os ratos, matar, matar, matar! – mas a menina já estava a salvo bem distante. Longe dali Kavu falava pelo rádio: -Patrulha Preá aqui é Kavu, comandante da patrulha Cutia, fomos emboscados por sonâmbulos, foram na direção da Árvore-mãe castanheira.

CAPÍTULO 09

                                   Cobre estava no alto de uma grande árvore, onde haviam construído uma espécie de posto de observação, ele olhava pelo tele-oculos na direção de uma cidade na fronteira entre Rato e Zigoto, Ernu chegou:
- Boa tarde chefe! O senhor me chamou?
 - Sim! - disse o selvagem! - Ainda olhando no aparelho – quero lhe fazer uma proposta!
- Pois não senhor!?
- Quero que se alguma coisa acontecer comigo você lidere os ratos!
- Mas Yupu e Faru e...
- Sossega, eu já falei com eles, eles ficarão contentes em serem liderados por outro alienígena! Percebe? Não são as suas habilidades que importam mais, e você as têm, mas o fato de você ser de fora de Zigoto, como eu, esta força moral é que importa, você será meu sucessor direto entendeu? Mas eu ponho os pés na pirâmide!


(Ernu era um humano nascido de forma natural a moda antiga, os demais zigotenses eram  uma forma de vida genônica que é:
Genônica é qualquer forma de vida resultante de manipulação genética deliberada e obtida por gestação artificial mediante clonagem ou construção química completa. Em geral são produzidos com finalidades específicas, sendo projetados com características pré-definidas. (XR)
Sendo assim os zigotense consideravam Ernu e Cobre diferentes e alienígenas.)

 - Certo chefinho! Mas sobre eu ser alienígena... Eu não sei nada do meu mundo verdadeiro... Gostaria que o senhor contasse um pouco de sua vida, como foi sua infância?
- Eu nasci em uma aldeia que tinha um posto da Funai perto, tinha escola, telefone, a gente estudava, às vezes eu ia à cidade grande, tinha acesso à internet...
- Internet?
- Sim, é como a interligação que há entre os Guardiões-gigantes ou entre os monitores e telas de zigoto e nas escolas.
 - Há sim!
- Eu aprendi muito lá, li muitos livros, comprei alguns levei para a aldeia...Não era civilizado, mas não era tão selvagem, era parte dentro e parte fora dos dois mundos, como novamente o sou neste mundo aqui!
- Mas como se leva um livro... não é na tela?
- Os livros são escrito em papel, como este aqui – e mostrou um pedaço de papelão que forrava a mesa – mais fino é claro.
- Os livros têm mais coisas que a biblioteca de Khimera? - Pode ser que sim!
- Como o senhor aprendeu guerrear!
- Bem, a tecnologia dos brancos não me impediu de caçar, pescar, viver em contacto com a natureza e jogando jogos de guerra, eu aprendi muita coisa! Quem diria que aqueles malditos jogos serviriam para alguma coisa, hah hah hah ! - ele começou a rir folgadamente! - hah hah hah – Ernu acompanhou a hilaridade pela simples comicidade da coisa, pois não entendeu nada. Cobre tirou o boné verde e jogou na mesa e sentou-se, recostou na cadeira e pôs os pés sobre a mesa. Pegou um objeto cilíndrico, escuro, comprido, feito de folhas de tabaco, ofereceu um para Ernu:
 - Tome, pode fumar, você já é de maior, fui eu mesmo que fiz?
- Cof cof cof ! que que é isto?
- É um charuto Ernu hah ha hah! – Para Fidel, só estou faltando a barba hein? hah ah!
- Quem?
- Esquece garoto! ahah hah ah ah .
- Sabe superior, estive pensando… por que a gente não cava um túnel por baixo do escudo de força e foge de Zigoto, depois a gente chama as autoridades do Brasil e salva o resto das crianças!
- Eu sei, eu te entendo, quando eu percebi que estava preso aqui, eu fiz de tudo para sair, soquei a cúpula com paus, joguei pedras, ela é impenetrável, dura como diamante, então eu vi um ponto em que ela estava sobre um rio de porte médio. Ai eu então pensei... Eu pulo na água e passo por debaixo da coisa! - E...  Ai taquei a cabeça no maldito vidro dos anciãos!
- Mas, mas..
- Se tivesse como fugir por outro meio eu não estaria aqui conversando com você curumim! A dita cúpula não é um hemisfério, ou seja, meia bola, é uma bola inteira, um holesfero! Do mesmo jeito que é em cima é em baixo! Estamos num aquário Ernu!
- Mas então como não alaga tudo, como os rios não enchem a esfera e torna zigoto num pantanal,e depois num aquário de verdade?
 - Ai é que tá! - Ele acende de novo o charuto – A menos que a gente se liquefaça não tem como sair daqui, a cúpula só permite passar líquidos, qualquer coisa sólida não passa, por isso é que eu digo, os senadores são Extraterrestres!
- Extratrerest...
 - Sim, et, de fora da Terra, planeta que este planetinha-mirim aqui faz parte! Estamos em uma esfera dentro de outra esfera ainda maior, que gira em volta de outra esfera de fogo, que está dentro de um rodamoinho gigantesco que loucura ahahah! A propósito Ernu, você conhece esta erva aqui?...


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                   Assim as coisas continuavam numa normalidade relativa, num equilíbrio de forças instáveis entre a Base-Rato e Zigoto, equilíbrio este que poderia se manter por décadas como a Guerrilha Colombiana próxima e alheia desta aqui...




CAPITULO 10

                                   A despeito do humor de Cobre os planos do conselho estavam se tornando mais sinistros, no décimo primeiro dia do mês sideral de Tisri, os Senadores em deliberação começaram a executar um plano que apressaria o ataque dos Ratos em Khimera. Os anciãos eram sábios, sábios da iniqüidade, mas sábios. Eles eram pecilotermicos e estrategistas, ou frios e calculistas simplificando. Haviam chegado a conclusão que a guerra estava sendo um transtorno para a coleta da pedomorfina, precisavam de um numero muito grande de crianças para um pouco. Estavam gastando muita energia com os Guardiões-gigantes, perderam muitas cabeças com os desertores e os soldados zumbis, estavam demandando muito esforço com a guerrilha, fizeram duas projeções pessimistas para seus interesses, em uma a guerrilha iria se prolongar por décadas, fizeram outra projeção em que a guerra direta seria inevitável e que mesmo se ganhassem levariam muitos anos para restabelecer as condições originais, a despeito de novos levantes, caso houvesse sobreviventes, teriam que esperar também que toda aquela geração fosse para a Ciranda ou morta para que começassem com o papo de cerimônia de novo e fossem cridos. Sua conclusão foi então a de atacar totalmente os Ratos numa guerra relâmpago, então começaram a executar a Solução Final. Iriam aniquilar todos os zigotenses e depois começar em outro lugar sua fazenda horripilante. Mas tinham que queimar o arquivo, não deixar testemunha para os de fora da grande mata, caso algum escapasse e contasse não teriam sossego na Terra, teriam que procurar outro planeta, tarefa difícil, que levaram décadas para encontrar, até lá então o estoque de pedomorfina se acabaria. Então começaram a hibernar um numero grande de crianças, até mesmo de 10, 11 anos, mesmo não sendo a idade ideal, metade das crianças de 10 anos de toda a Zigoto foi para a Ciranda, todas as de 11 anos foram encubadas também. Muitos Cirandaistas voluntários foram também, embora os senadores os quisessem para a guerra. O plano macabro era este:

