sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ENSAIO 04/2010

LIMBO


Se existe alguém que é infinitamente livre este alguém é Deus. Deus não se contrai à nenhuma gênero, nenhuma espécie, é o indizível, o indefinido, o incatalogável e o ininquadrável. Nada o pode restringir, constranger ou limitar. Sendo assim ele e só ele existe na plena acepção da palavra. Ele é o SER. "Eu sou o que sou". O Absoluto quer dizer solto de tudo. As demais coisas só existem na medida em que tem participação com a realidade absoluta. Cortando-se a comunhão com Deus os outros seres entram imediatamente num processo de nadificação.  A tudo o que foi criado, dos seres sencientes aos seres inanimados podemos aplicar o conceito de LIMITADOS. Todos os entes que foram criados são contingentes. Devem sua existência à causa primeira, que não foi causada,  o motor que não é movido. Anjos, humanos e animais foram criados por Deus e por isto são escravos de parâmetros, de rotinas, subrotinas e ciclos matemáticos, lógicos, naturais etc. Quando Deus criou o mundo fê-lo dentro de padrões lógico-geométricos e de "leis" físico-químicas que impõe uma escravidão, um cerceamento sobre suas criaturas. Não posso respirar dentro d´água a não ser que crie um mini-sistema atmosférico, uma sub-rotina com um cilindro de gás respirável. Um mecanismo que reproduza as condições do ambiente que respiro naturalmente, desta vez colocando um simulacro de atmosfera  dentro de uma ambiência aquática num reduzido modelo  aeróbico.  Não posso voar a menos que "burle" as leis da gravidade por meio de equipamentos e dispositivos que levantem meu corpo do solo a que estou condenado a viver.  Todos os seres vivos vivem subordinados a rotinas e ciclos. Não podem quebrar estas rotinas e ciclos podem inventar (no caso dos inteligentes) dispositivos baseados nestas mesmas rotinas e ciclos que os permitam driblar as leis férreas a que estão submetidos. Vivemos dentro de um enquadramento, um conjunto cibérnetico que geralmente tem subconjuntos. Os entes autoconscientes também são limitados por leis que controlam a subjectividade, constrição esta muitas vezes advinda do suporte biológico destes seres. Ódio, medo, angústia, estresse e depressão existem na subjetividade por causa da herança animal. São programas ou vírus (apêndices atávicos) que assolam a inteligência e a vontade dos sujeitos. 
Quem quer que viva muitos anos a observar determinada faceta ou aspectos dos objetos, ou algum fenômeno por muito tempo chegará a apreender padrões recorrentes na natureza. Na verdade é da catalogação destes conhecimentos de padrões em sistemas que nascem as ciências. Existem coisas que sou obrigado a fazer. Tenho que beber água se não morrerei por desidratação. Meu corpo é um sistema que não pode viver sem água e o ciclo hídrico do meu corpo se repete décadas a fio para que eu possa continuar existindo como unidade biológica. Minha parte anímica, minha alma ou psiquismo obedece a parâmetros desta vez de ordem  psicológicas e lógica. 
O leitor se lembra de um programa de proteção de tela de computador que era um labirinto tridimencional? O programa mostrava a imagem de vários corredores interligados em compartimentos sem saída para o exterior subdividido por paredes de tijolos. O programa rodava e rodava de novo dentro de ciclos e rotinas. Se você observa-se por muito tempo, pelo acumulo de repetições, começaria a entender padrões e a  lógica interna do "jogo".  Aquilo é uma prisão atordoante, desesperadora se alguém tivesse que passar muito tempo dentro daquilo em 3D.
Estou persuadido de que todas as coisas criadas estão presas dentro de ciclos e rotinas de várias naturezas, e sendo assim todas as coisas relativas, incluindo quem escreve e quem está lendo este texto são escravos. A boa notícia é que podemos escapar desta prisão imanente mas somente através da obediência a esta imanência, compreensão, absorção  da mesma, só assim atingiremos a transimanência ou a  transcendência. Como disse o Cristo: "conhecereis a verdade, e a verdade vós libertará" , creio que isto se dá não apenas em sentido espiritual e moral, mas em todos os outros sentidos.
 O oposto , a desobediência e o desconhecimento dos ciclos e rotinas, do Karma, levará à mais restrições, a um estreitamento ontológico no nosso ser, no nosso tempo de vida e do  nosso espaço. Veja o exemplo dos criminosos que em violação as leis jurídicos-sociais  são jogados num limbo espacial restrito, os presídios e cadeias.
A violação das leis sociais acarreta punição em forma de restrição espacial. Se dentro da cadeia o infrator violar as regras internas do micro-sistema prisional ele será mais restringido ainda e irá para um cubículo chamado solitária. Uma prisão ao quadrado, uma restrição dentro de outra restrição. Você consegue imaginar outro estágio de restrição?
O mundo é limitado e contingente e por isso é uma espécie de "limbozão" para as criaturas que vivem dentro dele submetidos aos seus ciclos e rotinas. Na verdades, as criaturas como partes constitutivas do mundo apresentam em si mesmas na sua ontogenia e ontologia restrições e limites, ciclos e rotinas que se não forem obedecidas e conhecidas acarretaram redução ontológica.  Foi este o caso dos anjos que se transmutaram em demônios. Condenados ao abismo. A salvação cristã, o Nirvana, o paraíso mulçumano, o valhala, o céu e etc. São o escape transcendente da imanência do mundo, uma expansão ontológica. Já o inferno é uma redução do ente, uma constrição redutivista, um prisão no limbo de ciclos e rotinas cada vez mais apertados. Vivemos presos a estes limbos em sentido mental-cognitivo, como também ao afetivo sendo que a única parte de nosso ser que não está presa a nenhum limbo cíclico é  nossa VONTADE, a imagem  de Deus no homem. A parte verdadeiramente livre. O livre-arbítrio colocado no homem por Deus.
A   VONTADE é LIVRE, a cognição e os sentimentos não. Estes últimos obedecem a regras, estruturas intrínsecas, ciclos e rotinas. Você pode usar sua vontade livre para danar sua alma, numa redução ontológica, ou obedecer a Deus e crescer ontologicamente tendo cada vez mais liberdade.  Se aproximando do Divino, do Absoluto, compartilhando cada vez mais sua natureza livre, galgando degraus numa ascensão existencial.
PRISÃO LÍMBICA
Uma fila de um banco, de um hospital do SUS, é como uma prisão, uma fila é uma estrutura espacial restritiva coordenado indivíduos numa trajétoria  cronotópica para atender as necessidades dos  cidadãos. Você é obrigado a ficar estacionado, as vezes em pé por algum tempo. Ninguém gosta disto, uma fila é um limbo. Você fica preso ao deslocamento sequencial das pessoas. Sem poder ter acesso a outros estímulos a não ser uma prosa sobre banalidades.  Excetuando-se os castigos corporais, TODA PUNIÇÃO É RESTRIÇÃO, DIMINUIÇÃO. Da sua riqueza, no caso de multas, da sua capacidade de locomoção, ou direito de ir e vir no caso de penas de prisão. Uma cela é um limbo por redução de espaço e estímulos de possibilidades de ação e paixão.
Vou exemplificar alguns limbos desde muito fechados até mais abertos:
Nós vídeo-games temos exemplos de ações restritas por regras (Esta é minha definição pessoal de jogos - manobras dentro de regras) muito simples, lembre-se do mundo do PAC-MAN, com rotinas apertadas.
Existe um desenho animado  que é um limbo padrão, onde os dois únicos personagens obedecem ciclos e rotinas férreas e recorrentes, O desenho do Papa-léguas.
 Nesta animação da Warner Brothers o  Coiote vive única e exclusivamente para pegar o pássaro e este para fugir. O tema é o mesmo com infinitas variações. Se você nunca percebeu que aquilo é um inferno semelhante ao castigo de Tântalo ou de muitos outros no inferno de Dante vai começar a notar agora. 
Preso a premissas de aço o Coyote passa seu tempo em um presente eterno (o limbo não só é um prisão espacial como temporal)  numa girândola sem fim inventando mil artimanhas e estratégias para pegar o papa-léguas e no final, não conseguindo ainda se ferra de verde e amarelo (ou de estrelas e listras) e depois começa tudo de novo, tendo por único cenário o quênio percorrido pelas estradas asfaltadas de algum lugar indefinido nos EUA.
 É igual a maioria dos seriados de televisão que possuem premissas recorrentes. Como no seriado antigo do Batman que era aprisionado em um armadilha pelo supervilão e sempre escapava para no final cair numa nova armadilha para escapar no episódio seguinte. Como também nos programas humorísticos com seus bordões repetitivos. No caso do Papa-léguas imagino o que aconteceria se uma coiote fêmea aparecesse no sistema como um trojan, dentro da história. Quebraria as rotinas da narrativa.
 O Desenho da Caverna do Dragão também era um limbo com ciclos e rotinas permanentes, inclusive aventou-se a hipótese de os meninos estarem mesmo no inferno.  Embora seja um limbo o mundo da Caverna do Dragão varia em locações, em personagens, em eventos, sendo mais aberto, com mais diversidade. Vários níveis acima de Papa-léguas. Poderia sistematizar os desenhos animados e classificar em níveis ou estágios límbicos, mas deixo para o leitor. Tentei fazer apenas este gráfico:
 A biota cibernética, o sistema ecológico terrestre, é um limbo preso em ciclos e rotinas e nosso corpo está preso a este sistema. Nossa mente (alma) quando erámos bebês saiu de um limbo de insconciência e se ampliou desmesuradamente. As agressões do mundo externo objetivo, gerou em nossa psique mecanismos de defesa freudianos que podem crescer  englobando toda a psique e aprisionar nossa mente em ciclos e rotinas neuróticas e psicóticas. Os mecanismos de defesa podem implodir nossa psique. Podem nos cercar e constranger nos aprisionando num limbo psicológico, nos fazendo regredir  a estágios anteriores no desenvolvimento mental.
O caráter e a personalidade são prisões imanentes para as pessoas, elas estão presas a si mesmas a sua identidade, ao seu estilo, advindos pela repetição de atos ao longo de anos.
Somente conhecendo a  nós mesmos, podemos transcender-nos, somos presos pelos  nossos hábitos, sentimentos e pensamentos, a partir do momento em que saimos de nós mesmos e contemplamos estes ciclos e rotinas, escapamos da prisão imanente, transcendemos o LIMBO criatural da fatalidade intrinseca da vida.
Uma obcessão é análogo no mental a um local límbico, a pessoa fica presa num curto-círcuito cognitivo. (eu tinha uma denominação própria para isto, CIRENGRAMA, ou engrama circular.) Uma pessoa que sofreu uma grande injustiça e ficasse obcecada com a vingança, congela no tempo, vive aquele momento de vitimização como se fosse um momento eterno congelado, um episódio atomistíco irrelacionado como os autistas, que  vivem num limbo relacional. O eu solipsista cartesiano pode ser uma prisão límbica, num presente perpétuo. A palavra limbo vem do latim limbus, que quer dizer fronteira, borda. Se colocarmos o SER no centro de tudo, aqueles seres que estiverem mais distantes do ser e  próximos ao não-ser, estarão nesta borda límbica. A própria autoconsciência é já uma transcendência do sujeito, o conhecer o próprio ato de conhecer é já uma ampliação de essência. É quebrar a rotina...




