quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ENSAIO 05/2010

MINHAS ADORÁVEIS QUIMERONALTAS


Quando eu era mais jovem li o livro O MUNDO DE SOFIA  de  Jostein Gaarder, que conta a história de uma menina de 14 anos que recebe lições de filosofia de um personagem misterioso que vai aos poucos contando romanceadamente a história da Filosofia. Não me esqueço da analogia do professor sobre o brinquedo LEGO com suas peças de montar em comparação com o mundo atomístico de Demócrito e o final surpreendente da história em metalinguagem. Recomendo aos moços e aos iniciantes no "mundo de Sofia". Esta menina aprendiz me faz recordar de muitas outras da literatura universal, é a imagem arquétipa de uma jovem aprediz exploradora de mundos estranhos em símbolo da FILOSOFIA. Seria mesmo muito esquisito se o protagonista fosse um menino; (geralmente quando o personagem protagonista é um menino, ele vem do além para nossa mundo), estas meninas estão revelando uma estrutura subjacente, uma esteriotipia (no sentido de impressão inconsciente) que mesmo na Bíblia permanece quando no livro de Provérbios a Sabedoria é personificada por uma pessoa do sexo feminino. Este ensaio, como o nome diz é um ensaio, uma percepção materializada em discurso provisório, um intuição amorfa que passa quilomêtros acima de um esquematismo lógico-argumentativo, ou de um explicitação discursiva irrefutável, mas acho que estas menininhas da literatura que vão da Terra para um mundo fantástico, um mundo do além, um reino de mistério e encanto, representam a FILOSOFIA, o amor pela Sabedoria, que se encarna na figura frágil, doce e em formação de uma jovem. Sendo a Filosofia uma atividade sempre em aperfeiçoamento, em estado de geração, de rascunho que vai na direção da madurez, nada melhor mesmo para representá-la do que uma noviça.  E é o filósofo autoproclamado que faz a comparação de uma moçoila com a Filosofia:
"Quando decidi devotar minha vida ao serviço desta DAMA, formosa entre todas, que os antigos denominaram Afeição à Sabedoria, e que não é no fundo senão a figura jovem e incompleta daquela que no seu esplendor maduro será a Sabedoria mesma; nesse instante, digo, tomei consciência de que deveria, por muitos e longos anos, refrear e sacrificar meu fortíssimo impetus scribendi em favor de impetus cognoscendi..."(Da contemplação amorosa)

Vejamos então algumas de  nossas quimeronaltas:

A primeira de nossas quimeronaltas convocada é a pequena  Alice,  que seguindo um coelho branco penetra em um "País das Maravilhas" passando por peripécias fantásticas, num mundo aparentemente ilógico, com personagens e situações paradoxais, colocando a pequenina às vezes em um estado desesperador como na ocasião em que a biruta da  Rainha de Copas ameaçou cortar-lhe a cabeça. O contraditório, o confronto de opostos, a transgressão das leis físicas, da proporcionalidade,  da continuidade, das magnitudes são nesse mundo uma constante de um mundo sem constantes. Do enquadramento certinho de nosso mundo Alice Linddell é jogada em um mundo totalmente anômico. Ela é a exploradora enviada do mundo imanente para o transcendente.

A segunda de nossas quimeronaltas, é mais modesta e não precisaríamos nem mencioná-la pois realiza apenas uma pequena incursão por uma floresta em direção a casa de sua avó, numa viagem iniciática pelos perigos lupínicos no matagal e demonstra toda sua curiosidade filosófica ao inquirir sistematicamente sua pseudo-avó sobre as alterações em sua aparência que a estavam fazendo ver, ouvir e cheirar mais. Por que na história tinha que ser uma menina? Para sublinhar a fragilidade?

A terceira de nossa quimeronaltas é Dorothy do Texas, que é abduzida, juntamente com seu cãozinho Totó ao mundo do MÁGICO DE ÓZ,  um país fantástico com festa estranha com gente esquisita.

Do Texas para o Brasil o arquétipo se impõe também nos personagens de Monteiro Lobato: Narizinho com suas reinações e Boneca Emilia, muito curiosas e dadas a descobrir coisas.

Ainda no Brasil saindo do papel e indo para a telinha tivemos a minissérie que apresentou nossa quinta quimeronalta e (ex-emília) Maria, no Hoje é dia de Maria, esquisito para caramba, mais até do que todos os outros enredos e personagens mencionados supra. Por que não hoje é dia de João ou José? Por causa da pressão inconsciente do arquetipismo presionando o cêrebro do autor condicionando o personagem desbravador na figura de um pessoa feminina e jovem.


 Embora nossa sexta quimeronalta não vá sozinha, mas vá com seus irmãos masculinos, Lucia Pevensie é a protagonista principal nos livros(eu acho) e filme As Crônicas de Nárnia e a primeira a entrar no portal/guarda-roupa, e a tentar convencer seus irmãos do mundo mitológico escondido que de cristão não tinha nada. Não li nem vou perder meu tempo lendo os livros.


Em repetição insistente como tema cansativamente recorrente nossa sétima quimeronalta é uma menina denominada Ofélia que encontra um ser quimérico em um labirinto... e o resto você pode imaginar (O LABIRINTO DO FAUNO)

É interresante que as vezes no desenrolar das narrativas descobrimos a origem nobre das mocinhas e que ocacionalmentre sua origem é do além também. Uma princesa desaparecida...



Parece-me que nossos esforços em busca de conhecer o que é desconhecido assume a configuração simbólica de uma jovem mulher, que vai do aquém para o além, existem exceções como seria de se esperar como a Mulher Maravilha que vem de seu reino amazônico ou com todo o respeito, de Nossa Senhora, que manda as mensagens do reino transcendente para  nós mortais. Mas são exceções.



Geralmente quem vem do desconhecido é um menino como Peter Pan, O Pequeno Príncipe, Kal-El e novamente, com todo o respeito, Jesus Cristo ("por que um menino nos nasceu, um filho se nos deu" -Escrituras)




Parece até que a Revelação, os Avatares, as formas de comunicação do além para cá, geralmente devam ser simbolizadas pelo masculino e daqui para o além pelo feminino.