1)Usariam os Guardiões-gigantes, os soldados-zubis e os Cirandaistas para aniquilar toda a população de Zigoto, e ao mesmo tempo acabar com os Ratos,
2)logo após usariam os Guardiões-gigantes e os soldados zumbis para matar os Cirandaistas,
3) então usaria os Guardiões-gigantes para matar os soldados-zumbis, os Guardiões-gigantes seriam recolhidos na pirâmide
4) e eles usariam a bomba termonuclear pulverizando tudo num raio de quilômetros, se sobrasse alguma coisa seria atribuído a uma civilização antiga perdida, como os Maias, por exemplo, apenas ruínas misteriosas. Quem sabe até mesmo um arqueólogo pudesse encontrar um artefato anacrônico como um mecanismo de Antikithera? Mesmo assim seria ridicularizado pelos seus colegas se afirmasse que ali houvera certa vez algo mais que primitivos. Não podiam elevar a pirâmide e soltar a arma logo, pois quando liberassem o campo para se erguerem no ar, muitos Ratos debandariam selva adentro, tinham que ser todos eliminados antes.

CAPITULO 11

                                   A corja de Mercenários Cirandaistas era a parte mais desprezível de Zigoto, a escória moral. Os senadores, ninguém nem sabia o que eram se humanos ou máquinas, os Guardiões eram autômatos, os soldados-zubis como o próprio nome diz estavam semi-conscientes, com a mente controlada pela tecnologia ultra-avançada do Corpo governante. Este seres desprezíveis agiam como os capitães- do-mato no tempo do Brasil escravagistas, ou seja, negros vendidos ao sistema que perseguiam outros negros. Agiam também como os Kapos da segunda guerra, Judeus com cargos de responsabilidades dados pelos nazistas que afligiam outros judeus. Por isto os adolescentes Cirandaistas eram mais odiados pelos Ratos do que o próprio Corpo Governante. Porque estavam conscientes, mas estavam vendendo esta consciência por poder e prazer. De fato os Anciãos permitiam que os cirandaistas fizessem prisioneiras entre os Ratos, mas ordenavam que as matassem quando não mais as quisessem. O barco transportava 10 Ratos de varias idades, na margem esquerda do rio vinham 20 Cirandaístas montados em antas celadas. Ambos os grupos se surpreenderam com a presença do outro:
 - Triku! Malditos roedores! - Gritou para seu superior o Cirandaista.
- Disparem nesta praga que infesta nosso país, tenham misericórdia apenas das camundoguinhas! – de ambos os lados de dentro do rio e da margem choveram disparos de laseres, embora do lado rato fosse mais tênue esta reação bélica avançada. Os Ratos tombaram a piroga, o que serviu como escudos aos raios, até saírem da linha de tiro dos vira-casacas.