ABSOLUTUM

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ENSAIO 03/2010

A SALVAÇÃO PELOS PEQUENOS EM STAR WARS

Fui um grande fã de Guerra nas Estrelas ou no inglês Star Wars. Não sou bom de inglês mas acho que Guerras Estelares também seria um bom título. De todos os filmes de ficção científica este foi meu favorito. Depois vim saber que esta película tinha por trás referências mitológicas e era  em si uma nova mitologia moderna.
Depois de muito tempo (décadas) vim saber também que o verdadeiro protagonista do filme, não era Luke ou Léia, mas sim o pai deles, Vader. Vim a saber na conclusão do filme, depois dos três episódios últimos, mas primeiros na ordem cronológica interna do filme, que a queda e regeneração moral de Anakin Skywalker  era o fio lógico que percorria toda a trama. Vim a saber também que assim como o filme Duna de Frank Herbert tinha como um de seus elementos fortes referências a cultura e religião árabe/islâmica, Star Wars fazia alusões aderentes a cultura  indiana, como a cremação dos cadáveres, e a religião Hindu/budista. (Onde então está a ficção científica em  homenagem ou simplesmente com elementos alusivos ao judaísmo, ou cristianismo, ou então a cultura judaico-cristã? Quem preencherá esta lacuna? C. S. Lewis esta mais para Ficção Fantástica. Veja aqui a diferença em FILOSOFIA DA FICÇÃO CIENTÍFICA).
 Por falar em religião  descobri também que este componente místico era o tempero que dava aquele “sabor” romântico que faltava a séria Jornada nas Estrelas, ou Star Trek, este muito cerebral, muito científico (na definição de Olavo de Carvalho – CIÊNCIA = “conhecimento experimental materialista” ), sem nada de metafísico ou espiritual como Jedis, a Força, “aquele que trará equilíbrio à Força” em Star Wars, ou Tempero/Especiaria/Condimento, “o adormecido deve despertar” em Duna. Esta assepsia de algum componente esotérico em Jornada, me fazia colocá-lo em segundo lugar na hierarquia de importância. Sem mística, sem componentes intuitivos/misteriosos um filme ou até mesmo a própria vida se torna tão delicioso como mastigar um pedaço de isopor com a forma de um queijo.
 Bem, tendo assistido incontáveis vezes os episódios de Star Wars, lido muito a respeito, inclusive um livro chamado a Ciência de Star Wars de Jeanne Cavelos, nunca vi ninguém falar de outro fio condutor, ou outra trama paralela que faz parte deste filme. Na verdade não é uma trama paralela propriamente dita, mas uma estratégia, uma válvula de escape, ou até mesmo uma lição de moral, que podem incluir esta franquia em uma fábula. Notei que este elemento adicional do filme acontece não somente nos antigos episódios, como nos últimos I, II e III, destacando a identidade estrutural dos novos com os velhos episódios. Dando a idéia de que todos os seis episódios são mesmo do mesmo filme. Parece até que com esta estratégia George Lucas quer nos transmitir uma mensagem. Mas observando melhor, este mecanismo ocorre em uma miríade de filmes além da ficção cientifica e talvez seja um instrumento cinematográfico de surpresa, de suspense.
Bem, sem mais delongas, o assunto de que trato aqui é o fato de nos filmes estelares de George Lucas, quando se instala o conflito entre antagonistas e protagonistas, e a situação começa a ameaçar seriamente a  Aliança Rebelde e as vezes vemos que a situação se torna terminal para Luke, Han, Leia e tutti quanti,eles repentina e surpreendentemente são salvos pelas criaturas menos importantes, pelos personagens coadjuvantes, pelos pequeninos. Vemos isto em todos os episódios, os velhos e os novos. Se isto foi consciente ou inconscientemente  eu não sei, mas está lá. Quando o poderoso Império Galáctico está prestes a destruir a Aliança, o escape é proporcionado por um personagem insignificante na narrativa.
O campeão de salvamento das situações é o pequeno faz-tudo, canivete-suíço, R2D2.
Em todos os episódios sua ação benigna em um detalhe, que se expande em ondas concêntricas e beneficia todo a Galáxia é simplesmente impressionante. Os republicanos deveriam colocar imensas estátuas do droidezinho por toda a Galáxia. E deveria ser homenageado  como o maior herói de Star Wars. Este robozinho, que se comunica por estalos e apitos, logo no episódio A Ameaça Fantasma, Star Wars I, entra em cena pela primeira vez já salvando a nave da Rainha Amidala, que por ter os escudos defletores danificados, estava prestes a ser destruída pela Federação do Comércio. A pequena lata mecânica é elogiada pelo Capitão Panaka(?) e a Rainha.
Esquecendo um pouco nosso heróizinho e lembrando dos micro-agentes salvadores  percebemos que quando os Jedis  Qui-gon e seu aprediz Obi-Wan descem a superfície da planeta Naboo são salvos da ameaça das máquinas da Federação pela ajuda semi-voluntária de Jar Jar Binks que os guia até a civilização subaquática dos Gungans, fazendo um link dos gungans com o restante da trama. Notamos também que mais a frente, após pousarem com a nave danificada em Tatoine só conseguem as peças para concertarem a nave e continuarem com sua missão após a entrada em cena de Anakin Skywalker que vence a corrida de pots, ganha as peças e a liberdade.