Na Bíblia a Sabedoria declara:

"Eu amo os que me amam, e os que de madrugada me buscam me acharão."
ABSOLUTUM

Post Script: Hoje 5 de julho de 2011, me lembrei de mais uma recorrência de uma menininha explorando o além, e como imagens falam mais que mil palavras...


E mais essa (em 13/09/2011) de minha mais tenríssima infância, a PIMPA  do livro SOZINHA NO MUNDO (um dos primeiros livros que lí integralmente)

***

 
(Em 28 de setembro de 2011)

Há sim lembrei-me de uma exceção a esta tese, é de uma garotinha assustadora que vêm do mundo do além, inclusive sai de dentro da televisão, um complemento dialético de Carol Anne  a menininha do Poltergaister. É a Samara Morgam.
É um dado que não se encaixa na minha teoria, se bem, que ele, o tema de Horror da Samara, é de Origem oriental. Diferente do pensamento e arquétipos do Hemisfério Oeste. Lá luto é branco, aqui é preto...
De qualquer forma, fica registrado o dado incoerente com a tese das quimeronaltas, numericamente pequeno é certo...


sexta-feira, 5 de novembro de 2010

ENSAIO 04/2010

LIMBO


Se existe alguém que é infinitamente livre este alguém é Deus. Deus não se contrai à nenhuma gênero, nenhuma espécie, é o indizível, o indefinido, o incatalogável e o ininquadrável. Nada o pode restringir, constranger ou limitar. Sendo assim ele e só ele existe na plena acepção da palavra. Ele é o SER. "Eu sou o que sou". O Absoluto quer dizer solto de tudo. As demais coisas só existem na medida em que tem participação com a realidade absoluta. Cortando-se a comunhão com Deus os outros seres entram imediatamente num processo de nadificação.  A tudo o que foi criado, dos seres sencientes aos seres inanimados podemos aplicar o conceito de LIMITADOS. Todos os entes que foram criados são contingentes. Devem sua existência à causa primeira, que não foi causada,  o motor que não é movido. Anjos, humanos e animais foram criados por Deus e por isto são escravos de parâmetros, de rotinas, subrotinas e ciclos matemáticos, lógicos, naturais etc. Quando Deus criou o mundo fê-lo dentro de padrões lógico-geométricos e de "leis" físico-químicas que impõe uma escravidão, um cerceamento sobre suas criaturas. Não posso respirar dentro d´água a não ser que crie um mini-sistema atmosférico, uma sub-rotina com um cilindro de gás respirável. Um mecanismo que reproduza as condições do ambiente que respiro naturalmente, desta vez colocando um simulacro de atmosfera  dentro de uma ambiência aquática num reduzido modelo  aeróbico.  Não posso voar a menos que "burle" as leis da gravidade por meio de equipamentos e dispositivos que levantem meu corpo do solo a que estou condenado a viver.  Todos os seres vivos vivem subordinados a rotinas e ciclos. Não podem quebrar estas rotinas e ciclos podem inventar (no caso dos inteligentes) dispositivos baseados nestas mesmas rotinas e ciclos que os permitam driblar as leis férreas a que estão submetidos. Vivemos dentro de um enquadramento, um conjunto cibérnetico que geralmente tem subconjuntos. Os entes autoconscientes também são limitados por leis que controlam a subjectividade, constrição esta muitas vezes advinda do suporte biológico destes seres. Ódio, medo, angústia, estresse e depressão existem na subjetividade por causa da herança animal. São programas ou vírus (apêndices atávicos) que assolam a inteligência e a vontade dos sujeitos. 
Quem quer que viva muitos anos a observar determinada faceta ou aspectos dos objetos, ou algum fenômeno por muito tempo chegará a apreender padrões recorrentes na natureza. Na verdade é da catalogação destes conhecimentos de padrões em sistemas que nascem as ciências. Existem coisas que sou obrigado a fazer. Tenho que beber água se não morrerei por desidratação. Meu corpo é um sistema que não pode viver sem água e o ciclo hídrico do meu corpo se repete décadas a fio para que eu possa continuar existindo como unidade biológica. Minha parte anímica, minha alma ou psiquismo obedece a parâmetros desta vez de ordem  psicológicas e lógica. 
O leitor se lembra de um programa de proteção de tela de computador que era um labirinto tridimencional? O programa mostrava a imagem de vários corredores interligados em compartimentos sem saída para o exterior subdividido por paredes de tijolos. O programa rodava e rodava de novo dentro de ciclos e rotinas. Se você observa-se por muito tempo, pelo acumulo de repetições, começaria a entender padrões e a  lógica interna do "jogo".  Aquilo é uma prisão atordoante, desesperadora se alguém tivesse que passar muito tempo dentro daquilo em 3D.
Estou persuadido de que todas as coisas criadas estão presas dentro de ciclos e rotinas de várias naturezas, e sendo assim todas as coisas relativas, incluindo quem escreve e quem está lendo este texto são escravos. A boa notícia é que podemos escapar desta prisão imanente mas somente através da obediência a esta imanência, compreensão, absorção  da mesma, só assim atingiremos a transimanência ou a  transcendência. Como disse o Cristo: "conhecereis a verdade, e a verdade vós libertará" , creio que isto se dá não apenas em sentido espiritual e moral, mas em todos os outros sentidos.
 O oposto , a desobediência e o desconhecimento dos ciclos e rotinas, do Karma, levará à mais restrições, a um estreitamento ontológico no nosso ser, no nosso tempo de vida e do  nosso espaço. Veja o exemplo dos criminosos que em violação as leis jurídicos-sociais  são jogados num limbo espacial restrito, os presídios e cadeias.
A violação das leis sociais acarreta punição em forma de restrição espacial. Se dentro da cadeia o infrator violar as regras internas do micro-sistema prisional ele será mais restringido ainda e irá para um cubículo chamado solitária. Uma prisão ao quadrado, uma restrição dentro de outra restrição. Você consegue imaginar outro estágio de restrição?