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Todos os monitores ficaram prateados e uma musica marcial começou a tocar, num alojamento coletivo as crianças interromperam suas atividades e ficaram na expectativa:
-O que será desta vez? - Disse um garoto já preocupado, todos os seus amigos mais velhos tinham sido levados para a Ciranda, pensou ser outra lista de convocados. O Senador Stalu falou:
-Cidadãos de Zigoto, o Conselho zela por vocês, só queremos o vosso bem! Lá fora existe o inimigo, que há anos esta em guerra contra nosso povo! Convocamos aos cidadãos corajosos de Zigoto que se unam a nossas forças militares para destruir os malditos Ratos! Todos que tiverem condições de guerrear juntem-se a nós e ponham a braçadeira dos Cirandaistas, eles os dirão o que fazer! – a braçadeira era vermelha e tinha algo parecido com um cata-vento, em alusão ao movimento circular da Ciranda, parecido com o fogo verticilado. – Os que acharem que não podem peguem o distintivo negro de neutralidade e se encaminhem para a vila de Treblu, os veículos estão já agora recolhendo quem não quiser ir guerrear!
 -o que faremos Usu – perguntou um garotinho assustado.
-Eu não vou pra guerra não – disse outra menina.
 -Frotas de veículos estão a vossa espera,(continua Stalu) para a vila de Treblu, lá terão proteção contra os Ratos!- durante toda a noite, as crianças foram embarcadas e encaminhadas para a agrovila de Treblu, de toda zigoto de suas 40 cidades, todos os que não quiseram guerrear foram embarcados, de toda zigoto 75 % foram recanteadas na vila, os outros 25% colocaram a braçadeira vermelha e viraram Cirandista. Receberam armas e novas instruções. O menino subiu no mini-caminhao e pensou alto:
-É, parece que este é o fim da Ciranda!  - Quando as crianças estavam todas alojadas em Treblu, na noite seguinte saiu a ordem:
-Todas as unidades, pelotões e frações, aqui o senador de guerra Erodu, matem todos os que estão em Treblu, toda criança, comecem pelas creches, não deixem sobrar ninguém! – por volta da meia-noite os Guardiões-gigantes, os soldados zumbis e Cirandaistas cercaram todas as saídas de Treblu, todos os caminhos, tropas entraram marchando e com carros, a botas dos humanos estrondavam, as patas de metal dos guardiões trovejavam, começaram atirando sem dizer nada, as serras voaram para todo lado, soldados-zubis atacavam, Cirandaistas vira-casacas matavam, gritos, choros, grande lamentação, turbas correndo, saraivadas de armas de fogo e laser, uma carnificina, nem mesmo na ação de Herodes em Belém, nem mesmo na cruzada das crianças, nem mesmo na candelária, houve quadro mais horrível, quisera eu, pular esta parte, mais foi assim que o velho me contou... Há quilômetros dali o mensageiro vinha esbaforido, cansado, já estava correndo muitos kilometros:
- Comandante, sentinelas avançados anunciam que em Treblu tão matando geral, estão matando todo mundo, evacuaram Zigoto!
-Meu Deus – exclamou Cobre!
-Temos que fazer alguma coisa senhor! 
 Cobre ordenou que todos os Ratos se agrupassem e que todos nas companhias distantes ligassem os rádios para seu discurso:
-Meus amigos guerreiros, não podemos esperar mais para atacar Khimera, O conselho está nos obrigando a agir! Chegou a hora! Por muitos anos estamos aqui aprisionados, alguns mesmo já nasceram aqui em Rato, com pais e mães, e nossa ninhada e grande, nasceram quase livres, mas falta nossa liberdade total, que é fora desta esfera de energia, livre destes meninos de cabelos brancos, que são os donos deste inferno ! Agora todo rato tem um único objetivo, adentrar aquela pirâmide negra, de preferência destruí-la! Para Khimera guerreiros! -Para Khimera! gritaram todos a plenos pulmões. – assim as tropas de Rato começaram as manobras em direção a Khimera, todos os aptos a guerrear, fora as que estavam grávidas e amamentando. Colunas de carros e tropas marcharam por toda noite de varias direções com um único objetivo. Batalhões de nome Coelho, mucura, gambá, preá, cutia, paca, e roedores com seus totens. Uma coluna se dirigiu logo a Treblu, os ratos chegaram atirando, impedindo muitas mortes, os meninos chegavam e jogavam armas das carrocerias dos veículos para os zigotenses. Um menino amarrou uma serra em um pedaço de madeira e fez um machado, quando um soldado se aproxima ele dá um golpe na perna do mesmo que o desequilibra e cai, ele termina de matá-lo. Uma menina assustada em um alojamento vê um Guardião-gigante no seu encalço, quando ele pega no seu ombro e ela se vira, é um rato com a cabeça de um Guardião-gigante como capacete. Assim tem inicio a conflagração que ficou conhecida com primeira guerra de Khimera, Ratos contra Guardiões-gigantes, zumbis e zigotos vira-casacas. A guerra se prolonga por muitos dias, mas como os Ratos são minoria começam a derrocar, Cobre ordena a retirada, quando já estão a poucos quilômetros de Khimera. De cima de uma casa um Guardião-gigante pula em cima do veiculo de cobre o pega pela cintura e o joga fora do veículo em movimento. Os dois caem atracados, cobre crava uma lança de metal no peito do Guardião-gigante, ele arranca a lança e joga em Cobre, este se abaixa e chuta o Guardião-gigante que cai, ele começa a esmurra o metal sem efeito, tenta arrancar a cabeça do bicho, mas só consegue ferir os dedos, logo 03 ratos chegam atacando, um com uma marreta amassa a cabeça do Guardião-gigante, ele começa a rodar desorientado, atirando para todo lado, cobre pula na pernas dela e as arriba derrubando o robô, enfia a mão no buraco da cabeça e desativa a maquina. Quando Cobre coloca o pés de novo na viatura, um cirandista desvia sua atenção, outro Guardião-gigante lança uma seta de metal, por ironia de cobre, em seu lado, no flanco esquerdo, cobre cai no carro agonizando: -Mande todas as unidades bater em retirada! Ai! – O navegador se comunica com todos pelo rádio:
 -Sierra primeiro, para todos, Comandante ferido, retirada apressada, QSL? - Há alguns Kilometros dali Ernu tem seu pelotão dizimado por robôs e é encurralado por 03 Guardiões-gigantes num armazém, o rapaz com as costas na parede vês os três aproximando-se, tenta disparar sua arma, não há mais munição, puxa um arco e aponta a flecha para os Guardiões, ele sabe que aquilo é inútil, começa a lembra de Wenlu e seu filho, sabe que irá morrer. Quando os Guardiões apontam as mãos para ele e abrem o compartimento de armas ele retesa o arco. Um dos Guardiões olha para o outro e sai um som:
-Até que enfim te achamos Ernu! –Era o Senador Stalu falando através do Guardião-gigante, o Guardião-gigante dispara um raio que faz Ernu cair em convulsões se retorcendo e babando, os Guardiões-gigantes o levam prisioneiro. Longe dali derrotados literal e moralmente os ratos fogem atropeladamente em direção a base e sub-bases. Na base telecomunicadores do conselho supremo conseguiram entrar em contacto com os aparelhos da guerrilha, talvez num esforço de doutrinar os retirantes fragilizados. Faru se posicional em frente ao aparelho de telecomunicação e vê o rosto jovem do senador supremo Stalu. Faru se sentiu um pouco constrangido pela figura infantil se arvorar em senhor daquele mundo conhecido: -Maldito Senador, estamos aqui para negociarmos pacificamente um acordo, mas creio  que nunca chegaremos a um consenso, pois viemos, a saber, que vossas posições são inamovíveis por motivos que desconhecemos! Libertem Ernu, se ele estiver vivo!
-Disseste bem senhor comandante, não podemos negociar com terroristas que querem sublevar a ordem e a paz deste pais!
-Besteira ! Não há paz onde há morte de crianças que mal conseguem chegar a puberdade!
-Não há morte de crianças neste reino, tirando a que vocês provocaram, com sua guerrilha, antes de vocês ninguém morria em Zigoto, pode ter certeza, quanto a isso lhe dou minha palavra de honra!
-Se não havia morte porque as crianças tinham que se submeter à cerimônia da Ciranda e sumir para nunca mais as vermos? O que faziam com elas ?
 -O senhor comandante dos Ratazanas sabe muito bem que é natural que quando se chega a idade de 12 anos, cof cof, é natural que a energia latente nas pessoas deste pais seja revertida em energia para o pais, e o espírito paira sobre todos os Zigotenses, cof cof,o estado dá a vida e ele pede a vida, digo, a energia de vida de volta quando o prazo de vida expira! 
 -Uma grade mentira senhor Senador, este país sinistro está isolado do mundo e no resto do mundo as pessoas crescem até a idade de em muitas vezes 100 anos ou mais, esta mentira que vocês implantaram tem algum objetivo escuso e nós vamos descobrir, e ademais porque vocês que pelo que sei a muitos anos são os mesmos senadores e aparentemente não envelhecem nem nunca passaram pela cerimônia da Ciranda?
- Se você até esta data não percebeu, nós somos artificiais, somos programas cibernéticos que comandamos o país e por isso não envelhecemos nem temos como passar pela cerimônia da Ciranda somos inteligência artificial, e ademais, desconhecemos outros países que possam existir, não há nada fora da orla da grande mata, o mundo é uma grande selva habitada por seres perigosíssimos como onças e sucuris que temos em nossos museus! Nossa civilização é sua única esperança simplório! Por que querem destruí nosso mundo com sua revolução injusta?
-Não é assim, não é assim! Os senhores são os mestres da ilusão e colocaram todo um país de crianças indefesas em submissão injusta, por motivos que até agora desconhecemos, mas esperamos em Kriyton o deus-cobra, um dia descobrir o motivo! Porque pelos meus dentes, não deixam as crianças crescerem em liberdade e produzirem uma civilização madura e vibrante formada por adultos experientes? Há alguma coisa errada aí!
-Seu delírio induzido por drogas, pode lhe custar um preço exorbitante. É uma coincidência surpreendente que rebeldes, revolucionários e drogados sejam a mesma coisa em todos os mundos que conheci, neste mundo aqui os ditos esquerdistas gostam de suas ervinhas e as defendem politicamente, bem se vê que revolucionários preferem seu mundo de ilusões do que a realidade, é por isto que lutam contra ela! É típico de esquerdinhas...
-O que o senhor está dizendo? Não o compreendo!- diz o Rato líder.
- Deixa pra lá moleque idiota! Deponham as armas, prometemos uma morte sem dor!  - O pequeno rosto infantil que falava como adulto sumiu do aparelho e nosso amigo Faru, o terceiro no comando depois de Cobre e Ernu, apertou o aparelho com força:
- Esses malditos ditadores, um dia descobriremos quem eles são e o que querem! Piralhos metidos a donos do poder! Acho que nem crianças eles são! Reverteremos esta batalha!
-Sim! Sim! -  Disseram em uníssono os ratos.
 No ano de 1003 no calendário burocrático dos Senadores, as tropas dos ratazanas obrigados pelo conselho marcharam ao por do sol em formação de batalha em direção a capital Khimera, o ataque seria total, ninguém ficaria no acampamento, todo o esforço se concentraria na pirâmide do conselho A batalha urbana, que ficou mesmo a poucos kilometros de Khimera, lembrada como batalha de Khimera, levou uma semana, ao final, precisamente no dia 48 do ano 23 D.C (depois de Cobre) os ratos foram derrotados, centenas morreram, Ernu foi capturado e Cobre ferido gravemente, impossibilitado de lutar, infelizmente fora ferido após um combate corpo a corpo com um robô Guardião-gigante, cobre contra ferro. Durante a guerra de Khimera, nos embates, uma explosão em um veículo de combustível atinge uma das torres geradoras do campo energético em volta e sobre Zigoto. Por uns cinco segundos o campo ficou intermitente, a força ilusória oscilou, e de forma entrecortada o escudo perdeu a continuidade expondo o país nu ao testemunho exterior. Em um aeronave de cor verde-oliva que patrulhava o espaço aéreo tupiniquin o Major Borges monitorava a região amazônica, quando ao executar uma manobra, vê surgir e novamente sumir, onde havia floresta, uma cidade metropolitana. Seu assistente não a vê:
- Cindacta 4, aqui é Major Borges da aeronave 013!
- Prossiga Major! Aqui é Controle na escuta!
- (ESTÁTICA)
- Prossiga PT-LSD, Controle no QAP!
- Eh... ul.. ultima forma Cindacta, e que pensei ter visto uma cidade fantasma!
 - Ah hah hah ! ano passado o senhor tinha visto uma luz na meio da selva a noite como um explosão e nada foi constatado, mais um pouco e o senhor estará vendo discos voadores! Ahahaha!