Um menino é a via de salvação para os poderosos Jedis. Quando os ridículos dróids do Vice-rei invadem o planeta Naboo, a ajuda para a Rainha e os Jedis vem dos “inferiores” Gungans. Mas sua ajuda é só um paliativo, quem salva tudo mesmo é o pequenino Anakin, que de dentro de uma nave destrói a estação espacial que controlava os dróides incapacitando todo o exército e dando a vitória para os Naboos em um único lance. Anakin vai no ponto-chave, sem essa ação no detalhe, o todo estaria comprometido. No episódio I, os maiores heróis, cujo pequeno ato na parte que se expande para o conjunto e salva toda a trama são R2 e Anakin Skywalker. Todas as demais batalhas, mesmo a magnifica luta de Qui-gon e Obi-wan contra o Sith com sabre de luz duplo, ganhando-se ou perdendo-se, falando em termos estratégicos, não teriam maiores consequências para a guerra.
No episódio II, quando a senadora Amidala está prestes a ser picada por vermes monstruosos é o pequeno R2 o primeiro a dar o alarme e tentar salvar a mesma eletrocutando alguns vermes. O dardo que o caçador de recompensas, Jango Fett usa para matar o transmorfo assassino, é a peça, o detalhe ínfimo sem o qual Obi-wan nunca teria descoberto o exército de Clones e assim no final ter podido salvar os Jedis acuados na arena de sacrifícios pelos pelotões do Conde Dukan. Sem a ajuda do cidadão comum, a criatura de quatro braços, dono da lanchonete, que era amiga de Obi-wan, isto não poderia ter acontecido. Alguém de fora de todo o conflito, com uma simples informação, dá o empurrãozinho que num crescendo proporciona toda uma nova dinâmica que no fim reverte em vitória para os mocinhos. E fiel a fábula George-luquiana é um pequeno padawan quem responde a pergunta essencial para a localização do planeta aquático onde os clones estão sendo produzidos (reproduzidos). Não sei se a cena foi feita com este propósito consciente, mas demonstra mais um vez o mote de que : A SALVAÇÃO VEM PELOS PEQUENINOS.
No episódio III, a Vingança do Sith, o elo de ligação dos episódios velhos e novos, vemos o mesmo tema se repetindo, desta vez numa situação similar ao episódio VI, O Retorno de Jedi. Mas antes um pouco de Starwarslogia. Os dois últimos episódios das duas fases, o III e o VI, apresentam algumas semelhanças. Na verdade inicialmente o Retorno de Jedi, seria A Vingança de Jedi, mas devido a polêmica da questão ética de um Jedi se vingar, o nome foi mudado. Os dois episódios são os mais sombrios, mais tenebrosos, densos emocionalmente. E expõem novamente R2 salvando a cena. Quando Anakin (proto-Vader) esta detido pelos guardas de Dukan, na nave em que Palpatine era supostamente refém, é R2 que ejetando de si o Sabre de luz para ser apanhado no ar por Anakin, salva a situação, numa cena semelhante a quando no  episódio VI, Luke e Han no poço do Sarlacc sob custódia de Jabba the Hut, prontos a serem devorados, são salvos pela ejeção inesperado do sabre de Luke, que a partir deste toque inicial, inverte toda a trama e destrói Jabba, o horrendo.
Em Uma Nova Esperança, episódio IV, quando nós, os mais velhos, vimos R2D2 pela primeira vez na vida, é ele o responsável, involuntariamente, é verdade, de guardar a mensagem que será o vínculo tênue entre Obi-wan e Luke com a Aliança Rebelde. A princesa Léia prisioneira de seu próprio pai (ele estava pertinho dela, não sentiu nada?) tinha colocado uma mensagem para Kenobi juntamente com os planos para a primeira Estrela da Morte no robô. R2 já entra no filme como um peão, mas com valor de um rei, que possibilita a dinâmica de todo o restante do enredo. Após a Mileniun Falcon se capturada pelo raio trator da estação da morte, é R2 que plugado ao sistema da Estrela da Morte descobre que a princesa é prisioneira ali e qual a sua localização onde estava aguardando execução. Quando na tentativa de salvar a princesa, Luke e Han estão presos dentro do compactador de lixo da Estação espacial  quem é o responsável pelo salvamento dos Heróis?  Sem a ajuda providencial do robozinho, o Jedi e o contrabandista teriam sido esmagados. A princesa não teria sido salva, os planos da Estrela da Morte não teriam ido parar nas mãos dos Rebeldes e a Estação espacial teria destruído o planeta base da Aliança. É ou não é o maior herói de Guerra nas Estrelas?
Em O império Contra-Ataca, episódio V, nosso herói tira uma licença de suas atividades. Licença entre “aspas” pois ele está ali sempre presente na trama. Mas não consigo me lembrar de nenhuma micro-ação sua que trará consequências gerais.  Escrevo de memória e no momento não tenho acesso a este episódio para assisti-lo com atenção. Mas me lembro que ele acompanha Luke até o planeta Dagobah como Astrodróide de navegação. E lá, é ele que informa Luke sobre a presença de Yoda. No começo do filme quando Luke está lá fora da base na tempestade gelada do “antártico” planeta Hoth, R2 fica de prontidão com seus sensores procurando traços de vida. Nada de consequências portentosas para a narrativa é claro. É ele também que com aquela sua ferramenta de plug, abre algumas portas, no meio do fogo cruzado dentro da cidade nas nuvens de Bespin.
Finalmente em O Retorno de Jedi, além da cena da ejeção do sabre para Luke, ele salva toda a Aliança Rebelde e a República quando abre a porta  da estação geradora do escudo direcionado  à Death Star, para a fração de tropa na lua de Endor. Os rebeldes desligam o gerador, que vulnerabiliza a estação que é atingida no coração por Lando Calrisian  pilotando a Falcon. Uma açãozinha que provoca uma reação em cadeia num crescendo afetando o macro.
Mas há neste episódio uma interferência benfazeja para a aliança por parte de criaturinhas outras também. Sem a ajuda dos Weoks, a fração de tropa rebelde não conseguiria escapar da rendição e desligar o gerador. O futuro da Galáxia ficou por algum  tempo nas mãos dos pequeninos.
Uma criaturinha que nem vida tem, que não é nem mesmo um antróide, sem nada de humanóide, na forma ou na linguagem, sem braços nem pernas para poder agir. Que foi cuspida pelo monstro de Dagobah, gosto ruim sem dúvida,  se mostra assim um símbolo de uma palava esquecida: lealdade. C3PO nada faz o filme inteiro a não ser reclamar, e em alguns casos traduzir. O que é uma repetição de um sinal em outro código, algo passivo. Nada agente ou própio de um sujeito.  Dizem que ele exerce na trama a função de bobo, mais R2 para aliviar as tensões da trama. Não acho R2 tão cômico assim. Bravo R2!