O mundo é limitado e contingente e por isso é uma espécie de "limbozão" para as criaturas que vivem dentro dele submetidos aos seus ciclos e rotinas. Na verdades, as criaturas como partes constitutivas do mundo apresentam em si mesmas na sua ontogenia e ontologia restrições e limites, ciclos e rotinas que se não forem obedecidas e conhecidas acarretaram redução ontológica.  Foi este o caso dos anjos que se transmutaram em demônios. Condenados ao abismo. A salvação cristã, o Nirvana, o paraíso mulçumano, o valhala, o céu e etc. São o escape transcendente da imanência do mundo, uma expansão ontológica. Já o inferno é uma redução do ente, uma constrição redutivista, um prisão no limbo de ciclos e rotinas cada vez mais apertados. Vivemos presos a estes limbos em sentido mental-cognitivo, como também ao afetivo sendo que a única parte de nosso ser que não está presa a nenhum limbo cíclico é  nossa VONTADE, a imagem  de Deus no homem. A parte verdadeiramente livre. O livre-arbítrio colocado no homem por Deus.
A   VONTADE é LIVRE, a cognição e os sentimentos não. Estes últimos obedecem a regras, estruturas intrínsecas, ciclos e rotinas. Você pode usar sua vontade livre para danar sua alma, numa redução ontológica, ou obedecer a Deus e crescer ontologicamente tendo cada vez mais liberdade.  Se aproximando do Divino, do Absoluto, compartilhando cada vez mais sua natureza livre, galgando degraus numa ascensão existencial.
PRISÃO LÍMBICA
Uma fila de um banco, de um hospital do SUS, é como uma prisão, uma fila é uma estrutura espacial restritiva coordenado indivíduos numa trajétoria  cronotópica para atender as necessidades dos  cidadãos. Você é obrigado a ficar estacionado, as vezes em pé por algum tempo. Ninguém gosta disto, uma fila é um limbo. Você fica preso ao deslocamento sequencial das pessoas. Sem poder ter acesso a outros estímulos a não ser uma prosa sobre banalidades.  Excetuando-se os castigos corporais, TODA PUNIÇÃO É RESTRIÇÃO, DIMINUIÇÃO. Da sua riqueza, no caso de multas, da sua capacidade de locomoção, ou direito de ir e vir no caso de penas de prisão. Uma cela é um limbo por redução de espaço e estímulos de possibilidades de ação e paixão.
Vou exemplificar alguns limbos desde muito fechados até mais abertos:
Nós vídeo-games temos exemplos de ações restritas por regras (Esta é minha definição pessoal de jogos - manobras dentro de regras) muito simples, lembre-se do mundo do PAC-MAN, com rotinas apertadas.
Existe um desenho animado  que é um limbo padrão, onde os dois únicos personagens obedecem ciclos e rotinas férreas e recorrentes, O desenho do Papa-léguas.
 Nesta animação da Warner Brothers o  Coiote vive única e exclusivamente para pegar o pássaro e este para fugir. O tema é o mesmo com infinitas variações. Se você nunca percebeu que aquilo é um inferno semelhante ao castigo de Tântalo ou de muitos outros no inferno de Dante vai começar a notar agora. 
Preso a premissas de aço o Coyote passa seu tempo em um presente eterno (o limbo não só é um prisão espacial como temporal)  numa girândola sem fim inventando mil artimanhas e estratégias para pegar o papa-léguas e no final, não conseguindo ainda se ferra de verde e amarelo (ou de estrelas e listras) e depois começa tudo de novo, tendo por único cenário o quênio percorrido pelas estradas asfaltadas de algum lugar indefinido nos EUA.
 É igual a maioria dos seriados de televisão que possuem premissas recorrentes. Como no seriado antigo do Batman que era aprisionado em um armadilha pelo supervilão e sempre escapava para no final cair numa nova armadilha para escapar no episódio seguinte. Como também nos programas humorísticos com seus bordões repetitivos. No caso do Papa-léguas imagino o que aconteceria se uma coiote fêmea aparecesse no sistema como um trojan, dentro da história. Quebraria as rotinas da narrativa.
 O Desenho da Caverna do Dragão também era um limbo com ciclos e rotinas permanentes, inclusive aventou-se a hipótese de os meninos estarem mesmo no inferno.  Embora seja um limbo o mundo da Caverna do Dragão varia em locações, em personagens, em eventos, sendo mais aberto, com mais diversidade. Vários níveis acima de Papa-léguas. Poderia sistematizar os desenhos animados e classificar em níveis ou estágios límbicos, mas deixo para o leitor. Tentei fazer apenas este gráfico:
 A biota cibernética, o sistema ecológico terrestre, é um limbo preso em ciclos e rotinas e nosso corpo está preso a este sistema. Nossa mente (alma) quando erámos bebês saiu de um limbo de insconciência e se ampliou desmesuradamente. As agressões do mundo externo objetivo, gerou em nossa psique mecanismos de defesa freudianos que podem crescer  englobando toda a psique e aprisionar nossa mente em ciclos e rotinas neuróticas e psicóticas. Os mecanismos de defesa podem implodir nossa psique. Podem nos cercar e constranger nos aprisionando num limbo psicológico, nos fazendo regredir  a estágios anteriores no desenvolvimento mental.
O caráter e a personalidade são prisões imanentes para as pessoas, elas estão presas a si mesmas a sua identidade, ao seu estilo, advindos pela repetição de atos ao longo de anos.
Somente conhecendo a  nós mesmos, podemos transcender-nos, somos presos pelos  nossos hábitos, sentimentos e pensamentos, a partir do momento em que saimos de nós mesmos e contemplamos estes ciclos e rotinas, escapamos da prisão imanente, transcendemos o LIMBO criatural da fatalidade intrinseca da vida.
Uma obcessão é análogo no mental a um local límbico, a pessoa fica presa num curto-círcuito cognitivo. (eu tinha uma denominação própria para isto, CIRENGRAMA, ou engrama circular.) Uma pessoa que sofreu uma grande injustiça e ficasse obcecada com a vingança, congela no tempo, vive aquele momento de vitimização como se fosse um momento eterno congelado, um episódio atomistíco irrelacionado como os autistas, que  vivem num limbo relacional. O eu solipsista cartesiano pode ser uma prisão límbica, num presente perpétuo. A palavra limbo vem do latim limbus, que quer dizer fronteira, borda. Se colocarmos o SER no centro de tudo, aqueles seres que estiverem mais distantes do ser e  próximos ao não-ser, estarão nesta borda límbica. A própria autoconsciência é já uma transcendência do sujeito, o conhecer o próprio ato de conhecer é já uma ampliação de essência. É quebrar a rotina...