CAPÍTULO 12

 ERNU NO CONSELHO

                             Com as mãos magnetizadas juntas Ernu entrou escoltado por dois Guardiões-gigantes dentro da própria sala dos Senadores. Todos estavam virados para uma grande tela em que se via tudo o que acontecia em Zigoto. Quando os senadores se voltaram com seus tronos poltronas alcochoadas num giro de 180 graus para ele, seu mundo desabou. Eram todos adultos, mas mais do que isso eram adultos enrugados, alquebrados, de cabelos e barbas brancas diferentes de Cobre, eram no nosso linguajar velhos! A boca de Ernu sangrando, apenas se abriu e soltou um gemido inexprimível, seus olhos lacrimejantes do lacrimogás arregalaram-se e ele estupefacto apenas ouviu o senador principal Stalu:
-Sei que você tem muito a perguntar, mas hoje, antes de sua morte, tudo lhe será explicado, como nenhum Zigotense jamais saberá nem jamais vai saber, diremos estas coisas como uma recompensa pelo seu valor demonstrado nestes meses e na sua vida inteira, pois sempre a temos monitorado. Nós gostamos de você como a um filho Ernu. - Ernu balançou a cabeça negativamente com um sorriso irônico.
- Lamentamos torna-lo uma impessoa. Afirmou outro senador, denominado Hitlu.
- Você conhecerá a verdadeira natureza do sistema. – prosseguiu Stalu - Nem mesmo Cobre com toda a sua esperteza de selvagem irá saber o que você saberá, nem mesmo as pessoas adultas deste planeta. Hoje lhe entregaremos o segredo da morte e o sentido da vida, e ira adormecer com você num sono profundo... Você e filho de adultos de uma cidade alem da orla da mata exterior...
-Há, há, há, porque não contam outra novidade! -  Diz Ernu.
- O veiculo aéreo que transportava passageiros caiu e você sobreviveu, lhe adotamos por dó, veja você que não somos tão maus assim, lhe enquadramos em nosso mundo apesar dos riscos. Você cresceu e foi alimentado as nossas custas, criamos você como um filho e foi assim que voce retribuiu, nós atacando? Mas eis agora a verdade, nós criamos Zigoto como uma incubadora de crianças para nossos próprios objetivos, vocês são programados a se acostumarem com este mundo infantil, você não nasceu aqui, não passou pelo condicionamento por isso sempre o temos observado de perto, mas o inimigo era outro, nosso descuido, resultou na guerrilha e na sua adesão a ela e posteriormente na guerra de Khimera, onde muitos corpos de crianças úteis para nós foram destruídos. Vocês crianças não são o que importam realmente para nós, mas sim o que vocês produzem quando entram na assim chamada fase da puberdade, quando da idade de 13 para os 14 anos, vocês produzem uma substancia que nós utilizamos para nos mantermos vivos, isso sim, e o que queremos. A poderosa pedomorfina. Nós somos gerontólogos Ernu, estudamos o envelhecimento! Uma forma de se prolongar a vida é ir aumentando a idade de cópula cada vez mais, no mínimo quarenta anos, e ir subindo, durante séculos, foi isto o que tentamos fazer em nosso planeta inicialmente, mais por motivos óbvios não deu certo, o sexo era uma força poderosa demais e lobs logo inviabilizaram a legitimidade da medida. A deterioração senil era a única coisa que nossa civilização não havia vencido, e do alto de nossa sabedoria continuamos buscando uma solução para estes genes letais que os seres vivos possuem que os matam aos poucos. Uma molécula de Dna é eterna Ernu, mas não o individuo que a transporta, isto é um paradoxo, os passageiros do barco mudam de barco para barco e o abandonam degenerado, queremos uma forma de manter o barco imortal. Além de aumentar a idade da cópula progressivamente na espécie como um todo, outra forma de se prolongar a vida é enganar as moléculas de DNA, para que elas não liguem as moléculas do envelhecimento, para que o barco na seja abandonado degenerado. Isto é conseguido estimulando ou imitando as propriedades de um corpo jovem em um corpo velho, não importando quão superficiais essas propriedades pareçam, mais tempo o corpo velho poderá viver injetando esta propriedade nova  no corpo velho enganando os genes. E esta propriedade meu filho, é própria da vossa preciosa pedomorfina. Os gerontólogos há muito sabem que uma extremidade dos cromossomos, o chamado telômero, se encurta cada vez que a célula se reproduz. Quando o telômero perde cerca de 20% de seu comprimento, a célula perde a capacidade de se reproduzir e morre. Uma enzima específica chamada telomerase consegue restaurar o telômero ao tamanho normal, permitindo assim que a célula continue a se dividir. Na maioria das células esta enzima é reprimida e inativa, mas tem-se conseguido introduzir telomerase ativa em certas células, fazendo-as crescer e dividir-se muito além do número normal de vezes. A pedomorfina reforça a telomerase, esta substancia só aparece na temperatura certa, junto com vários fatores, incluindo a idade certa Ernu, injetamos pedomorfina diariamente em nossos corpos, para prosseguirmos vivendo. Nós aprendemos como impedir a telomerase de diminuir com o tempo! O senador apertou um botão e uma plataforma se abriu sob o chão do conselho, mostrando milhares de contêineres congelados com crianças hibernando. Isso caro Ernu é a cerimônia da Ciranda, nos congelamos vocês e introduzimos sondas em seus corpos para extrairmos a sua preciosa substância que os transforma em adolescente que para nos significa vida eterna. Este, Ernu é o Ice Berg social de Zigoto – diz Stalu apontando trêmulo para os esquifes - e nós os senadores imortais somos a ponta eterna. Todo o seu paraíso de Zigoto serve para o único propósito de nós mantermos imortais a mil anos. Imortalidade Ernu, para isso Zigoto existe, para nossa imortalidade! – Ernu olha para as algemas magnéticas e tenta força-las discretamente. - Nossa civilização – prossegue o velho - em nosso planeta natal se desenvolveu além de todas as outras e resolvemos todos os nossos problemas, apenas a questão da mortalidade não foi resolvida, nos fomos enviados nesta nave em que você se encontra a fim de desvendar os mistérios do universo, depois de muitos anos viajando aportamos em vosso primitivo planeta e analisando seu dna e seu material biológico, descobrimos a substância biológica que há em vocês que nós permitiria viver para sempre. Abandonando nossa ética e moral, embriagados pelo poder e pela imortalidade capturamos muitas crianças humanas e escolhemos este local ermo para criar essa civilização fictícia, como um criatório de humanos em desenvolvimento para nosso próprio beneficio. Nós sacrificamos tudo pela imortalidade até nossa honra e nossos sentimentos protetores pelo infantil, o sentimento que obriga os pais a cuidarem de suas crias. Somos os vilões supremos e a maldade pura, mas isto é relativo Ernu, infelizmente, o somos assim para vocês, com vossa compreensão limitada no tempo e nas regiões espaciais. Queremos apenas existir pelo nosso próprio egoísmo eterno! Nosso conselho é formado por 12 ex-cosmonautas sendo que 03 morreram na viagem até aqui, poderíamos convidar você para ser um dos nossos, pensando nesta possibilidade, para isto o trouxemos aqui, mais creio que não compartilha de nosso ponto de vista ético. É, 13 é um número de azar. Para nos comunicarmos com vocês nos falamos de interface gráfica, onde nos apresentamos com a aparência jovial de vocês, embora nossa aparência realmente seja a de um humano envelhecido. Em meu planeta, eu era conhecido por Esttlelin, conhecido porque todos os que me conheceram estão mortos. Observe estes contêineres, se você quiser, entrará num deles e será imortal também para sempre, num sono eterno semelhante à própria morte. Seus amigos sobreviventes da guerra de Khimera lhe aguardam... Mas não decidimos ainda se o matamos ou o congelamos, se mudarmos de idéia e não mata-lo você será um destes pequenos frascos do elixir da longa vida! – Ernu estava cheio do desabafo do senador, sua ira aumentava a cada palavra do ancião -Quem somos nós Ernu? Somos alienígenas de outro planeta que aportamos em vosso planeta em fizemos experiência com vocês, capturamos alguns humanos, de variadas raças e com eles criamos geneticamente este pais. Somos doze e como não pode haver treze senadores, pois segundo a superstição de vocês dá azar...