Todas estas cenas me fazem lembrar daquele adágio de que por causa de um prego, perdeu-se uma ferradura..... que perdeu-se uma guerra. E da influência do micro no macro. Me recorda aquela teoria de que se o nariz de Cleópatra fosse um pouquinho diferente, a história seria outra. Me faz rememorar o tiro dado em 1914 no Arquiduque Ferdinando, por um anarquista que desencadeou a grande guerra, depois conhecida por I Guerra Mundial. Me lembra também do argumento de um soldado no filme O Resgate do Soldado Ryan, onde ele diz que por ser um bom atirador, um sniper, bastaria uma oportunidade para ele colocar Hitler na sua linha de visada e todo aquele esforço extênuo de guerra seria desnecessário. E também daquela história da borboleta que produziu um furacão. Me lembra também do beijo de Judas Iscariotes que gerou numa reação em cadeia tudo o que nós bem sabemos. Me recorda do guru neurolinguista Lair Ribeiro que dizia que Deus está no detalhe, a diferença está no detalhe. Um pequeno reajuste ínfimo pode modificar toda uma trajetória. Me lembra também que após contemplar meu filho caçula por alguns meses, resolvi para de beber definitivamente, por querer lha dar um bom exemplo. É a força de um pequenino. Seja um pesamento, uma intuição, um gesto, um pequeno comentário. Para o bem ou para o mal. Não sei se este é um recurso técnico-cinematográfico ou se George Lucas quis passar algo mesmo.
Terminando, as Escrituras afirmam : “Não desprezeis o dia das coisa pequenas” (Zacarias 4:10)

-Providencie um polimento e um banho de óleo ao dróide!

ABSOLUTUM
Post Script:
Isso tudo que escrevi acima me lembrou de uma coisa no I Ching
deste hexagrama:

"O PODER DE DOMAR DO PEQUENO"

 O hexagrama apresenta o poder do pequeno, retendo e freando. Uma linha fraca ocupa a quarta posição, limitando assim todas as demais linhas fortes. Como imagem natural, representa o vendo, agindo com seu sopro para reter as nuvens, porém não tendo força suficiente para transformá-las em chuva. A configuração momentânea do forte sendo temporariamente contido pelo mais fraco é a tônica do hexagrama. (VEJA AQUI)
ABSOLUTUM  em 04 de Agosto de 2011.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ENSAIO 02/2010

A BASE "IMBECIL-COLETIVA" DA PIRÂMIDE.

Na mitologia grega o deus Vulcano rejeitado pelos seus divinos pais, foi recolhido pela bela Tetis, filha do Oceano. Durante um período viveu numa gruta profunda , ocupado em fabricar brincos, broches, colares, anéis e braceletes.  Este deus disforme e feio é também conhecido por ser entre o panteão, o mais laborioso e também o mais industrioso, por fabricar mimos para as deusas e outras armas para os deuses. Parece-me que este arquétipo de uma entidade trabalhadora (sua estátua tem um martelo de forja na mão), habitante de um mundo subterrâneo ou escondido, um ser feio e atarrancado permanece presente na cultura pelos reflexos de modelos que apresentam as mesmas caracterísitas com algumas variações. Uma tênue imagem atávica...
No conto a Branca de Neve vemos criaturas nanicas, que trabalham em minas subterrâneas, muito parecidas entre si, os famosos 07 anões. Zangado, Dunga e etc.
Na lenda de Papai Noel, os brinquedos que o bom velhinho distribui pelo mundo na noite de natal são feitos pelos seus ajudantes que são duendes.
Na filme a Fantástica Fábrica de Chocolate, nas duas versões, temos anõezinhos trabalhando arduamente no fabrico de guloseimas para as crianças. os Lumpas, inesquecíveis para quem assistiu a primeira versão.
No livro do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley somos apresentados a criaturas localizadas na base da pirâmide social, responsáveis pelos trabalhos braçais. Os Semi-aleijões Ypsilon-menos, dos grupos gêmeos Bokanowiski, imbecis, felizes e dedicados.
Na base da pirâmide social da civilização de 1984 no livro de George orwell Temos os proletas trabalhadores de uniformes padronizados.
Acho muito parecido estas descrições com os gabirus  nordestinos, principalmente quando alguns  emigram para cidades grandes afim de prestar serviços pesados na contrução civil  e outros.
 Na historinha do Lobo Mau e os três porquinhos percebemos que os suinos apresentam os mesmos traços de um grupo de baixinhos muito parecidos entre si, dedicados a tarefas manuais. Estes porem não se mostram nada imbecis.


Um desenho  animado que eu adorava quando criança era o de uns duendinhos (OU GNOMOS?) azuis habitantes das florestas, moradores de casas/cogumelos, os smurfs que se assemelham muito nas características e atividades aos outros mostrados acima.



Já escapando das similitudes dos grupos apresentados, porém não muito,  temos no filme de George Lukas, aqueles baixinhos de capuz escuros que negociam andróides pelos desertos, os Jawas, muito parecidos com duendes fabricantes de presentes. Os Ewoks também lembram de longe duendes como os smurfes, os 07 anões, os Lumpas.  Mas lembram mais precisamente os pigmeus das florestas africanas.
Nas mitologias de muitos povos e em entretenimentos da atualidade temos este tema recorrente de grupos gêmeos anões ,habitantes de cavernas ou profundas florestas, ligados a atividades laborais físicas.
Inspirado na Teoria das castas  de Olavo de Carvalho e enquadrando estes seres do universo fantástico nesta classificação, acho que estes seres sejam uma estereotipia ou  uma intuição do supraconsciente coletivo de muitos povos e civilizações da natureza mesma dos tipos mais baixos nas pirâmides sócio-economicas de seus respectivos povos. Uma forma não racional, mais intuitiva de verem o esquema social de que fazem parte. Trolls e gnomos, ligados a mundos subterrâneos, mineiros, ferreiros e forjadores, são os trabalhadores das castas mais baixas, os sudras, os serviçais, os proletários, os escravos. Estas criaturas imaginárias são, evanescentemente, uma auto-imagem caricatural que culturas tem de suas classes, castas ou estamentos, ainda que uma lembrança distante e inconsciente.