ABSOLUTUM

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

ENSAIO 03/2010

A SALVAÇÃO PELOS PEQUENOS EM STAR WARS

Fui um grande fã de Guerra nas Estrelas ou no inglês Star Wars. Não sou bom de inglês mas acho que Guerras Estelares também seria um bom título. De todos os filmes de ficção científica este foi meu favorito. Depois vim saber que esta película tinha por trás referências mitológicas e era  em si uma nova mitologia moderna.
Depois de muito tempo (décadas) vim saber também que o verdadeiro protagonista do filme, não era Luke ou Léia, mas sim o pai deles, Vader. Vim a saber na conclusão do filme, depois dos três episódios últimos, mas primeiros na ordem cronológica interna do filme, que a queda e regeneração moral de Anakin Skywalker  era o fio lógico que percorria toda a trama. Vim a saber também que assim como o filme Duna de Frank Herbert tinha como um de seus elementos fortes referências a cultura e religião árabe/islâmica, Star Wars fazia alusões aderentes a cultura  indiana, como a cremação dos cadáveres, e a religião Hindu/budista. (Onde então está a ficção científica em  homenagem ou simplesmente com elementos alusivos ao judaísmo, ou cristianismo, ou então a cultura judaico-cristã? Quem preencherá esta lacuna? C. S. Lewis esta mais para Ficção Fantástica. Veja aqui a diferença em FILOSOFIA DA FICÇÃO CIENTÍFICA).
 Por falar em religião  descobri também que este componente místico era o tempero que dava aquele “sabor” romântico que faltava a séria Jornada nas Estrelas, ou Star Trek, este muito cerebral, muito científico (na definição de Olavo de Carvalho – CIÊNCIA = “conhecimento experimental materialista” ), sem nada de metafísico ou espiritual como Jedis, a Força, “aquele que trará equilíbrio à Força” em Star Wars, ou Tempero/Especiaria/Condimento, “o adormecido deve despertar” em Duna. Esta assepsia de algum componente esotérico em Jornada, me fazia colocá-lo em segundo lugar na hierarquia de importância. Sem mística, sem componentes intuitivos/misteriosos um filme ou até mesmo a própria vida se torna tão delicioso como mastigar um pedaço de isopor com a forma de um queijo.
 Bem, tendo assistido incontáveis vezes os episódios de Star Wars, lido muito a respeito, inclusive um livro chamado a Ciência de Star Wars de Jeanne Cavelos, nunca vi ninguém falar de outro fio condutor, ou outra trama paralela que faz parte deste filme. Na verdade não é uma trama paralela propriamente dita, mas uma estratégia, uma válvula de escape, ou até mesmo uma lição de moral, que podem incluir esta franquia em uma fábula. Notei que este elemento adicional do filme acontece não somente nos antigos episódios, como nos últimos I, II e III, destacando a identidade estrutural dos novos com os velhos episódios. Dando a idéia de que todos os seis episódios são mesmo do mesmo filme. Parece até que com esta estratégia George Lucas quer nos transmitir uma mensagem. Mas observando melhor, este mecanismo ocorre em uma miríade de filmes além da ficção cientifica e talvez seja um instrumento cinematográfico de surpresa, de suspense.
Bem, sem mais delongas, o assunto de que trato aqui é o fato de nos filmes estelares de George Lucas, quando se instala o conflito entre antagonistas e protagonistas, e a situação começa a ameaçar seriamente a  Aliança Rebelde e as vezes vemos que a situação se torna terminal para Luke, Han, Leia e tutti quanti,eles repentina e surpreendentemente são salvos pelas criaturas menos importantes, pelos personagens coadjuvantes, pelos pequeninos. Vemos isto em todos os episódios, os velhos e os novos. Se isto foi consciente ou inconscientemente  eu não sei, mas está lá. Quando o poderoso Império Galáctico está prestes a destruir a Aliança, o escape é proporcionado por um personagem insignificante na narrativa.
O campeão de salvamento das situações é o pequeno faz-tudo, canivete-suíço, R2D2.
Em todos os episódios sua ação benigna em um detalhe, que se expande em ondas concêntricas e beneficia todo a Galáxia é simplesmente impressionante. Os republicanos deveriam colocar imensas estátuas do droidezinho por toda a Galáxia. E deveria ser homenageado  como o maior herói de Star Wars. Este robozinho, que se comunica por estalos e apitos, logo no episódio A Ameaça Fantasma, Star Wars I, entra em cena pela primeira vez já salvando a nave da Rainha Amidala, que por ter os escudos defletores danificados, estava prestes a ser destruída pela Federação do Comércio. A pequena lata mecânica é elogiada pelo Capitão Panaka(?) e a Rainha.
Esquecendo um pouco nosso heróizinho e lembrando dos micro-agentes salvadores  percebemos que quando os Jedis  Qui-gon e seu aprediz Obi-Wan descem a superfície da planeta Naboo são salvos da ameaça das máquinas da Federação pela ajuda semi-voluntária de Jar Jar Binks que os guia até a civilização subaquática dos Gungans, fazendo um link dos gungans com o restante da trama. Notamos também que mais a frente, após pousarem com a nave danificada em Tatoine só conseguem as peças para concertarem a nave e continuarem com sua missão após a entrada em cena de Anakin Skywalker que vence a corrida de pots, ganha as peças e a liberdade.