CAPÍTULO 13

                                    No meio da grande floresta tropical amazônica, um oceano verde de clorofila, antigamente chamada de pulmão de mundo, pois hoje se sabe que são os oceanos que desempenham este papel, existiu um pequeno país, cujo um dos sobreviventes contava ali esta estória para o humilde escrevinhador que vos fala. Ele continuou... Depois de contar como Ernu tinha chegado em Zigoto, da queda do avião, da descrição da sociedade infanto-juvenil, dos padrões multicoloridos dos edifícios, da Cerimônia solene da Ciranda, da terrificante prisão criogênica, dos combates, da insurreição, do enclave dos ratos no território do próprio país e da divisão de forças, do massacre de Treblu, da grande guerra de Khimera, fiquei apreensivo, não só pela sanidade mental do meu interlocutor, como porque estava realmente curtindo a história e torcendo para Ernu, Wenlu, Cobre e os Roedores. Nessa altura os ratos derrotados Ernu preso e cobre moribundo me preocupavam...

 O SENADOR CONTINUA COM ERNU

                 - Meu jovem rebelde, tendo resolvido todos os problemas de nosso mundo, nossa civilização não conseguiu eliminar estes dois últimos inimigos, a velhice e sua conseqüência a morte. Tendo pesquisado no nosso mundo e circunvizinhança, nossa civilização começou a construir estas naves em forma piramidal e outras formas. Fomos enviados para diversos pontos da galáxia, evacuamos pouco a pouco nossos planetas natais, saímos aos grupos como exploradores cientistas, igualmente como diz a literatura e historia deste planeta Terra, saímos em busca do Elixir da Longa vida, do santo Graal! Nossas naves se perderam na imensidão do universo, aos poucos fomos perdendo o contacto uns com os outros, mesmo por ondas de radio, não conseguíamos nos comunicar, nossa raça humanóide, do vosso ponto de vista, começou a morrer, os poucos que nasceram não se adaptaram a condição do espaço aberto sideral, provavelmente muitos de nós colonizamos muitos outros mundos, mas a maioria das naves se perderam. Esta nave aqui, que para vós é o prédio do Conselho, creio que foi a única que conseguiu o seu intento, àquela missão que nos foi colocada diante, no dia em que saímos de nossos planetas longínquos. Talvez sejamos os 12 últimos de nossa raça pura, os outros devem ter evoluído em outra coisa ou se miscigenado com outros seres de outros mundos. Faz mil anos que aportamos em vosso mundo, na vossa idade média...

Lá fora na cidade as coisas voltavam a relativa tranqüilidade, os robôs de manutenção e limpeza começavam a limpar a sujeira do terrível combate que se passou há poucas horas...

 -A velhice meu amigo revolucionário, é de uma ordem superior, é algo que vai aos poucos, nos matando, nos incapacitando, desligando pouco a pouco setores de nosso ser! Você não pode sentir isto ainda, esta ascendendo, você sente cada vez mais sua energia e poder crescer, mas chegará o dia em que essa energia declinará, então suas células obedeceram a uma programação genética chamada apoptose, quando suas células começarão a se suicidar...  - Ernu nada dizia. -A ignorância Ernu, nesse mundo, sempre foi a fonte da derrota dos dominados, como já falaram muitos sábios e poetas entre os terráqueos, só o conhecimento trás o poder, poder para dominar a natureza, para dominar os outros seres conscientes, mas existiu um aspecto da natureza que nunca tinha sido dominado, até a criação deste reino. A velhice foi derrotada por nós! – Ernu neste momento olhou fixamente para o Senador:
-O Senhor não parece muito velho, só uns 90 anos! - E balançou a cabeça zombeteiramente. O senador sorriu, realçando as profundas rugas:
 - Eu tenho quase mil anos meu garoto! Fora uns personagens de ficção, incluído Matusalém de um ridículo livro místico de seu mundo, eu sou o ser humanóide de vida mais longa que já existiu. Isto é controle sobre a velhice! Embora não possamos retardar inteiramente o metabolismo celular, ocorre uma desaceleração profunda, mas estamos trabalhando intensamente dia e noite para sintetizarmos uma pedomorfina, que até poderá reverter o processo geriátrico, e quem sabe quando conseguirmos isso, não precisaremos deste trabalhoso país, deste criatório de pupas, ninfas, girinos, larvas humanas em formação! Mas esta hora ainda não chegou, a hora da vossa anistia, da vossa liberdade, então até lá, para a inocência, controle rígido! – neste momento Ernu avançou na direção do Senador, intentou segura-lo pelo pescoço, para mata-lo esganado, antes de sua mão alcançar o escopo, um zumbi adulto de olhos prateados o atinge com um raio azulado, que o faz cair em convulsão e espumando pela boca:
-Para a Ciran... Cof! Cof! Para a cápsula criogênica! Coloquem este maldito na prisão sub-térmica! – O senador arfava, respirava com dificuldade devido ao esforço de recuar das mãos de Ernu. Três zumbis com uniformes brancos vieram ajuda-lo a se recostar na poltrona, uma sonda foi introduzida na sua boca e um liquido azul-marinho escorreu por ela. Ernu já estava um pouco velho para a criogenia, sua pedomorfina estava regredindo devido a idade, mas o senador na sua fúria achou que a prisão límbica, era pior que a morte. Mesmo ele, esqueceu o ditado de Wentu, o sábio, de seu planeta natal: “O ultimo inimigo é a morte, nada pode ser pior que a morte”  - Agora para a cerimônia da Ciranda. E assim Ernu foi congelado e encubado, picado por agulhas e sondas, desta forma foi punido pelo Corpo Governante, pela sua traição à pátria Zigotense e aos Anciãos ungidos, embora num nível mais profundo realmente estava sendo vitimado por reagir à injustiça.