Elfos =Arianos
Elfos = arianos?
Que Trolls e Gnomos são uma representação de nossos proletários é comprovado pelos seus igualmente fantásticos irmãos superiores, mais sutis que são os elfos e fadas. Mais inteligentes, habitates de mundos "aéreos", copas de árvores e não cavernas e escuras florestas. De traços mais finos, mais longilíneos, mais arianos, mais espirituais, são os brâmanes e  os guerreiros. Mais rarefeitos, menos indênticos, não dedicados a meter a mão na massa.
Um grupinho anão de gêmeos estupidos, prontos a obedecer ordens é um tema recorrente em muitos filmes e desenhos animados. Estes são os Gabirus. (Não me leve a mal , sou quase um).
São um reflexo pálido, esmaecido, do deus Vulcano, um lascado (feio e malformado) expulso das elites, habitante de submundos, de guetos, sobrevivendo as custas de seu dedicado trabalho manual. Uma autoprojeção da sociedade em representação de suas proprias classes.
Não sou marxista e creio que sempre existirão, pois faz parte da própria estrutura da realidade que uns sejam mais belos, mais inteligentes, consequentemente mais ricos que  outros. Alguns desenvolverão doenças psicológicas que os levarão às drogas, ao alcoolismo, à mendicância , inevitavelmente é a pobreza. É uma lástima!
"No meio de vocês sempre haverão pobres, enquanto eu não estarei sempre com vocês"
(João 12:8)
 Mesmo assim podemos esperar medidas para que oportunidades sejam oferecidas para ascenções sociais, não da maioria é claro, não tivemos por oito anos um Troll-gabiru presidente?
 Independentemente  de opiniões adversas,  o metalurgico que virou sindicalista, que se tornou presidente de uma república  é autor de um feito memorável! Parabéns Senhor Presidente! 
ABSOLUTUM.

Obs: O filósofo Olavo de Carvalho se refere no livro O Imbecil Coletivo a uma falsa casta sacerdotal, Brahmane


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ENSAIO 01/2010

PSICOPOLÍTICA
Há muito venho observando que em crimes de ódio, crimes verdadeiramente de ódio e não em hiperbolismos politicamente corretos que hoje se atribui a um simples xingamento, existem duas modalidades, duas direções da "seta" da ação destruidora do autor do delito. Uma do conjunto para o elemento e outra do elemento para o conjunto. Por exemplo o crime do sul-coreano Cho Seung-hui é exemplo da parte que ataca o todo, o crime de um serial killer é um exemplo de um "todo" que ataca uma parte. Coloco entre aspas porque este "todo" significa uma introjeção psiquíca que o atacante padece. 
A um atacante, um franco-atirador chamamos assassino em massa, a um homicída que mata sequencialmente chamamos de obviamente serial killer. Percebi já há algum tempo que nestas duas modalidades de agressão existem algumas peculiaridades  que as diferenciam radicalmente, não só quanto ao fator matemático do número de vítimas,( o assassino em massa, procura destruir o maior número possível em uma menor duração de tempo, o psicopata clássico mata durante uma duração de tempo longa, apenas na maioria, uma vítima por vez.), mas também quanto as motivações individuais, os estados subjetivos do autor da façanha maligna, que percebi no dois casos serem antagônicas em um sentido "POLITICO", ou "ideológico."
Quero dizer aqui sentido político-ideológico não na direção cognitiva, racional, mas eminentemente emocional, passional. O assassino em massa tem motivações (motivações mesmo, de emoção) e não razões, que são em essência uma materialização de todo um discurso de ESQUERDA. No outro extremo o serial killer apresenta sentimentos no momento do ato ímpio que o coloca em sintonia com um discurso de DIREITA.
Vou explicar melhor mais a frente do que estou falando.
 Por isto então, baseados nestes significados políticos , tentaremos explicar metaforicamente uma ação causada por distúrbios psicológicos profundos(com componentes emocionais secretos é claro)  que causam estragos sociais e éticos consideráveis.
Denominei ao esquema de  classificação destes dois tipos de homicídas de PSICOPOLÍTICA, embora saiba que este termo já exista para designar  outros assuntos. A Psicopolítica como um mecanismo de classificação  de crimes de ódio apresenta os seguintes conceitos:
HOMICÍDIO PSICOPOLÍTICO.
Ato de matar pessoas por motivações de ódio extremo, já anterior a ação, de duração prolongada, cujo objeto de ódio não deu causa a ação, que devido as motivações PSICOSSOCIAIS do perpetrador se classificam em:
HOMICIDA DE DIREITA
É o serial Killer, o psicopata clássico, que sucumbiu aos vetores de forças sociais que agridem o indivíduo; ao jogo implicito de forças dentro de uma sociedade, que visa descriminar determinados individuos e premiar outros. O homicida de direita incorporou em sua psique o ódio a minorias, aos marginalizados, a parte defeituosa da sociedade, ele dá vazão as forças latentes na hierarquia social. Para comprovar minha tese bastar elencar as vitimas dos serial killers que são quase sempre esta parte frágil da sociedade. O dextro-homicida odeia o fraco, pois suas vítimas são mulheres, crianças, ou pessoas que portam alguma  peculiaridade  que a INDIVIDUALIZA, onde a morte desta vítima satisfaz alguma fantasia de poder do autor. O dextro-homicida psicologicamente simboliza a sociedade que se opõe ao indivíduo e desta forma se identifica com estruturas socais antigas como os espartanos que sacrificavam bebês defeituosos ou os nazistas que extermiram minorias e  elementos defeituosos da antiga alemanha. O dextro-homicida sucumbiu ao mecanismo do bode expiatório de que falou René Girard sobre a coletividade homicída e então, o mesmo, dá vazão de forma mais acentuada ao que existe de forma latente dentro do comunidade. Busque no Google ou outro mecanismo de busca pelo nome de psicopatas famosos  e trace o perfil de suas vítimas que na maioria se enquadrara no conjunto de pessoas problemáticas como homossexuais ou prostitutas, idosos e outros. Que os principais antagonistas de minorias (aparentemente)  sejam pessoas "à direita" do espectro politico engloba nosso dextro-homicida como um agente executor destas minorias em obediência as forças destrogênas
HOMICIDA DE ESQUERDA
O Sinistro-homicida será complementar e opositivamente então aquele que se vingará da agressão da comunidade/sociedade contra o indivíduo, sendo então sua ação o oposto da do dextro-homicida. Se este último aje, metaforicamente falando, de forma comprida e fina, ao longo do tempo, com uma vítima por vez, o dextro agirá de forma CURTA E GROSSA.
 Busque novamente no google sobre atentados em massa, incluindo o 11/09 e verá que o leitmotiv será a vingança contra a sociedade, o status quo, ou em casos de escala reduzida um maluco que se vinga da comunidade que o rejeitou, de uma empresa que na cabeça do pertubado seja a culpada pela sua falência socio-economica, ou de um escola que rejeitou um marginalizado. O sinistro-homicida é o bode expiatório vingador, quando o vetor agressivo vem da sociedade para este indivíduo, este ao invez de introjetar esta agressão , indentificar-se com as estruturas sociais e passá-la opressivamente para um mais fraco, volta-se contra toda a coletividade homicida. Geralmente em discusões ideologicas quando ocorre um crime os direitistas afirmam taxativamente que a culpa é quase toda do individuo, opositivamente os esquerdistas explicam que a responsabilidade pelo crime é da sociedade, o criminoso é absorvido como uma vítima da sociedade. Creio por intuição e não por estudo sistemático e atencioso que este quadro do forças é analógico a dinâmica, nas linhas causais, de homicidios praticados por assassinos em massa e assassinos seriais. Por dextro-homicidas que odeiam concentrada e individualmente e por sinistro-homicidas que odeiam expandida e coletivamente. Não tenho as qualificações nem tempo para examinar e estudar este assunto profundamente por isto levanto-o ensaísticamente sem provas para que alguem mais habilitado posso desvendá-lo com um estudo sistemático.
Gostaria de lembrar aqui que esta é uma classificação de motivos passionais, uma simplificação metodica, que não deve estravazar para o campo realmente político ou ideológico. Tomo os conceitos destas áreas e os usos como uma analogia de caráter psicológico apenas.
O Dextro-homicida se identifica com a sociedade agressora e ataca um individuo.
SOCIEDADE > INDIVIDUO
O Sinistro-homicida se identifica com o individo injustiçado pela sociedade e se vinga.
INDIVIDUO > SOCIEDADE
O filósofo Olavo de Carvalho diz que os criminosos em uma sociedade atualizam as tentências negativas que existem no coração do pacato cidadão  comum, uma forma dialética e longínqüa de possibilitar uma margem de manobra para que atenue o poder coercitivo da sociedade como um todo.
"Cada delinqüente, por definição, dá expressão física e manifesta às tendências malignas latentes na alma dos seres humanos em geral, inclusive os melhores deles. Nenhuma vítima de homicídio pode proclamar que o desejo de matar está totalmente ausente no seu coração
A diferença entre ela e o assassino não é de natureza, mas de proporção"