Um menino é a via de salvação para os poderosos Jedis. Quando os ridículos dróids do Vice-rei invadem o planeta Naboo, a ajuda para a Rainha e os Jedis vem dos “inferiores” Gungans. Mas sua ajuda é só um paliativo, quem salva tudo mesmo é o pequenino Anakin, que de dentro de uma nave destrói a estação espacial que controlava os dróides incapacitando todo o exército e dando a vitória para os Naboos em um único lance. Anakin vai no ponto-chave, sem essa ação no detalhe, o todo estaria comprometido. No episódio I, os maiores heróis, cujo pequeno ato na parte que se expande para o conjunto e salva toda a trama são R2 e Anakin Skywalker. Todas as demais batalhas, mesmo a magnifica luta de Qui-gon e Obi-wan contra o Sith com sabre de luz duplo, ganhando-se ou perdendo-se, falando em termos estratégicos, não teriam maiores consequências para a guerra.
No episódio II, quando a senadora Amidala está prestes a ser picada por vermes monstruosos é o pequeno R2 o primeiro a dar o alarme e tentar salvar a mesma eletrocutando alguns vermes. O dardo que o caçador de recompensas, Jango Fett usa para matar o transmorfo assassino, é a peça, o detalhe ínfimo sem o qual Obi-wan nunca teria descoberto o exército de Clones e assim no final ter podido salvar os Jedis acuados na arena de sacrifícios pelos pelotões do Conde Dukan. Sem a ajuda do cidadão comum, a criatura de quatro braços, dono da lanchonete, que era amiga de Obi-wan, isto não poderia ter acontecido. Alguém de fora de todo o conflito, com uma simples informação, dá o empurrãozinho que num crescendo proporciona toda uma nova dinâmica que no fim reverte em vitória para os mocinhos. E fiel a fábula George-luquiana é um pequeno padawan quem responde a pergunta essencial para a localização do planeta aquático onde os clones estão sendo produzidos (reproduzidos). Não sei se a cena foi feita com este propósito consciente, mas demonstra mais um vez o mote de que : A SALVAÇÃO VEM PELOS PEQUENINOS.
No episódio III, a Vingança do Sith, o elo de ligação dos episódios velhos e novos, vemos o mesmo tema se repetindo, desta vez numa situação similar ao episódio VI, O Retorno de Jedi. Mas antes um pouco de Starwarslogia. Os dois últimos episódios das duas fases, o III e o VI, apresentam algumas semelhanças. Na verdade inicialmente o Retorno de Jedi, seria A Vingança de Jedi, mas devido a polêmica da questão ética de um Jedi se vingar, o nome foi mudado. Os dois episódios são os mais sombrios, mais tenebrosos, densos emocionalmente. E expõem novamente R2 salvando a cena. Quando Anakin (proto-Vader) esta detido pelos guardas de Dukan, na nave em que Palpatine era supostamente refém, é R2 que ejetando de si o Sabre de luz para ser apanhado no ar por Anakin, salva a situação, numa cena semelhante a quando no  episódio VI, Luke e Han no poço do Sarlacc sob custódia de Jabba the Hut, prontos a serem devorados, são salvos pela ejeção inesperado do sabre de Luke, que a partir deste toque inicial, inverte toda a trama e destrói Jabba, o horrendo.
Em Uma Nova Esperança, episódio IV, quando nós, os mais velhos, vimos R2D2 pela primeira vez na vida, é ele o responsável, involuntariamente, é verdade, de guardar a mensagem que será o vínculo tênue entre Obi-wan e Luke com a Aliança Rebelde. A princesa Léia prisioneira de seu próprio pai (ele estava pertinho dela, não sentiu nada?) tinha colocado uma mensagem para Kenobi juntamente com os planos para a primeira Estrela da Morte no robô. R2 já entra no filme como um peão, mas com valor de um rei, que possibilita a dinâmica de todo o restante do enredo. Após a Mileniun Falcon se capturada pelo raio trator da estação da morte, é R2 que plugado ao sistema da Estrela da Morte descobre que a princesa é prisioneira ali e qual a sua localização onde estava aguardando execução. Quando na tentativa de salvar a princesa, Luke e Han estão presos dentro do compactador de lixo da Estação espacial  quem é o responsável pelo salvamento dos Heróis?  Sem a ajuda providencial do robozinho, o Jedi e o contrabandista teriam sido esmagados. A princesa não teria sido salva, os planos da Estrela da Morte não teriam ido parar nas mãos dos Rebeldes e a Estação espacial teria destruído o planeta base da Aliança. É ou não é o maior herói de Guerra nas Estrelas?
Em O império Contra-Ataca, episódio V, nosso herói tira uma licença de suas atividades. Licença entre “aspas” pois ele está ali sempre presente na trama. Mas não consigo me lembrar de nenhuma micro-ação sua que trará consequências gerais.  Escrevo de memória e no momento não tenho acesso a este episódio para assisti-lo com atenção. Mas me lembro que ele acompanha Luke até o planeta Dagobah como Astrodróide de navegação. E lá, é ele que informa Luke sobre a presença de Yoda. No começo do filme quando Luke está lá fora da base na tempestade gelada do “antártico” planeta Hoth, R2 fica de prontidão com seus sensores procurando traços de vida. Nada de consequências portentosas para a narrativa é claro. É ele também que com aquela sua ferramenta de plug, abre algumas portas, no meio do fogo cruzado dentro da cidade nas nuvens de Bespin.
Finalmente em O Retorno de Jedi, além da cena da ejeção do sabre para Luke, ele salva toda a Aliança Rebelde e a República quando abre a porta  da estação geradora do escudo direcionado  à Death Star, para a fração de tropa na lua de Endor. Os rebeldes desligam o gerador, que vulnerabiliza a estação que é atingida no coração por Lando Calrisian  pilotando a Falcon. Uma açãozinha que provoca uma reação em cadeia num crescendo afetando o macro.
Mas há neste episódio uma interferência benfazeja para a aliança por parte de criaturinhas outras também. Sem a ajuda dos Weoks, a fração de tropa rebelde não conseguiria escapar da rendição e desligar o gerador. O futuro da Galáxia ficou por algum  tempo nas mãos dos pequeninos.
Uma criaturinha que nem vida tem, que não é nem mesmo um antróide, sem nada de humanóide, na forma ou na linguagem, sem braços nem pernas para poder agir. Que foi cuspida pelo monstro de Dagobah, gosto ruim sem dúvida,  se mostra assim um símbolo de uma palava esquecida: lealdade. C3PO nada faz o filme inteiro a não ser reclamar, e em alguns casos traduzir. O que é uma repetição de um sinal em outro código, algo passivo. Nada agente ou própio de um sujeito.  Dizem que ele exerce na trama a função de bobo, mais R2 para aliviar as tensões da trama. Não acho R2 tão cômico assim. Bravo R2!