NA BASE


                                       Krimpeuê, vulgo Comandante Cobre, estava gravemente ferido pela seta do Guardião-gigante, estava na Enfermaria da Base dos Ratos cercado por assistentes, aparentemente a ferida fora letal, e Cobre estava em sobrevida, o contra ataque do Ratos conseguira impedir o massacre de Treblu, mas somente devido a uma retirada em massa dos sobreviventes, a força dos Guardiões-gigantes, juntamente com o exercito humano de Zigoto foi mais forte do que a guerrilha. Os Anciãos não demorariam muito a deflagrar o ataque final contra os Ratos encurralados pela cúpula alienígena, a retirada estratégica dos Ratos era apenas um prolongamento da agonia. Krinpeuê chamou Huxlu ofegante e com a boca ensangüentada:
-Filho, sinto que meu fim se aproxima...
-Força comandante!  - Exclamou Orwu.
-Eu não viverei para ver a liberdade, vocês sabem o que fazer com meu corpo de acordo com as tradições de meus ancestrais que eu ensinei a vocês. Passo o comando a Faru, depois da morte de Ernu ele é o próximo na cadeia de comando... Continuem lutando... Continuem crescendo... Agora passarei para os domínios do Povo Cobra, minha alma irá até eles, eles sabem o caminho do paraíso... Ratos não desist.... – Assim morre Cobre o grande Guerreiro, pai espiritual dos Ratos. Segundo a religião do Cobre, sua alma viaja para um mundo habitado por seres meio homens meio cobras o Pueblo Cobra. Naquela noite não houve luto, mais festa ao som de tambores e canções indígenas, Bradu, Faru e Huxlu levaram o corpo para fora à vista de todo o acampamento, começaram a cantar e gritar:
 -O nosso pão é o corpo de nosso pai!
-O nosso pão é o corpo de nosso pai!
-O nosso pão é o corpo de nosso pai! – O primeiro golpe arrancou a perna de Cobre que foi lançada no meio da multidão, que a repartiu em partes cada vez menores, até ficar um bocado pequeno para cada um, outra perna, os braços, a cabeça, o tórax, o abdômen, as víceras, Cobre foi devorado pelos Ratos, a turba o reduziu a ossos, estes restos mortais foram enrolados em lençóis e o colocaram numa sepultura, em cima colocaram um grande tronco de madeira, onde começaram a esculpir um totem. A fogueira estava alta, crianças, adolescentes e adultos com os rostos pintados, cantando e dançando em volta da fogueira, rodopiavam exaltados, pulavam freneticamente, os tambores percutiam cada vez mais alto, fumaça de cachimbos, de folhas de coca, bebidas artesanais, cogumelos, plantas alucinógenas, primeiro os mais novos, por último os mais velhos foram caindo um por um pela exaustão e intoxicação, se os Senadores ungidos soubesse do que se passava na Base-Rato, teriam vencido a peleja numa só noite. A festa varou a madrugada, as atalaias tombaram etilizadas, uma camada de sono, como uma nuvem pesada, uma atmosfera densa, colocou todo aquele povo em letargia profunda, pouco a pouco o acampamento silenciou e a escuridão avançou sobre o fogo que perdia o vigor, no final, só restou a escuridão e seres inertes espalhados pelo chão como numa chacina. Do maior ao menor, só pelo entorpecimento conseguiram suportar uma dor tão grande....

CAPÍTULO 14

                                OS SENADORES

                                Stalu o ancião principal com uma mascara plástica no rosto falava com dificuldade para os demais anciãos: Irmãos é já a última hora, e chegado o momento de partirmos desta região, o estoque de pedomorfina está garantido para 30 anos, prazo suficiente para criamos uma nova Zigoto, mas se quisermos continuar neste planeta teremos que destruir os restantes revoltosos!
-Concordamos mestre! - Clama Jezu.
-Daqui a dois dias toda a nossa força militar avançará mata adentro – continua Stalu
- Usaremos todas as nossas armas!
-Temos boas notícias senador supremo! -Exclama Hitlu.
 -Fale ancião!
-Descobrimos que o selvagem morreu depois da guerra, ferido por um Guardião-gigante, os rebeldes estão perdidos e desorientados, embora em maior numero do que nós devido a adesão da população civil de Zigoto, esta é nossa chance de atacar com força letal total!
-Que assim seja senador – diz Stalu – Somos fieis e discretos em nossas ações não deixaremos testemunhas para este mundo exterior, ou haverá sempre excursões e expedições a nossa busca, caso façamos outra Zigoto e deixemos sobreviventes aqui! Morte aos Ratos! Mortes a todos os Zigotenses. Que Zigoto se torne como se nunca tivesse existido! Cof, cof, cof!


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                       Debaixo do subsolo de Zigoto havia uma gigantesca estrutura preparada para conter as cápsulas criogênicas contendo crianças em hibernação, um vulto andava entre a fumaça gélida e o brilho das caixas de gelo parecendo cristais azulados, o vulto era de um velho, o senador Gombu, que meditava freqüentemente naquele local, admirando os rostos juvenis. A velha mão enrugada passou a mão no esquife, limpou o gelo e viu o rosto do jovem, o mais velho dos hibernados, era Ernu. O velho meditava profundamente sobre todos aqueles acontecimentos últimos,  tudo aquilo, pensava se realmente valia a pena o sacrifício de viver para sempre as custas daqueles prisioneiros... Gombu nos velhos tempos era o responsável por criar as histórias para os Zigotenses, esta tarefa o colocou numa situação de empatia com os zigotenses, pois para criar as historias era preciso entender seus ouvintes e telespectadores. Dentro do coração figurativo de Gombu há décadas vinha se formando uma anomalia que passava despercebida do olhar prescrutador do Corpo governante como um todo. Um dos próprios tinha tendências a se tornar um apóstata. Talvés este fosse um dos motivos de os Ratos conseguirem capturas guardiões e adentrar Zigoto com mais facilidade no começo. Talvez Gombu fosse a quinta coluna, talvés não. Talvés algum fraguimento de consciência havia sobrado em Gombu e esta “pasta especial” no ministério a tivesse cultivado. As historias deram emoções ao senador, ele sentiu que uma vida eterna seria um tédio sem o amor, sem o ódio, sem paixões e decepções.