"Até um certo ponto, a inversão retórica é tolerável. Ela serve como um atenuante relativista da confiança que toda sociedade tem na sua própria bondade." (Inversão retorica e realidade invertida)


 Quando estas tendências negativas são atualizadas por um mecânico que estupra e mata meninos  ou por uma gangue alcoolizada que espanca e queima um mendigo ocorreu um dextro-homicídio, quando um demente vai a um cinema munido de uma pistola  e abre fogo em todas as direções sem discriminar ninguém, não está atacando um individuo e sim a sociedade e por isso ocorreu um sinistro-homicídio. Um homem-bomba é um sinistro-homicida. Jeffrey Dahmer que matava homossexuais, ou Jake, o estripador que matava prostitutas é o classico dextro-homicida.
É claro que este assunto está sendo abstraído idealmente e na dinâmica do mundo real às vezes os dois tipos estão fundidos como no caso de Hitler que exterminava "o judeu", "o cigano" ou o "homossexual" como um dextro e ao mesmo tempo como um sinistro-homicida atacava o sistema maior capitaneado pelos Estados Unidos. Ou como no caso de traficantes que queimam ônibus e aterrorizam a sociedade como um todo (sinistramente) ou vendendo drogas individualmente para crianças indefesas nas escolas(destramente).
Podemos dizer também , com respeito a Igreja,  dentro desta analogia, que a Inquisição obedecia a um comando dextro-homicida quando torturava e matava hereges individualmente, e a um comando sinistro-homicida  quando, nas cruzadas, saia para combater o mundo mal mouro.
E você? Odeia as partes ou o todo? Neste sentido em que estou falando, tem tendências sinistras ou destras?
Creio ter intuido algo digno de ser considerado atentamente.
ABSOLUTUM

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Sugestão: Se você se interessou por este ensaio veja este outro texto que faz uma espécie de reflexo invertido simétrico deste post:  HERÓIS DE ESQUERDA X HERÓIS DE DIREITA




Postando no corpo do texto mesmo:
Fernando...

Parece estar havendo problemas no sistema de comentário de seu blog. Tentei postar no PSICOPOLÍTICA o seguinte comentário:

Caro Ferando...
Excelente o texto, que dá início a possibilidades abrangentes de investigação.
Só contesto um único parágrafo, quase ao final, ao falar de Hitler, porque este não atacou um sistema capitaneado pelos EUA. Na verdade Hitler nunca teve intenção de atacá-los, mas sim apenas a Europa, e até o fim tentou uma trégua com as forças norte americanas para poder se concentrar contra os soviéticos. Acho que os nazistas ficam apenas no grupo dos Dextros.
Também não vejo os traficantes como "vendendo" drogas a inocentes. Eles as vendem a quem quiser, e puder, pagar. Além disso, incorporam em vários níveis um discurso de revolta contra a situação social, visto emergirem em geral de classes pobres. Creio que são basicamente Sinistros, tendo, por outro lado, uma "verve" comercial.
Atente para o fato dos dextro-homicidas serem sempre anônimos, e os sinistro sempre públicos, e veja que isso também pode ser relacionado a temas políticos mais abrangentes.
Sabemos claramente quem foram os revolucionários e os militantes de esquerda em geral, mas não quem foram exatamente os agentes da repressão.
E observando fóruns e brigas entre bandos de esquerdistas e direitistas, notem que os últimos lançam mão do anonimato com uma predominância muitíssimo maior.
Ou seja, mais um aponto para a sua análise, por o dextro, por encarnar uma representação da sociedade, se dilúi como indivíduo, agindo apenas como mais um instrumental do sistema. O sinistro, mais uma vez, afirma sua individualidade contra o sistema.
Mais uma vez, parabéns.
Marcus Valerio XR
www.xr.pro.br



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ESQUERDA


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segunda-feira, 7 de junho de 2010

O ESPECTRO MORAL


O ESPECTRO MORAL

“Nunca é demais insistir que há mais diferenças hierárquicas entre os homens do que imagina a nossa vã sociologia.” Olavo de Carvalho

“... Quando os teus pés entrarem na cidade, a criança certamente morrerá. E todo o Israel deveras o lamentará e o enterrará, porque só este de Jeroboão entrará numa sepultura, visto que nele se achou algo de bom para com Jeová, o Deus de Israel, na casa de Jeroboão”. 1Reis 14:12, 13.