Todas estas cenas me fazem lembrar daquele adágio de que por causa de um prego, perdeu-se uma ferradura..... que perdeu-se uma guerra. E da influência do micro no macro. Me recorda aquela teoria de que se o nariz de Cleópatra fosse um pouquinho diferente, a história seria outra. Me faz rememorar o tiro dado em 1914 no Arquiduque Ferdinando, por um anarquista que desencadeou a grande guerra, depois conhecida por I Guerra Mundial. Me lembra também do argumento de um soldado no filme O Resgate do Soldado Ryan, onde ele diz que por ser um bom atirador, um sniper, bastaria uma oportunidade para ele colocar Hitler na sua linha de visada e todo aquele esforço extênuo de guerra seria desnecessário. E também daquela história da borboleta que produziu um furacão. Me lembra também do beijo de Judas Iscariotes que gerou numa reação em cadeia tudo o que nós bem sabemos. Me recorda do guru neurolinguista Lair Ribeiro que dizia que Deus está no detalhe, a diferença está no detalhe. Um pequeno reajuste ínfimo pode modificar toda uma trajetória. Me lembra também que após contemplar meu filho caçula por alguns meses, resolvi para de beber definitivamente, por querer lha dar um bom exemplo. É a força de um pequenino. Seja um pesamento, uma intuição, um gesto, um pequeno comentário. Para o bem ou para o mal. Não sei se este é um recurso técnico-cinematográfico ou se George Lucas quis passar algo mesmo.
Terminando, as Escrituras afirmam : “Não desprezeis o dia das coisa pequenas” (Zacarias 4:10)

-Providencie um polimento e um banho de óleo ao dróide!

ABSOLUTUM
Post Script:
Isso tudo que escrevi acima me lembrou de uma coisa no I Ching
deste hexagrama:

"O PODER DE DOMAR DO PEQUENO"

 O hexagrama apresenta o poder do pequeno, retendo e freando. Uma linha fraca ocupa a quarta posição, limitando assim todas as demais linhas fortes. Como imagem natural, representa o vendo, agindo com seu sopro para reter as nuvens, porém não tendo força suficiente para transformá-las em chuva. A configuração momentânea do forte sendo temporariamente contido pelo mais fraco é a tônica do hexagrama. (VEJA AQUI)
ABSOLUTUM  em 04 de Agosto de 2011.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ENSAIO 02/2010

A BASE "IMBECIL-COLETIVA" DA PIRÂMIDE.

Na mitologia grega o deus Vulcano rejeitado pelos seus divinos pais, foi recolhido pela bela Tetis, filha do Oceano. Durante um período viveu numa gruta profunda , ocupado em fabricar brincos, broches, colares, anéis e braceletes.  Este deus disforme e feio é também conhecido por ser entre o panteão, o mais laborioso e também o mais industrioso, por fabricar mimos para as deusas e outras armas para os deuses. Parece-me que este arquétipo de uma entidade trabalhadora (sua estátua tem um martelo de forja na mão), habitante de um mundo subterrâneo ou escondido, um ser feio e atarrancado permanece presente na cultura pelos reflexos de modelos que apresentam as mesmas caracterísitas com algumas variações. Uma tênue imagem atávica...
No conto a Branca de Neve vemos criaturas nanicas, que trabalham em minas subterrâneas, muito parecidas entre si, os famosos 07 anões. Zangado, Dunga e etc.
Na lenda de Papai Noel, os brinquedos que o bom velhinho distribui pelo mundo na noite de natal são feitos pelos seus ajudantes que são duendes.
Na filme a Fantástica Fábrica de Chocolate, nas duas versões, temos anõezinhos trabalhando arduamente no fabrico de guloseimas para as crianças. os Lumpas, inesquecíveis para quem assistiu a primeira versão.
No livro do Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley somos apresentados a criaturas localizadas na base da pirâmide social, responsáveis pelos trabalhos braçais. Os Semi-aleijões Ypsilon-menos, dos grupos gêmeos Bokanowiski, imbecis, felizes e dedicados.
Na base da pirâmide social da civilização de 1984 no livro de George orwell Temos os proletas trabalhadores de uniformes padronizados.
Acho muito parecido estas descrições com os gabirus  nordestinos, principalmente quando alguns  emigram para cidades grandes afim de prestar serviços pesados na contrução civil  e outros.
 Na historinha do Lobo Mau e os três porquinhos percebemos que os suinos apresentam os mesmos traços de um grupo de baixinhos muito parecidos entre si, dedicados a tarefas manuais. Estes porem não se mostram nada imbecis.


Um desenho  animado que eu adorava quando criança era o de uns duendinhos (OU GNOMOS?) azuis habitantes das florestas, moradores de casas/cogumelos, os smurfs que se assemelham muito nas características e atividades aos outros mostrados acima.



Já escapando das similitudes dos grupos apresentados, porém não muito,  temos no filme de George Lukas, aqueles baixinhos de capuz escuros que negociam andróides pelos desertos, os Jawas, muito parecidos com duendes fabricantes de presentes. Os Ewoks também lembram de longe duendes como os smurfes, os 07 anões, os Lumpas.  Mas lembram mais precisamente os pigmeus das florestas africanas.
Nas mitologias de muitos povos e em entretenimentos da atualidade temos este tema recorrente de grupos gêmeos anões ,habitantes de cavernas ou profundas florestas, ligados a atividades laborais físicas.
Inspirado na Teoria das castas  de Olavo de Carvalho e enquadrando estes seres do universo fantástico nesta classificação, acho que estes seres sejam uma estereotipia ou  uma intuição do supraconsciente coletivo de muitos povos e civilizações da natureza mesma dos tipos mais baixos nas pirâmides sócio-economicas de seus respectivos povos. Uma forma não racional, mais intuitiva de verem o esquema social de que fazem parte. Trolls e gnomos, ligados a mundos subterrâneos, mineiros, ferreiros e forjadores, são os trabalhadores das castas mais baixas, os sudras, os serviçais, os proletários, os escravos. Estas criaturas imaginárias são, evanescentemente, uma auto-imagem caricatural que culturas tem de suas classes, castas ou estamentos, ainda que uma lembrança distante e inconsciente.