CAPÍTULO 15

                                  O Guardião vinha solitário, do fundo da floresta marchava com possantes passos mecânicos, o sol refletia em sua lataria o deixando dourado como ouro. Carregava sobre o ombro um animal morto, uma grande anta. Estava também todo melado de sangue, começando da cabeça e pelos peitos e costas. Atrás dele vinha uma escolta de 10 ratos de varias faixas etárias. Os Ratos tinham inutilizado as armas, e os telecomunicadores do guardião, a patrulha adentra o acampamento. Segundo o código de conduta dos roedores estar coberto de sangue é sinal de rendição, assim como nossa civilização considera aquele que trás a bandeira branca como um que se entrega. Aquele que está coberto de sangue ou está ferido ou gostaria que fosse tratado como tal. O acampamento todo grita, hurra, xinga, mais ninguém tem coragem de atacar o andróide. É fresca na lembrança que foi um guardião que alvejou Cobre. Mas ninguém ousa atacá-lo enquanto ele avança, exige-se um mínimo de respeito às regras e convenções éticas, mesmo para uma máquina inviva. Quando um adolescente arremessa uma pedra no peito do autômato, Faru ordena que o mesmo seja duramente punido. A comitiva estanca no centro da praça, um da escolta dá um paço a frente e declara:
-Grande Líder este Guardião trás uma mensagem de um Senador, é do senador Gombu o fazedor de histórias, e como prova de que vem em paz, mandou este guardião ao seu serviço com a marca da rendição, e trás esta oferenda, este enorme animal abatido para um banquete ao líder do Ratos e sucessor do Lendário Cobre, que viva para sempre!
-Que viva para sempre em nós! – diz Faru, seguido pelo acampamento.
- Isto é um roedor, não? – indaga Faru. É uma anta mestre! Anta não é roedor, o maior roedor do mundo de Zigoto e do mundo exterior é a capivara!
-Ah bom! Mesmo que comamos outros roedores, menos ratos, trazer um roedor abatido para seus inimigos roedores seria uma afronta! Ainda mais agora que as duas únicas pessoas do mundo exterior que conhecemos foram mortas e só temos a nós mesmos, os Ratos! Mas o que deseja este Senador, com esta estranha mensagem solitária de paz? Quer nos preparar uma ratoeira?
-Este escravo imbecil – diz o soldado da escolta – trás um cubo de Hidrotec solidificado, e altamente compactado, e uma mensagem também em Hidrotec solidificada num cubo menor!
 -Ele não têm rastreadores? – pergunta o líder coçando a cabeça intrigado.
-Não meu senhor!
 -Artefato explosivo?
-Negativo magnânimo! – diz Yoppu.
 -Dê-me o cubo da mensagem! – pede Faru – o jovem Yoppu joga para o líder o pequeno cubo de uns dois centímetros cúbicos. Faru o apara no ar e coloca-o em um pequeno objeto cilíndrico parecido com uma pequena lanterna comprida e prateada, objeto este que pode ser explicado como se fosse uma mistura de dvd, projetor de cinema e slide. Faru aponta a “lanterninha” para um paredão rochoso em um morro, o jato de luz da lanterninha projeta na parede uma gigantesca tela circular prateada, a cor dos senadores, um rosto infantil e sardento, com os cabelos completamente brancos e compridos amarrados por trás aparece no tele-círculo, era Gombu, o mais novo do Corpo Governante:
-Filhos de Zigoto, eu sou Gombu de um planeta cuja vida se extinguiu. Venho até vocês com boas novas após tantos anos de aflição, trago um cubo de informação contendo todo o conhecimento acumulado por nosso povo durante milhares de anos. Eu passo-o para vocês como novos guardiões desse conhecimento. Passo-vos muito poder, espero que saibam o que fazer com ele! Embora vocês não sejam de minha espécie , não façam parte de minha cadeia genética, eu os considero o prolongamento de nossa civilização, nossos “caçulas”, vocês os autodenominados Ratos, vocês os cidadãos rebeldes de Zigoto terão nas mãos o conhecimento para a cura de doenças deste velho mundo como o câncer e a Aids, saberão como produzir alimento para todos os continentes, fertilizarão as regiões desérticas! Dou-vos o conhecimento que possibilitará uma tecnologia avançadíssima, mas cuidado! Os grandes deste mundo não podem colocar as mãos neste cubo. Defendam-no com sua própria vida! Construam vosso próprio país, vendam as patentes de artefatos, doai a cura das doenças! Neste artefato conhecerão nossa cultura, nossa historia. Tomem, encarem isto como uma indenização do estado pelo que meus irmãos fizeram com vocês! Ernu está vivo – os ratos exclamam espantados num burburinho crescente - Ernu está preso em uma cápsula criogênica no subsolo de Khimera! Irei libertá-lo e a todas a milhões de crianças que foram para a Cerimônia da Ciranda e estão presas juntas com ele! Ajudem-me, confiem em mim e me ajudem, isto não é uma ratoeira! Espero que este artefato seja uma penhora da vossa confiança! Não esperem que meu irmão Stalu vos ataque! Amanhã por volta do meio dia ataquem Khimera com tudo o que tiverem, eu sabotarei maquinários e guardiões, desorientarei os zumbis, mantem os cirandistas! Eu libertarei as crianças congeladas, mas preciso que me ajudem desviando a atenção dos senadores! Talvés se perguntem por eu estou fazendo isto... Faço isto porque uma longa vida as custas da ruína de muitas outras vidas não é uma vida digna de ser vivida. Eu não quero mais este tipo de vida, faço isto porque quero. Sempre haverão traidores, a traição é o germe das conspirações e um feixe grande de conspirações levam a uma revolução! Sacudam Zigoto definitivamente, Revolucionem Senhores Ratos! Rat-revolucion! Enquanto ainda está falando o rosto do menino senador vai ficando mais velho, crescendo até assumir a aparência de um idoso. A tela fica prateada e a mensagem termina. Por meio minuto todo o acampamento fica em silêncio sepulcral. Faru toma a palavra novamente colocando a “lanterninha” na cintura:
- Ratos! Ouviram o Senador, tomem vossa decisão, não os guiarei, escolham vosso destino, sou vosso escravo, decidam se acham que devam confiar em Gombu. O que acham? - a multidão começa a grita:
-Para Khimera!
-Para Khimera! -
Para Khimera! Gritam até a exaustão,
 -Então amanha ao meio dia, atacaremos!

CAPÍTULO FINAL

                                 É uma lei metafísica que tudo o que teve um começo terá um final, tudo o que se iniciou se acabará, os senadores sabiam disto, mas não quiseram encarar esta verdade, deixaram seu desejo pela imortalidade criar um escotoma na sua consciência que se alastrou e os dominou, os tornando menos sábios. O que existe dentro do tempo está sujeito a leis simples, como esta, a humanidade começou e um dia se acabará, mesmo que continue, não será mais uma humanidade, mais sim outra coisa. Assim como o animal que deu origem aos humanos, o humano se transformara em outra entidade, que ira deixar de existir num futuro distante. Até mesmo o planeta Terra terá seu fim, engolfado pelo sol que também irá findar, é lamentável. O Corpo Governante deveriam saber dentro de seus cálculos e equações que Zigoto foi criada e que iria mais cedo ou mais tarde se modificar e se houvesse contradições internas dentro de sua estrutura, ela trincaria e o sistema racharia, como todos os sistemas de governos, todos os reinos e nações que emergem sobre povos e depois desaparecem ou dão lugar a outros domínios. O nosso país chamado Brasil e mesmo os Estados Unidos não terão os mesmos nomes ou conformações geopolíticas em 500 anos, nem mesmo falarão a mesmo língua. O corpo governante não manteria a entropia sobre controle indefinidamente, não tinham nem mesmo controle sobre seus corpos que estavam degenerando, mesmo que de maneira relativamente lenta, um dia, mesmo que durassem milênios, ficariam incapacitados. Mesmo sem Cobre, é provável que mais cedo ou mais tarde os meninos começariam a desconfiar daquele mundo estranho, os meninos concatenariam as premissas e chegariam a conclusão de que continuar crescendo era a coisa normal. Talvez Ernu fugisse e se torna-se como um líder, semelhante a Cobre. Mesmo que isto não acontecesse um dia a capacidade de contenção de corpos congelados seria extrapolado, os senadores não mais poderiam armazenar os corpos sobre Khimera. E nem mesmo sobre toda Zigoto. Teriam que expandir seus domínios que é o objetivo de todo país, toda empresa, toda igreja, toda pessoa, e assim encontrariam a resistência dos governos humanos. Não poderiam viver para sempre no paraíso na terra, nem mesmo que se replicassem e se multiplicassem em 144 mil. Nem mesmo a grande multidão de outras ovelhas congeladas sob o solo do país poderiam se preservar para sempre, como é prova os animais pré-historicos congelados encontrados, que apresentam degeneração celular com o tempo. Mesmo em baixíssimas temperaturas. Uma lei que os anciãos deveriam aprender é que: Nem Deus vence a entropia, nós só podemos administra-la e nos conformar com ela (no sentido emocional mesmo). Este é um alerta aos conservadores, não é bom revoluções violentas e abusivas, mas não se pode conservar as tradições para sempre, elas inevitavelmente mudarão. O próprio cristianismo o núcleo duro de nossa civilização judaico-cristã ocidental tem mudado com o tempo, um dia será um meta-cristianismo. (Eu digo isto com pesar pois sou um cripto-cristão.) Tendências dentro dele serão selecionados pela evolução histórica das idéias, só as tendências mais fortes permanecerão. E assim a entropia cósmica começou a rachar e esmigalhar Zigoto, criando facções e sub-facçoes, traições de ambos os lados por interesses conflitantes e irreconciliáveis, o tormento das democracias, o germes das ditaduras. Ditaduras estas que simplesmente tem que rachar e virar democracias e assim sucessivamente.