                              O Fragmento textual acima está contido no códice sacrossanto dos judeus e cristãos e conta que Deus, Entidade Suprema, onisciente, ao ordenar a morte de toda a “ímpia” dinastia do Rei Jeroboão, por motivos religiosos e políticos, permitiu que somente um dos condenados pela fatwa, tivesse um enterro decente. Deus mandou matar alguns. Destes, só um foi enterrado. O ponto a ser destacado aqui é: Por que ele foi enterrado e os outros não? O texto responde: “nele tinha algo de bom”. Mesmo ele segundo o relato, fosse mal e morresse junto com os outros, havia uma nuança, um grauzinho a menos de maldade que os outros. Deus como se tivesse peneirado e visto isso. Morreu como maldito, mas tinha uma coisinha boa nele. E Deus o recompensou, permitindo que fosse enterrado. Dos malignos e ele era um, ele era o que estava mais perto de Deus relativamente em comparação aos outros condenados. Esta história acima visa demonstra um aspecto da realidade que aparentemente não é percebido pela maioria das pessoas, mesmo as mais religiosas quando se trata de julgar o caráter moral de outros. Quando declaram que alguém é mal, isto quase nunca é relativizado, graduado, nuançado, quando o outro é mal, é mal integralmente, quando é bom, idem. Mas geralmente quando se trata de julgarem a si mesmas moralmente aí é que as pessoas começam a atenuar suas ações e motivações, dizendo-se não tão más como se mostraram. O nome que damos a este procedimento binário inflexível no julgamento ético é MANIQUEISMO, de uma lado o bem absoluto e do outro o mal absoluto irreconciliáveis, não intercomunicáveis. Em lógica damos a este procedimento catalogante moral o nome de uma falácia que se chama exclusão do meio-termo, ou dicotomia falsa. Ou é uma coisa ou outra, ou oito ou oitenta como o povão gosta de falar. É considerado apenas os extremos opostos e ignorado entre eles um continuum de graus intermediários. Esta exclusão do meio-termo, esta dicotomia, geralmente quando se trata do mundo real poucas vezes se mostra correta, mesmo nas coisas que aparentemente são antagônicas, contrárias ou mesmo contraditórias. Ela se manifesta mais no mundo ideal platônico, nas ideias, nos conceitos, quase nunca em coisas ou fenômenos naturais, ou mesmo nos atos psíquicos. Por exemplo, se digo que a luz não se coaduna com as trevas, ou o dia com a noite não vamos nos esquecer que entre estes dois limites de luminosidade existe um meio termo sim! Que são nada mais que a aurora e o arrebol, o entardecer e o amanhecer, que gradualmente transforma uma coisa na outra e vice-versa. Na verdade são nestas horas, nesta penumbra indistinta entre dois limites que temos as mais belas visões do dia, quando o sol se põe ou quando o sol nasce, nos proporcionando deleites poéticos. Então devemos nos lembra que entre o preto e o branco existe o cinza e que até mesmo este cinza é tonalizado pelos graus de preto e branco, o dia amanhece aos poucos e lentamente a escuridão vai regredindo e a luz do dia vai aumentando progressivamente. Já pensou se as transformações diuturnas fossem digitais, binárias? É dia e de repente fica tudo claro de uma vez, como quando nós ascendemos uma lâmpada num quarto escuro? Só numa ficção das mais alucinadas não é mesmo? Claro que até neste fenômeno claro/escuro interrompido pela lâmpada elétrica existe um percurso da luz tomando as trevas paulatinamente, existe todo um trajeto que a luminosidade percorre até atingir nosso sistema visual, mas na pratica não percebemos isto, e a coisa se mostra instantânea. Acontece que é justamente assim que as pessoas julgam moralmente as outras, digitalmente, binariamente. Elas parecem não se dar conta que entre um assaltante de bancos que mata ou intimida, um ladrão de carteiras(punguista) que não põe em risco a vida do outro e um estelionatário que usa de conversa diversionista para me iludir e me fazer dar voluntariamente meu dinheiro a ele, não há graduação moral entre eles. O mesmo valendo para as pessoas que chamamos de boas, as pessoas não percebem que existem graus de bondade. Quem é melhor o Batman ou o Super-homem, o Superman ou o Homem-aranha? No caso da primeira comparação quase todos dirão que o Superman pois ele é mais perfeito, mais santo que o Batman, pois o Superman nunca matou niguém, nunca mente, não usa máscara, não tem um passado obscuro, não é um justiceiro como o Homem-morcego. Ora os dois são bons, são super-heróis, mas indubitavelmente o Kriptoniano tem uma alma mais pura, uma ação mais correta que Batman que nós últimos filmes tem se mostrado preso em dilemas morais terríveis provocado pelo Curinga, que também se mostrou menos mal por ser mais doido devido a traumas angustiantes. Perceberam o ponto que quero atingir? E o Homem-aranha? O aracnídeo seria mais ou menos um meio-termo entre os dois outros super-heróis mencionados. Ele só prende, é um jovem doce, mas teve problemas de identidade, provou um pouco do mal com aquele gosma negra do espaço, usa máscara, é mais obscuro, embora não tenha um visual tão agressivo quanto Batman, até mesmo usa as cores do Superman, vive brigando com seus ex-amigos que se tornam seus super-inimigos, embora não seja de todo culpado. Homem-aranha é um intermediário entre o Batman e o Superman. Este último é de uma perfeição moral de aço. Embora digam que ele seja um símbolo da América, com as cores de sua bandeira, eu particularmente o acho mais um Jesus Cristo, um homem perfeito idealmente. Afinal o Capitão América já é a encarnação do símbolo americano. Saindo dos quadrinhos para a vida real o que quero exemplificar com isto tudo é que existe uma escala moral, uma graduação ou gradação que foi mencionada por Platão, Por Dante, por Maomé, pela Bíblia e outras tradições, que é tão evidente que só mesmo as narrativas fabulosas de Bandidos e mocinhos, de bruxas e princesas poderiam nós condicionar a deixar de lado uma constatação intuitiva do mundo real para darmos lugar a uma idealização estanque de dois compartimentos morais separados. Ora, até mesmo entre o céu e o inferno inventaram um purgatório. Não querendo entrar profundamento nas causas deste maniqueismo moral, podemos comentar superficialmente que a cultura em geral, bem como as religiões, ou uma interpretação errada da religião tem sua parcela de contribuição desta exclusão do meio termo moral, mais açabarcar agora esta causa demandaria muito esforço. Se eu fosse um teólogo eu poderia dizer que como as divindades estavam apercebidas de que o homem não entenderia mesmo, na sua atual condição de evolução espiritual este conceito gradualista, jogou as leis morais grosso modo, nunca classificação abrangente, tosca, para depois ir afinando, sofisticando sua compreensão moral. Mas não sou teólogo, não diria isto. O presente escrito visará demonstrar ensaisticamente que não só existe esta gradação, como existe todo um ESPECTRO MORAL, é até mesmo uma hierarquia moral para o bem ou para o mal. O próprio conceito de grau, já subtende níveis, e níveis, uma hierarquia. Platão disse que entre o quente e o frio existe o morno, esta média, esta mediocridade ética é o que vamos explicitar aqui, procurando preencher o abismo ontológico que separa um santo de um criminoso com as graduações entre eles. Bem, se eu fosse um teólogo eu diria que Cristo vomitaria de sua boca esta mornidão, mas eu não sou teólogo, não diria isto, diria que se ele cospe o morno, o médio, porque não cospe uma dos extremos desagradáveis? Ou o quente ou o frio? Não era disto aqui a que Ele se referia, não vem ao caso aqui. Então resumindo: Entre a dicotomia bem e mal existe um termo médio, como entre o grande e o pequeno existe o médio. Este conceito usado classificatoriamente para julgar moralmente as pessoas nós mostrará que elas são boas, más e intermédias. Para demonstrar que existe uma percepção deste esquema gradualista de níveis morais vamos fazer um apanhado histórico de grandes homens espirituais do passado que o mencionaram de passagem ainda que não se detivessem num aprofundamento deste tema ético. Quem leu a obra de Dante a Divina Comedia percebera que mesmo no Inferno, um local de tormento eterno e aflições hediondas existe toda uma graduação, uma hierarquização em níveis quanto a classificação dos pecadores, o mesmo acontece com o purgatório e o céu. A imagem gráfica que se destaca do inferno de Dante é um cone cuja parte mais fina em direção ao centro do inferno vai se afunilando conforme os pecados vão se agravando. Nos primeiros círculos do inferno de Dante que é onde estão os condenados por incontinência, podemos perceber que tanto o número de almas, quanto a região onde estão e maior que no centro do inferno, no último circulo que tanto é menor quanto tem menos pecadores mais graves, os que pecaram por malicia não por incontinência ou bestialidade...
 