Elfos =Arianos
Elfos = arianos?
Que Trolls e Gnomos são uma representação de nossos proletários é comprovado pelos seus igualmente fantásticos irmãos superiores, mais sutis que são os elfos e fadas. Mais inteligentes, habitates de mundos "aéreos", copas de árvores e não cavernas e escuras florestas. De traços mais finos, mais longilíneos, mais arianos, mais espirituais, são os brâmanes e  os guerreiros. Mais rarefeitos, menos indênticos, não dedicados a meter a mão na massa.
Um grupinho anão de gêmeos estupidos, prontos a obedecer ordens é um tema recorrente em muitos filmes e desenhos animados. Estes são os Gabirus. (Não me leve a mal , sou quase um).
São um reflexo pálido, esmaecido, do deus Vulcano, um lascado (feio e malformado) expulso das elites, habitante de submundos, de guetos, sobrevivendo as custas de seu dedicado trabalho manual. Uma autoprojeção da sociedade em representação de suas proprias classes.
Não sou marxista e creio que sempre existirão, pois faz parte da própria estrutura da realidade que uns sejam mais belos, mais inteligentes, consequentemente mais ricos que  outros. Alguns desenvolverão doenças psicológicas que os levarão às drogas, ao alcoolismo, à mendicância , inevitavelmente é a pobreza. É uma lástima!
"No meio de vocês sempre haverão pobres, enquanto eu não estarei sempre com vocês"
(João 12:8)
 Mesmo assim podemos esperar medidas para que oportunidades sejam oferecidas para ascenções sociais, não da maioria é claro, não tivemos por oito anos um Troll-gabiru presidente?
 Independentemente  de opiniões adversas,  o metalurgico que virou sindicalista, que se tornou presidente de uma república  é autor de um feito memorável! Parabéns Senhor Presidente! 
ABSOLUTUM.

Obs: O filósofo Olavo de Carvalho se refere no livro O Imbecil Coletivo a uma falsa casta sacerdotal, Brahmane


quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ENSAIO 01/2010

PSICOPOLÍTICA
Há muito venho observando que em crimes de ódio, crimes verdadeiramente de ódio e não em hiperbolismos politicamente corretos que hoje se atribui a um simples xingamento, existem duas modalidades, duas direções da "seta" da ação destruidora do autor do delito. Uma do conjunto para o elemento e outra do elemento para o conjunto. Por exemplo o crime do sul-coreano Cho Seung-hui é exemplo da parte que ataca o todo, o crime de um serial killer é um exemplo de um "todo" que ataca uma parte. Coloco entre aspas porque este "todo" significa uma introjeção psiquíca que o atacante padece. 
A um atacante, um franco-atirador chamamos assassino em massa, a um homicída que mata sequencialmente chamamos de obviamente serial killer. Percebi já há algum tempo que nestas duas modalidades de agressão existem algumas peculiaridades  que as diferenciam radicalmente, não só quanto ao fator matemático do número de vítimas,( o assassino em massa, procura destruir o maior número possível em uma menor duração de tempo, o psicopata clássico mata durante uma duração de tempo longa, apenas na maioria, uma vítima por vez.), mas também quanto as motivações individuais, os estados subjetivos do autor da façanha maligna, que percebi no dois casos serem antagônicas em um sentido "POLITICO", ou "ideológico."
Quero dizer aqui sentido político-ideológico não na direção cognitiva, racional, mas eminentemente emocional, passional. O assassino em massa tem motivações (motivações mesmo, de emoção) e não razões, que são em essência uma materialização de todo um discurso de ESQUERDA. No outro extremo o serial killer apresenta sentimentos no momento do ato ímpio que o coloca em sintonia com um discurso de DIREITA.
Vou explicar melhor mais a frente do que estou falando.
 Por isto então, baseados nestes significados políticos , tentaremos explicar metaforicamente uma ação causada por distúrbios psicológicos profundos(com componentes emocionais secretos é claro)  que causam estragos sociais e éticos consideráveis.
Denominei ao esquema de  classificação destes dois tipos de homicídas de PSICOPOLÍTICA, embora saiba que este termo já exista para designar  outros assuntos. A Psicopolítica como um mecanismo de classificação  de crimes de ódio apresenta os seguintes conceitos:
HOMICÍDIO PSICOPOLÍTICO.
Ato de matar pessoas por motivações de ódio extremo, já anterior a ação, de duração prolongada, cujo objeto de ódio não deu causa a ação, que devido as motivações PSICOSSOCIAIS do perpetrador se classificam em:
HOMICIDA DE DIREITA
É o serial Killer, o psicopata clássico, que sucumbiu aos vetores de forças sociais que agridem o indivíduo; ao jogo implicito de forças dentro de uma sociedade, que visa descriminar determinados individuos e premiar outros. O homicida de direita incorporou em sua psique o ódio a minorias, aos marginalizados, a parte defeituosa da sociedade, ele dá vazão as forças latentes na hierarquia social. Para comprovar minha tese bastar elencar as vitimas dos serial killers que são quase sempre esta parte frágil da sociedade. O dextro-homicida odeia o fraco, pois suas vítimas são mulheres, crianças, ou pessoas que portam alguma  peculiaridade  que a INDIVIDUALIZA, onde a morte desta vítima satisfaz alguma fantasia de poder do autor. O dextro-homicida psicologicamente simboliza a sociedade que se opõe ao indivíduo e desta forma se identifica com estruturas socais antigas como os espartanos que sacrificavam bebês defeituosos ou os nazistas que extermiram minorias e  elementos defeituosos da antiga alemanha. O dextro-homicida sucumbiu ao mecanismo do bode expiatório de que falou René Girard sobre a coletividade homicída e então, o mesmo, dá vazão de forma mais acentuada ao que existe de forma latente dentro do comunidade. Busque no Google ou outro mecanismo de busca pelo nome de psicopatas famosos  e trace o perfil de suas vítimas que na maioria se enquadrara no conjunto de pessoas problemáticas como homossexuais ou prostitutas, idosos e outros. Que os principais antagonistas de minorias (aparentemente)  sejam pessoas "à direita" do espectro politico engloba nosso dextro-homicida como um agente executor destas minorias em obediência as forças destrogênas
HOMICIDA DE ESQUERDA
O Sinistro-homicida será complementar e opositivamente então aquele que se vingará da agressão da comunidade/sociedade contra o indivíduo, sendo então sua ação o oposto da do dextro-homicida. Se este último aje, metaforicamente falando, de forma comprida e fina, ao longo do tempo, com uma vítima por vez, o dextro agirá de forma CURTA E GROSSA.
 Busque novamente no google sobre atentados em massa, incluindo o 11/09 e verá que o leitmotiv será a vingança contra a sociedade, o status quo, ou em casos de escala reduzida um maluco que se vinga da comunidade que o rejeitou, de uma empresa que na cabeça do pertubado seja a culpada pela sua falência socio-economica, ou de um escola que rejeitou um marginalizado. O sinistro-homicida é o bode expiatório vingador, quando o vetor agressivo vem da sociedade para este indivíduo, este ao invez de introjetar esta agressão , indentificar-se com as estruturas sociais e passá-la opressivamente para um mais fraco, volta-se contra toda a coletividade homicida. Geralmente em discusões ideologicas quando ocorre um crime os direitistas afirmam taxativamente que a culpa é quase toda do individuo, opositivamente os esquerdistas explicam que a responsabilidade pelo crime é da sociedade, o criminoso é absorvido como uma vítima da sociedade. Creio por intuição e não por estudo sistemático e atencioso que este quadro do forças é analógico a dinâmica, nas linhas causais, de homicidios praticados por assassinos em massa e assassinos seriais. Por dextro-homicidas que odeiam concentrada e individualmente e por sinistro-homicidas que odeiam expandida e coletivamente. Não tenho as qualificações nem tempo para examinar e estudar este assunto profundamente por isto levanto-o ensaísticamente sem provas para que alguem mais habilitado posso desvendá-lo com um estudo sistemático.
Gostaria de lembrar aqui que esta é uma classificação de motivos passionais, uma simplificação metodica, que não deve estravazar para o campo realmente político ou ideológico. Tomo os conceitos destas áreas e os usos como uma analogia de caráter psicológico apenas.
O Dextro-homicida se identifica com a sociedade agressora e ataca um individuo.
SOCIEDADE > INDIVIDUO
O Sinistro-homicida se identifica com o individo injustiçado pela sociedade e se vinga.
INDIVIDUO > SOCIEDADE
O filósofo Olavo de Carvalho diz que os criminosos em uma sociedade atualizam as tentências negativas que existem no coração do pacato cidadão  comum, uma forma dialética e longínqüa de possibilitar uma margem de manobra para que atenue o poder coercitivo da sociedade como um todo.
"Cada delinqüente, por definição, dá expressão física e manifesta às tendências malignas latentes na alma dos seres humanos em geral, inclusive os melhores deles. Nenhuma vítima de homicídio pode proclamar que o desejo de matar está totalmente ausente no seu coração
A diferença entre ela e o assassino não é de natureza, mas de proporção"