                                     Ao meio dia os Ratos novamente atacaram Zigoto, na segunda e mais terrível guerra de Khimera, as baixas foram grandes de todos os dois lados, mas num determinado momento a sorte começou a virar para o lado dos Ratos, começaram a cair Guardiões á toa, zumbis foram recuperando a consciência, os Cirandistas aprisionados. Era Gombu fazendo seu trabalho. Quando os Ratos entraram pelos portões do prédio do Conselho Stalu e os demais Anciãos em seus postos de comandos, perceberam que seu fim tinha chegado, após mil anos de governo abusivo. Mas não sabiam das atividades de um de seus irmãos. Quando Gombu adentrou a sala do conselho sendo acompanhando por Ratos, Stalu exclamou aquela palavra programada para estas situações:
-Você ? - ...Observado por Gombu, Ernu, Faru, os Ratos e descongelados avançam sobre os Senadores gritando:
-O nosso pão é o corpo de nosso Pai!
-Nããão! - Grita Stalu, que é silenciado por uma arma maçadora, a seguir velhos tabus civilizacionais são novamente quebrados, conforme uma tradição ancestral da antiga tribo de Krinpeuê , que foi incorporada por aquela cultura alienígena, formando um corpo estrutural coeso e significativo, mas mesmo assim não deixando de ser bizarro para nós outros deste lado da cúpula dos Imortais. Antes de ter seu fim antropofágico a senadora Jezu aciona manualmente o comando de levantar vôo da nave-pirâmide, ela treme toda como um terremoto, range como uma velha locomotiva:
- Saiam todos do Edifício do conselho, ela acionou o desengramacentrifugador! – grita Ernu desesperado e perdigoto – Saiam ou iremos para os céus! – atropeladamente crianças e adultos começam a evacuar a velha pirâmide misteriosa, as fases automáticas do programa da nave entram em seqüência umas após outras, a nave começa a se erguer no céu por uma força desconhecida da ciência humana, muitas pessoas saem pulando da pirâmide, enquanto ela começa a se erguer muitos vão caindo dela, ela erguer aos céus como um óvni...

 A muitos quilômetros acima dali o experiente major Borges patrulha os céus brasileiros quando a estibordo o objeto alienígena entra em seu campo de visão:
-Comando, aqui é PT-LSD, cobrindo a quarta parte!
-Na escuta Major!
-Vocês não vão acreditar...
-De novo Major, vou recomendar o senhor ao serviço de psiquiatria da Aeronáutica!

Ernu ao lado de Faru e Yoppu sobem num pedestal de uma grande estátua de um camundongo famoso no seu e nosso mundo, Ernu discursa:
-Filhos de Zigoto! Ratos, senhor senador Gombu, este é um dia muito importante para nós, pois hoje fomos libertados de nosso inimigo que nos aprisionava e oprimia, neste dia, Cobre, Faru, Yoppu e os Ratos e Zigotenses cantaremos canções de guerra , pois destruímos os Guardiões de ferro que nos vigiavam dia e noite e nos mantinha presos neste mundo, matamos os zubis-escravos e aos traidores cirandistas. Da nossa inocência tiramos força, da sabedoria de Cobre orientação, do coração do povo a coragem! Que Comandante Cobre viva para sempre!
-Que viva para sempre em nós!
-Senhores, neste dia vencemos os antigos de dias, pois como afirmou um dos deuses deste velho mundo: “o próprio pequeno tornasse-á mil, e o menor uma nação forte”. Viva Zigoto! Um enclave alienígena neste velho mundo! Viva os Roedores! Senhores e crianças, aos veículos que sobraram, às antas! dividam-se e partam para a terra prometida por Cobre, um mundo novo nos espera, nosso povo sofrerá preconceitos e discriminações nas nações que habitar, mas na nossa diáspora teremos um artefato que terá um alto poder de barganha. Conseguiremos tudo que quisermos. Levantem o acampamento e partam agora, é minha ordem! Catitas ao sul, Pacas ao norte, Preás ao leste e assim por diante, e agoras vamos criar um problema demográfico nas cidades que encontrarmos ao norte, ao nordeste, ao sudeste, ao sul, ao sudoeste, ao noroeste em todas as direções!  - Assim os Zigotenses são libertados e partem para o mundo antigo, o que aconteceu depois é uma outra historia...

Já era tarde da noite e eu ficara ali ouvindo ao senhor na praça por muitas horas paralisado, um esquilinho passou na minha frente e mostrou os dentes enquanto segurava e comia uma amêndoa, eu olho para o senhor sorrindo e pergunto: Ok vô! Sua historia é muito interessante, mas como posso saber que o senhor não sonhou tudo isto, como eu nunca houvi falar de invasão de crianças desconhecidas em cidade nenhuma?
-Meu jovem, o mundo é uma ilusão como a que os senadores criaram para os Zigotenses, os poderosos deste mundo, só permitem que se saiba o que eles querem que se saiba!
-Sei lá meu senhor, isto tá parecendo mais um tremendo de um raciocínio circular, seu testemunho não tem validade a menos que o senhor me apresente algum artefato de Zigoto, se o senhor era um deles deve ter algum de lembrança!
-Infelizmente não fiquei com nada, meu filho! – e o velhinho e eu nos levantamos nos comprimentamos  e saímos em direções opostas, lá na frente eu me virei e perguntei ao velhinho: -Mas como é mesmo o seu nome, meu senhor? – E ele sem parar de caminhar e sem se virar respondeu: 
- Sou Joaquim, mas já fui conhecido por Gombu, o criador de historias. – Sorri e continuei minha caminhada até em casa, um casal com uma linda menininha passou por mim, ela me encarou e ficou batendo os dentes incisivos inferiores nos superiores, aumentei o diâmetro de minha pupila. Sai correndo, ao chegar em casa peguei minha ratoeira e joguei pela janela, vai que os Ratos resolvam se vingar pelo seu animal totem...

FIM

ABSOLUTUM



"...infantilizado os cidadãos, o Estado alegará a deficiência de seu juízo moral para se meter cada vez mais em suas decisões privadas."  – Olavo de Carvalho.



Dedico esta historia a meus dois ratinhos Atthos Marx e Matheus.