INFERNO
 
                                   Esta imagem de um cone invertido pode ser transposta para a de uma piramide invertida. As hierarquias são geralmente representadas por uma piramide e e o que acontece aqui, apenas que a piramide está de cabeça para baixo, onde que, quanto mais o pecado vai aumentando em grau, vai diminuindo o numero das almas pecadoras...
 

PURGATÓRIO

                                    Que os mundos do além de Alighiere não podem ser entendidos apenas no sentido literal mas também como símbolos ou representação de algo mais, foi dito por ele mesmo: “ O sentido desta obra não e simples; ao contrario ela e polissensa, pois outro e o sentido literal, outro aquele das coisas significadas.”
 

                                    Se observarmos a montanha do purgatório dantesca podemos notar que ela é o oposto simétrico do poço do inferno dantesca, poderíamos até num exercício de imaginação, arrancarmos a montanha e jogarmos dentro do poço. Ela se encaixaria com precisão, como um cone numa cava cônica. Este simbolismo, esta topografia imaginária representa dados matemáticos-geométricos de uma realidade moral que envolve as almas humanas, não num mundo do além, mas no mundo dos vivos. Interpreto que estes dois simbolismos do purgatório e do inferno representam uma tosca, porém realmente verdadeira classificação moral, uma hierarquia moral. Se pegarmos a pirâmide invertida do inferno e juntarmos à pirâmide regular do purgatório teremos um octaedro, ou visto de uma perspectiva chapada, se juntarmos os dois triângulos angariaremos uma losângo, onde numa ponta superior teremos os santos e numa ponta inferior os iníquos, e entre estes uma maioria escalonada nas suas respectivas posições dentro do losango, sendo que a imensa maioria das almas, das pessoas estarão no meio moral, que é a parte de maior área da figura.
 

Juntando inferno e purgatório.

                                 Poderia fazer um gráfico, mas aqui não há recursos, mas espero que o leitor tenha entendido. Quanto ao céu de Dante pode ser descartado pois apresenta perfeição, e por isto é uma ideal, e não representa o mundo real, seria um referência para as almas na ponta inferior e superior e demais almas no octaedro ou losângo ético. Assim como os economistas e sociólogos trabalham com pirâmides sócio-econômicas, com classes sociais, assim como na hierarquia militar existe uma pirâmide que a representa distribuindo os graus de poder de comando, diminuindo em número e aumentando em poder, assim como no reino animal existe uma cadeia alimentar exemplificada por uma pirâmide onde no topo, temos respectivamente no mar, terra e ar, o tubarão, o leão e a águia como menores em número mas poderosos em poder como predadores supremos dos herbívoros imensamente mais numerosos, assim como em todo sistema social que existe por mais simples que seja, a figura da pirâmide hierárquica se destaca, para ... este octaedro hierárquico como medidor de valoração de santidade/impiedade.
 
                           Por que esta hierarquia é diferente das outras, porque esta figura peculiar e não uma pirâmide? Porque é uma medida estatística cuja base em número é igual ao topo em número, como disse Platão no Fédon: “...Se procedesse com juízo, notaria que bem poucos homens são absolutamente bons ou maus, e que inúmeros são os que se encontram entre esses extremos”. E então poderíamos perguntar junto com o interlocutor de Sócrates: Que queres dizer? “-Que se dá aqui o mesmo que se dá a propósito das coisas pequeniníssimas e grandíssimas – respondeu Sócrates -Achas que pode haver coisa mais rara do que um homem enormemente grande ou extraordinariamente pequeno? E isso vale também para o cão, como para qualquer outra coisa. E não te parece também que é muito difícil encontrar-se um ser rapidíssimo e uma vagarosíssimo, assim como um belíssimo e um feiíssimo, ou um alvo e outro muito negro? Acaso não notastes por ti mesmo como são raros em todas essas coisas os pontos extremos, ao passo que os termos médios são muito mais numerosos? - De fato. -De modo que se fosse feito um concurso de maldade, não te parece também que apenas uns poucos seriam premiados ?” Na hierarquia social muitos são milionários, a maioria é pobre, embora se fosse levar esta hierarquia as últimas consequências os muito miseráveis não são mais do que os muito pobres. Na hierarquia moral muitos são pios, a maioria é mediana e outra minoria extrema é ímpia, dando assim a forma do LOSANGO ÉTICO.
 
                          Michel de Montaigne, um filósofo que me é mais acessível, afirmou no seu ensaio Da embriaguez que: “...não levar em consideração a escala de gravidade dos pecados, confundindo-os, é por certo perigoso, pois disso tirarão vantagem os assassinos, os traidores e os tiranos. Não é justo que sua consciência se alivie com a ideia de que fulano é preguiçoso, lascivo ou pouco assíduo a missa. Todos tem tendência para agravar o pecado de outrem e atenuar o próprio. E não raro até as próprias pessoas encarregadas de os esclarecer os classifica mal, a meu ver.” Isto é o que acontece quando se deixa de lado o meio-termo moral, um dos extremos, os ímpios, colocarão todos os pecadorezinhos menores do seu lado, aliviarão sua consciência de crimes enormes justificando-se por causa de pequeniníssimas transgressões disciplinares dos outros. No entender de Montaigne nós classificamos mal as pessoas moralmente. Isto se deve, moralmente, a dicotomia falsa, exclusão do meio-termo ou maniqueismo. Que uma relativização moral é usada para classificar as almas humanas está implícita em grandes tradições religiosas, por exemplo, no Islam, onde Mohamed no Corão diz que: “Há distintos graus (de graça e de condenação), aos olhos de Deus, porque Deus, bem vê tudo quanto fazem”.
 
                      Resta sabermos porque esta visão não se difundiu tanto quanto deveria.

 
                     
  Voltando a Dante, que a ambientação do além não poderia ser considerada como literal, e que a posição das almas nos vários círculos topográficos era na verdade uma classificação hierárquica é explicitado no final do livro, na terceira parte, sob o subtítulo de Céu. É dito a ele por sua amada Beatriz que: “...as almas que viste nesta esfera a ela não estão circunscritas; mas o estarem aqui indica A GRADAÇÃO DE SUA BEATITUDE. Este é o modo de fazer com que teu entendimento penetre tais coisas, pois o ser humano aceita pelos sentidos antes de fazê-lo pelo espirito.” Mais claro impossível: todo o inferno, purgatório e paraíso são representações imagéticas para que Dante possa compreender pelos sentidos o que seria dificílimo compreender apenas pela razão. Um estuprador e um santo podem estar num mesmo local geográfico aqui na terra, mas espiritualmente estarão em esferas morais distintas.


Céu e inferno são metáforas de níveis morais.
 
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Continuará, um dia...
 
ABSOLUTUM