"Até um certo ponto, a inversão retórica é tolerável. Ela serve como um atenuante relativista da confiança que toda sociedade tem na sua própria bondade." (Inversão retorica e realidade invertida)


 Quando estas tendências negativas são atualizadas por um mecânico que estupra e mata meninos  ou por uma gangue alcoolizada que espanca e queima um mendigo ocorreu um dextro-homicídio, quando um demente vai a um cinema munido de uma pistola  e abre fogo em todas as direções sem discriminar ninguém, não está atacando um individuo e sim a sociedade e por isso ocorreu um sinistro-homicídio. Um homem-bomba é um sinistro-homicida. Jeffrey Dahmer que matava homossexuais, ou Jake, o estripador que matava prostitutas é o classico dextro-homicida.
É claro que este assunto está sendo abstraído idealmente e na dinâmica do mundo real às vezes os dois tipos estão fundidos como no caso de Hitler que exterminava "o judeu", "o cigano" ou o "homossexual" como um dextro e ao mesmo tempo como um sinistro-homicida atacava o sistema maior capitaneado pelos Estados Unidos. Ou como no caso de traficantes que queimam ônibus e aterrorizam a sociedade como um todo (sinistramente) ou vendendo drogas individualmente para crianças indefesas nas escolas(destramente).
Podemos dizer também , com respeito a Igreja,  dentro desta analogia, que a Inquisição obedecia a um comando dextro-homicida quando torturava e matava hereges individualmente, e a um comando sinistro-homicida  quando, nas cruzadas, saia para combater o mundo mal mouro.
E você? Odeia as partes ou o todo? Neste sentido em que estou falando, tem tendências sinistras ou destras?
Creio ter intuido algo digno de ser considerado atentamente.
ABSOLUTUM

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Sugestão: Se você se interessou por este ensaio veja este outro texto que faz uma espécie de reflexo invertido simétrico deste post:  HERÓIS DE ESQUERDA X HERÓIS DE DIREITA




Postando no corpo do texto mesmo:
Fernando...

Parece estar havendo problemas no sistema de comentário de seu blog. Tentei postar no PSICOPOLÍTICA o seguinte comentário:

Caro Ferando...
Excelente o texto, que dá início a possibilidades abrangentes de investigação.
Só contesto um único parágrafo, quase ao final, ao falar de Hitler, porque este não atacou um sistema capitaneado pelos EUA. Na verdade Hitler nunca teve intenção de atacá-los, mas sim apenas a Europa, e até o fim tentou uma trégua com as forças norte americanas para poder se concentrar contra os soviéticos. Acho que os nazistas ficam apenas no grupo dos Dextros.
Também não vejo os traficantes como "vendendo" drogas a inocentes. Eles as vendem a quem quiser, e puder, pagar. Além disso, incorporam em vários níveis um discurso de revolta contra a situação social, visto emergirem em geral de classes pobres. Creio que são basicamente Sinistros, tendo, por outro lado, uma "verve" comercial.
Atente para o fato dos dextro-homicidas serem sempre anônimos, e os sinistro sempre públicos, e veja que isso também pode ser relacionado a temas políticos mais abrangentes.
Sabemos claramente quem foram os revolucionários e os militantes de esquerda em geral, mas não quem foram exatamente os agentes da repressão.
E observando fóruns e brigas entre bandos de esquerdistas e direitistas, notem que os últimos lançam mão do anonimato com uma predominância muitíssimo maior.
Ou seja, mais um aponto para a sua análise, por o dextro, por encarnar uma representação da sociedade, se dilúi como indivíduo, agindo apenas como mais um instrumental do sistema. O sinistro, mais uma vez, afirma sua individualidade contra o sistema.
Mais uma vez, parabéns.
Marcus Valerio XR
www.xr.pro.br



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